6.23.2013

Evolução demográfica de Seia desde 1800 até 2011.


Evolução demográfica de Seia desde 1800 até 2011. 

A população tem decaído significativamente nas últimas 5 décadas sendo que a maior queda se registou na última.

Como se pode ver no gráfico ao lado, o maior declive corresponde à última década.

O que não augura nada de bom para o Concelho.
Neste gráfico tem-se uma ideia global e a recente perda, no tempo, aparece mais difusa.
No entanto ela é tanto mais dramática quanto é certo que os dados não reflectem a realidade.

Neste momento haverá já milhares de habitantes que não residem em seia, uma vez que emigraram em grande número. 

Praticamente todos os meus alunos de há 5 anos emigraram embora apareçam nas estatísticas como residentes ainda em Seia e em Portugal. 
A debandada do último ano, por estas paragens, é algo que só daqui a 20 ou 30 compreenderemos. 
Os Census de 2011 indicam que no Concelho de Seia habitariam 24,7 mil pessoas. Já isso era falso. E hoje, na realidade, não devemos ter mais do que 18 mil pessoas em todo o concelho. 
Se as tivermos...


Comparação da evolução demográfica entre as cidades da Covilhã e a Guarda.


Nela se pode identificar o efeito dramático do colapso dos têxteis na Covilhã e o seu estancamento através de políticas que foram levadas a cabo no sentido correcto.

Em Seia, por exemplo, o mesmo fenómeno se verificou mas esse estancamento não se conseguiu.

A Covilhã mantem a população sobretudo devido à sua Universidade (1979 /1986) que trouxe 8 mil alunos residentes (BOM indicador); enquanto a Guarda sobe ligeiramente devido ao despovoamento galopante das aldeias e cidades vizinhas (MAU indicador).

A perda de gente por falta de emprego leva à perda de emprego por falta de gente



Analisemos esta redundância fatal: a perda de gente (no interior) por falta de emprego implica a perda de emprego (dos que ainda existem) por falta de gente (clientes, utentes, em cada Terra).

Com efeito, se um jovem não encontra emprego na sua Terra nem nas limítrofes, forçosamente a abandonará para procurar Vida noutras Terras. Em princípio nas maiores, onde a oferta de emprego é maior, porque aí há mais clientes / utentes.

Este fluxo de sangramento dos jovens - que constitui toda a esperança da manutenção de Vida nas cidades do futuro imediato - aliado à morte cada vez mais rápida dos idosos e doentes que se furtam aos tratamentos nas fases iniciais das doenças por os não poderem pagar, tem como consequência o rápido esvaziamento do interior.

Que só poderia ser compensado com imigração. A imigração, entretanto, estancou por não haver empregos.

Resta o turismo sazonal e o turismo sénior residente. Mas não há atractividade quer para um quer para outro.

Quem se preocupa com isso, como é o meu caso, acaba por ver os seus projectos jazerem nas gavetas dos decisores públicos ou privados. Parece que ninguém percebe que, se nada se fizer, o interior não tem futuro nenhum. Mas nem sequer um futuro a regredir... Não terá nenhum em 5 décadas.

Em 2 décadas apenas perder-se-ão todos os serviços, de que os CTT são apenas o pioneiro.

Depois serão os bancos, as companhias de seguros, os Tribunais e as repartições públicas. Fecham os restaurantes, bares e escolas - não há jovens - e a consequência final é a perda do estatuto municipal, que terá que ser associado a mais outro município, pelo menos.

O cenário está montado.
Jovens não nascem. Os que nascem vão-se embora para as grandes cidades. Só fica na terra quem não estuda, ou seja: os menos qualificados.

Os idosos, com o roubo nas reformas, as taxas moderadores e o aumento do custo dos medicamentos e transportes, são apressados à cova mais rápido do que Gaspar consegue dizer "boa noite".

O cenário é um só: dentro de 2 a 5 décadas o interior fica totalmente despovoado.

O que há a fazer?
1 - deixar a natureza seguir o seu curso e aceitar - que é o que parece estar a fazer a maioria dos autarcas - e trabalhar para os que resistem;
2 - lutar para que este processo de despovoamento galopante se inverta.

E como lutar?

