Entregues que foram as listas dos 3 partidos a escrutínio, temos mais um parâmetro a avaliar. É, portanto, a altura de as analisarmos sob o ponto de vista daquilo que delas podemos esperar em termos da prossecução dos projectos apresentados.
Começo pela lista da CDU ou do que dela se conhece, uma vez que esta coligação não publicou as listas em lado nenhum. Pelo que sabemos da comunicação social, a diferença relativamente ao que se tem verificado nos anos anteriores é a candidata. Margarida Abrantes é uma sindicalista conhecida e foi ela que, na Assembleia de Freguesia de Seia, despoletou, com a sua demissão, a situação que se viria a verificar com a demissão do antigo presidente, todas as peripécias que se lhe seguiram e que culminaram com a nomeação do actual presidente. Margarida não é uma pessoa de meias tintas de modo que, se for eleita - e poderá vir a sê-lo - não pactuará com decisões com as quais não concorde. Pouco dada a abstenções votará por certo mais contra do que a favor a maioria das decisões. No extremo, se o desempenho do actual executivo for avaliado da forma que se ouve nas ruas (mas não o será, bem o sabemos) Margarida arrascar-se-ia a ser a futura presidente da Câmara num cenário 3;3;1. É, no entanto, um cenário pouco provável a esta distância, uma vez que as grandes fragilidades das listas do PS parecem ter sido surpreendentemente ultrapassadas pela da coligação PSD/CDS. Mas já lá vamos. A esta distância, repito, Margarida só será eleita se o descrédito na continuidade e na alternativa for tão grande como parece. Por isso ela pode mesmo ser eleita.
As listas do PS são as da continuidade, excepto a confusão da "perda" da Junta de S. Romão - que afinal é Seia quem a vai perder - que culminou no bater com a porta do vereador preferido de Carlos Filipe Camelo. Não estaremos a cometer nenhuma inconfidência nem a fazer nenhuma revelação bombástica ao dizer que Filipe Camelo apostava tudo no vereador Jorge Brito, que acabou por abandonar o barco em claro choque frontal com Paulo Caetano, porque não se sujeitou a ser relegado para uma posição inilegível na actual circunstância: o quinto lugar da lista, atrás da arma secreta para acalmar S. Romão, Luciano Ribeiro. E aqui a nebulosa adensa-se e a transparência de processos falha a todos os níveis.
Eis a história: depois da monumental barracada que foi a falta de resposta da Assembleia Municipal de Seia à nova lei do ordenamento do território, Lisboa dividiu o nosso território como quis, olhando para o mapa, onde não se vê relevo. É tudo plano no mapa que se estende sobre uma secretária. Vai daí, coisas inacreditáveis como a União de Cabeça à Vide aconteceram. Mas a culpa não foi dos burocratas de Lisboa. Foi dos políticos senenses que se demitiram das suas responsabilidades não dando resposta nem tendo feito qualquer proposta - que era obrigatória - ao reordenamento do território.
Seia, S. Romão e Lapa ficaram unidas. Teoricamente S. Romão e Lapa teriam perdido as suas juntas. Mas não. Na prática foi Seia e a Lapa quem as perdeu, porque o PS - tal como o PSD - com medo da perda do eleitorado de S. Romão, decidiram que a sede da Junta ficará nessa Vila.
Trata-se de um erro eleitoral crasso que demonstra que nem os nossos decisores actuais nem os seus concorrentes têm a visão política que deles se esperaria. De facto, Seia vale mais do dobro, em termos eleitorais, que S. Romão. Seia teve 3353 votos validamente expressos nas suas urnas, nas últimas autárquicas enquanto S. Romão teve apenas 1650. E mesmo esses 1650 foram divididos, pelo que o PS ganhou apenas com mais 235 votos que o PSD. Acontece que em Seia essa vitória foi equivalente, mas em termos percentuais ainda mais apertada. O PS ganhou com uma diferença ainda menor: 219 votos.
Ou seja: Não é de modo nenhum inteligente que, para não se perderem votos em S Romão se ponha em risco a vitória em Seia. Porque é certo que os eleitores de Seia reconheceram de imediato esse medo que os partidos revelaram do eleitorado de S. Romão e reagirão em conformidade. É inacreditável que tanto o PSD como o PS tenham revelado um semelhante pânico pela situação por eles criada e a tenham tentado minorar da pior maneira. E que demonstrem publicamente desta forma atabalhoada este respeito pelo eleitorado de S. Romão, estando a marimbar-se para o de Seia. Que é, apenas, o dobro.
