11.13.2004

Os naufrágios nos filmes não são assim

Nos filmes americanos e europeus, se uma traineira naufraga à 1 da manhã é despoletado um SOS automático lançado pelo sistema de rádio de bordo com a localização da sua exacta posíção (via GPS).
De imediato as capitanias recebem o pedido de socorro e os helicópteros levantam para o local, onde chegam 10 a 15 minutos depois.
Com potentes faróis facilmente descobrem os náufragos quer pelo avistamento do salva-vidas insuflável com luzes intermitentes, quer pelos «flares» luminosos quer pelos feixes de luz emanados das lanternas especiais com que os coletes salva-vidas laranjas fluorescentes vêm equipados.
Um quarto de hora depois os náufragos são içados pelos cestos dos helicópteros e a história não passa de um grande incómodo e uma molha monumental fora de horas.
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Nos filmes de terror as traineiras não têm sistemas de rádio, muito menos GPS. Há apenas os telemóveis dos pescadores. Estes não trabalham com coletes, mesmo por insuflar, que dá mau jeito e custam dinheiro.
Se se dá um naufrágio ninguém sabe disso, portanto.
Passadas umas horas, quando os familiares acharem que os pescadores já deviam ter chegado e tal não tenha acontecido, começam a ligar para os telemóveis dos náufragos que, evidentemente, não funcionam dentro de água.
Também de pouco valia que funcionassem porque os meios de salvamento, de qualquer modo, só actuam com a luz do dia, como na época dos descobrimentos.
Nessa altura a hipotermia já não deixa ninguém em condições de ser salvo.
Portanto, inteligentemente, não há necessidade de se procurar seja o que for no mar. Fazem-se buscas apenas junto à costa (que fica, ainda por cima, muito mais barato), para se encontrarem os corpos - sempre a obsessão dos corpos em vez das vítimas - e, quando finalmente aqueles dão à costa, considera-se um êxito total da operação de salvamento.
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Acalmem-se, no entanto.
Este é um texto de ficção. Qualquer semelhança entre este filme de terror e a realidade portuguesa em 2004 d.C. é pura coincidência.

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