9.19.2014

O que é que se está a passar na Catalunha e na Escócia?





Movimentos separatistas talvez sejam esvaziados desta vez mas, se tudo continuar como está, não o serão por muito mais tempo.

As sondagens dão empate técnico aos movimentos separatistas escoceses e catalães. A Catalunha colocou ontem cerca de 2 milhões de nacionalistas nas ruas. O referendo do dia 9 de Novembro foi considerado ilegal mas os catalães não querem saber disso para nada.

O que é que se está a passar na Catalunha e na Escócia?

Para além das motivações politicas históricas - que no caso da Escócia se perde na bruma dos tempos e no caso da Catalunha tem mais de 300 anos - basicamente neste momento é o reconhecimento que são regiões que poderiam sobreviver sozinhas com grande vantagem para os residentes. Visto por outro prisma, eles acham que a riqueza produzida nos seus territórios está a ser desviada para pagar dívidas das regiões mais pobres. E que eles nada ganham com isso.

Como consequência desse "desvio", os nacionalistas consideram que estão a ser saqueados com impostos quando afinal são eles quem produz a riqueza do país onde estão inseridos.

A Escócia tem a maior reserva de Petróleo da Europa e uma base de submarinos nucleares para além de Edimburgo ser um dos maiores centros financeiros da Europa. Foi anexada ao território da Grã Bretanha há 300 anos. Sempre lutou pela sua independência. O filme Braveheart, com Mel Gibson, ilustra essa luta medieval contra a anexação inglesa.

A Catalunha vale, grosso modo, um quarto do PIB espanhol. Comparando com Portugal, que equivale apenas a 16% de Espanha, podemos dizer que a Catalunha vale um Portugal e meio.

Apesar de 60% da sua economia ser baseada em serviços, é uma das cinco regiões mais industrializadas da Europa. Lá estão sediadas 60% das empresas americanas e francesas instaladas em Espanha, além de grandes empresas como a Volkswagen, a Nissan e a Renault. Siemens, Sony e Microsoft.

Portanto, mesmo que se consiga esvaziar este movimento, agora, com uma derrota nos referendos - o escocês realizar-se-á para a semana - ele voltará novamente à tona da atualidade política europeia porque as condições da Escócia e da Catalunha não se modificarão nos próximos anos. Pelo contrário. Esta crise financeira, ainda sem fim à vista, veio evidenciar ainda mais estas desigualdades territoriais tanto na Grã Bretanha como em Espanha.

Ele há coisitas... Escócia, a TVI e o Braveheart

O Jornal das 8 da TVI vai apresentar de seguida um paralelo entre a tentativa de independência da Escócia, gorada ontem pelo resultado do referendo, e a luta do "Mel Gibson" no Braveheart.

Falei nisso, aqui, há uma semana. Exactamente a 12/9 numa crónica que pode ser acedida aqui, no meu mural.
De vez em quando tenho a impressão que alguém nas TVs lê as minhas crónicas. Mas é claro que não. Simplesmente o que faz sentido parta mim também o faz para outros. Muitos outros.

Em países instáveis quem ganha é o medo.


O resultado do referendo na Escócia trouxe à evidência o que há muito se sabia: que o equilíbrio aparente que se vive na Europa é tudo menos estável.

Os países do Sul estão ligados à máquina. Portugal, Espanha, Grécia e Itália já mostraram que não são capazes de se equilibrar financeiramente. Mas destes, 2 são gigantes e não querem saber disso para nada. A Grécia é protegida e a ela se permite tudo inclusive o não pagamento da dívida. E do último - nós - ninguém quer saber a não ser dos juros e do dinheiro que foi emprestado a preços draconianos.

Dentro do gigante espanhol,  a Catalunha está farta de contribuir para o resto do território e nada ganhar com isso. Será a convulsão que se segue.
Sulista, obscurantista e, neste aspecto, quase português, o governo espanhol não admite o referendo.

É pior.
Os espanhóis não são medrosos como nós e virão para as ruas fazer estragos.  E o referendo será realizado na mesma.

Mas não vale, diz o governo.
E depois?
Em Espanha o que vale é o que o povo ordena. Não é como aqui.

Não lhes reconhecem o referendo, preparem-se para chatices. 2 milhões delas.
Valia mais reconhecerem-no. Porque, na hora da verdade, a substancial parte medrosa do povo vem ao de cima. E vota contra o que não conhece.

Mesmo nos países mais instáveis da Europa o povo acaba por recusar o salto para o desconhecido.