É demasiado amadorismo. Demasiada falta de visão.
Esta é, por isso, uma das grandes incógnitas eleitorais. Quem tivesse a coragem de apostar na manutenção da junta em Seia - como seria lógico - ganharia de longe. Assim, foi Seia quem afinal perdeu a Junta - e não S. Romão - e isso pagar-se-á eleitoralmente tanto na vila como na cidade.
Para remediar esta barracada o PS lança-se na captura de um elemento de S. Romão para a sua lista. Nesse momento Jorge Brito ficou condenado. Não há lugar para todos e o elo mais fraco era ele. Porque não tem vaga de fundo em Seia, não é uma pessoa social por aqui, não tem nem muitos amigos nem suficientemente influentes para se bater contra uma vereadora popular nem contra um vereador que tem aqui as suas raizes e algum controle sobre o eleitorado católico. Restava-lhe ir em 4º mas isso não podia ser porque o PS está refem de S. Romão. Teria que ir em 5º. Isto foi claro como água para todos desde o inicio do processo excepto para Jorge Brito, o que demonstra a sua falta de traquejo político.
Aqui poderíamos também equacionar as reacções de desagrado que dentro do PS se fizeram notar pelas reuniões incendiárias e à revelia do partido que Luciano Ribeiro promoveu em S. Romão. Luciano chegou a estar afastado da lista, segundo alguns mentideros, mas o bom senso terá imperado e o actual presidente da junta de S. Romão lá foi repescado para as listas do PS.
Jorge Brito percebe finalmente que não tem lugar ilegivel e bate com a porta anunciando que nem na campanha irá participar. E tudo isto a apenas 3 dias da entrega das listas. Absolutamente surreal.
Tirando estes episódios S. Romanescos a lista é o que dela se esperava: simples continuidade.
Porém, agora que o verdadeiro motor da "onda" ecológica - com zero impacto junto das populações - se foi embora, espero que talvez se tenha arranjado espaço para o pragmatismo e para aquilo que de facto interessa às populações no seu dia a dia.
Já na lista da Assembleia Municipal há duas grandes novidades. Desde logo o seu presidente, André Figueiredo, o mais aguerrido elemento que o PS poderia ter escolhido. Uma aposta arriscada porque André tem muitos anti-corpos em Seia. Certo é que não vai dar descanso a uma oposição constituída por 95% de elementos que o serão pela primeira vez. O Dr Jorge Silva, nr 2, será provavelmente o elemento apaziguador no órgão. O resto da lista contem os mesmos de sempre, com a curiosidade de o antigo nr 2 - João Brás - que realmente segurou a AM durante o mandato anterior e de 2005 a 2009, época em que Pina Moura punha cá os pés apenas se lhe calhasse na viagem para Espanha, ter descido para 5º lugar.
Sobre a lista da coligação PSD/CDS há a dizer, em primeiro lugar que, de facto, não o é.
Trata-se do Partido de Albano Figueiredo (PAF) com umas cedências de lugares a João Mário Amaral. De facto, nenhum dos históricos do PSD, à excepção de Tenreiro Patrocínio, inclui as listas. Nem para a Câmara nem para a A Municipal. Não sei se isso é bom ou mau. Certo é que se há muita gente no PSD que afugenta quem os conheça, outros haverá que seriam pessoas de grande importância e peso político. Já nem falo do antigo candidato que conseguiu um resultado belíssimo contra todas as expectativas... Queriam-no para presidente da Junta o que - convenhamos - é quase um insulto.
Uma vereadora aceitou ir em 5º lugar na lista para a AM e a outra nem sequer foi convidada para coisa nenhuma. De todos os novos propostos para a Assembleia Municipal apenas um vem do mandato anterior. Uma autêntica revolução antendendo ao histórico do partido em Seia. As coisas só podem correr muito bem ou muito mal ao Partido de Albano Figueiredo (PAF). Sendo certo que, a menos que os resultados sejam uma hecatombe (e não serão como explicarei adiante) AF não despegará desta sua luta e mesmo que perca este ano, daqui a 4 anos aqui o teremos novamente a tentar.
Parafraseando Eduardo Brito: "Quem sai da sua zona de conforto para empreender esta luta está determinado. Não desistirá como outros fizeram".
Tratando-se de listas de pessoas que - excepto Patrocínio - nunca andaram nesta lides, não se sabe o que se delas pode esperar, o que pode ser uma vantagem. Tenreiro Patrocínio é um senense de grandes capacidades, embora pouco reconhecidas. O seu discurso de apresentação foi bastante mais interessante que o do candidato - mas isso aconteceu tembém no PS - e mostra ser uma pessoa activa e atenta ao que se passa na sua Terra. Os outros não conheço. E pouca gente os conhecerá. Albano Figueiredo já mostrou que é uma pessoa ambiciosa e, embora com outro estilo, aguerrida como o seu cunhado André Figueiredo. Em todo este processo demonstrou uma liderança inquestionável. Enquanto Filipe Camelo foi submeter a sua lista à Comissão política, a Albano Figueiredo isso não passaria pela cabeça. É tudo à sua maneira. A comissão política, os candidatos, tudo. E a todos usa e coloca como quer. Líder não se pode dizer que não seja.
Uma coisa que me admirou foi a quantidade de listas conseguidas: 16, embora algumas delas sejam nitidamente listas para cumprir calendário. Outras foram formadas por auto-geração nas freguesias, o que demonstra a vontade que as populações têm em constituir-se alternativa ao status quo. Este é um sinal positivo para esta candidatura e preocupante para o PS que avança, basicamente, freguesias adentro com os mesmos de sempre ou seus sucessores, por imposição legal. Esta será outra incógnita até ao fim. Até que ponto as listas de auto-geração conseguirão bater-se contra as listas do aparelho PS?
As pessoas estarão realmente "fartas de serem enganadas", como diz Margarida Abrantes?
A verdade é que só "engana" quem ganha as eleições. Quem as perde não tem oportunidade de enganar ninguém...
Para a AM Albano indigita João Mário Amaral (CDS). Cidadão muito conhecido e activo, que faz da Associação de Artesãos o seu paradigma. Talvez por força desse contacto muito directo com muita gente, também ele tem sido alvo de muitas críticas no meio. Mas com obra feita. E diariamente. Não se pode agradar a toda a gente e é mais fácil desagradar a muitos do que o contrário. Eu que o diga. Quando se é directo e frontal arranjam-se inimigos com grande naturalidade. Apesar disso J Mário Amaral tem feito um trabalho notável na promoção do artesanato da Serra da Estrela e isso há muito poucos que o possam negar.
De resto a lista é constituída por ilustres desconhecidos exceptuando a ex-vereadora Lúcia Leitão que é independente. Todos os demais, tirando Paulo Barata, são novos e os antigos foram arrumados na gaveta. Pouco se pode dizer sobre estes novos candidatos. Paulo Barata é um conhecido professor agora sindicalista com uma visão real do ensino e da sociedade em geral. Boa e sólida argumentação. É um bom parlamentar. Fará um bom trabalho.
O cenário actual afigura-se-me, pois, este.
Gente nova no Partido de Albano Figueiredo (PAF) e gente "batida" nas listas do PS. Não digo do Partido de Filipe Camelo de propósito. Porque justamente isso tem a ver com a tão falada "liderança" que é uma das pedras de toque de Albano Figueiredo, que não se cansa de acusar o seu oponente de falta dela.
A verdade é que uma cena similar à que ocorreu com o ainda vereador Jorge Brito, no Partido de Albano Figueiredo, seria inadmissível.
Pela simples razão de que, como já referi, nem a ele lhe passaria pela cabeça submeter a sua lista à aprovação de quem quer que fosse, como fez Filipe Camelo.
Por outro lado é agora cada vez mais claro que se fosse Luís Caetano, Tenreiro Patrocínio ou até mesmo Nuno Vaz o candidato, este ano, as coisas ficariam muito mais fáceis para o PSD. Mas lá está: não é o PSD quem concorre este ano. É o PAF.
Vamos assistir, portanto, à forma como o jovem PAF se baterá contra a máquina bem oleada do PS
Será um David contra Golias?
a oleada do PS.