Apostando na única indústria que entrega os seus produtos no local e que os vende repetidamente a milhões sem necessidade de fabricar novos: o turismo.

Outras empresas não se atraem para o interior. As últimas 2 décadas mostram-no bem.
Pontualmente, novas empresas de índole agrícola poderão contribuir para uma retenção (familiar) na região. Mas a banca não empresta dinheiro - dentro de uma década também ela abandonará o interior - e tudo terá que ser feito de forma artesanal o que leva a que essas empresas não singrem como deveriam e poderiam.

Só as empresas voltadas para uma vertente turística poderão singrar. Mesmo essas terão que ter gente com grande qualidade a geri-las.

A crise aliada à propaganda da poupança - que se destina apenas a que o cidadão invista na banca - são o garrote rápido do país.

Pinhel anuncia a morte esperada do interior.

O caso de Pinhel é paradigmático e deve ser um case-study do despovoamento. 

O seu decaimento é notável e matemático. 
Pinhel tem perdido sempre cerca de 1500 habitantes por década há 3 décadas seguidas. Desde 1980.

Como é isto possível? E quando parará esta recta regressiva para a morte? 

A equação da recta da morte de Pinhel é da forma: y = -157x + 14328 se considerarmos o eixo das ordenadas (y) no ano 1981. 
O seu declive (m) é negativo e obtido pelo coeficiente entre o nr de cidadãos que se perdem por década (1567) e o nr de anos da década (10). 
Resolvendo esta equação simples, fazendo y = 0 (zero pessoas) vem-nos para a abcissa x o valor de 9,1. Conclusão: não haveria ninguém em Pinhel 91 anos após 1981.
Quereria isto dizer que se nada se fizer e tudo continuar assim, Pinhel teria zero pessoas no ano 2072, daqui a 59 anos. 

Se este cenário não é realista, por longínquo, mais próximo de nós é a conclusão intermédia: que daqui a 30 anos Pinhel terá metade da população de hoje (4800 pessoas, quando em 1960 tinha 20 mil!) e portanto já não tem vida. 

A lei da extinção das cidades obedece sempre aos mesmos parâmetros sequenciais: perda de gente por falta de emprego implica a perda de emprego por falta de gente. 
 A oferta de produtos (comércio e serviços) diminui por falta de gente - a que se segue mais desemprego e despovoamento. 

Quando é que esta "espiral" recessiva se estanca? 
Quando se conseguir o equilíbrio entre o nr de empregos e o nr de pessoas. Como acontece em Manteigas. Por volta das 2 a 3 mil pessoas. 
Nessa altura tudo se ajusta. A pouca oferta e a pouca procura. Se descer abaixo dos 3 mil de Manteigas estaremos em presença de um cancro demográfico e a Vila ou Cidade correrá o risco de ficar MESMO sem pessoas. Vilas e cidades serão transformadas em quintas praticamente abandonadas, como acontece hoje em muitas cidades chinesas dado o êxodo das populações para os centros industriais.

Os números demográficos indicam-nos que estamos perigosamente desse limite em muitas cidades e vilas do interior.

Como ler os resultados anteriores? O que nos vai acontecer nas próximas 3 a 5 décadas?

Pontos importantes para se perceberem as conclusões e projecções anteriores: 

1 - As conclusões que se apresentam não são mais que o resultado lógico das tendências que se têm verificado nos últimos 20 anos, cruzadas com as tendências dos últimos 10, cálculo que depois é afinado com um coeficiente que varia de 1,5 a 2, de acordo com o despovoamento que se tem verificado nos últimos 2 anos, e especialmente em 2013, ano em que ele tem sido simplesmente catastrófico. 

2 - É óbvio que a partir do limiar de sobrevivência de cada Terra, um de dois caminhos pode ocorrer: ou o efeito Manteigas ou o efeito Mêda. O efeito Manteigas explica-se pelo isolamento geográfico. As pessoas são muito poucas, há poucos empregos, as cidades vizinhas estão longe, as coisas ficam ali cristalizadas. Pouca gente precisa de pouco emprego. A Câmara Municipal e mais 4 ou 5 serviços resolvem o problema de emprego. Não reprodutivo, mas é emprego. O problema é quando o governo achar que não se justifica uma Câmara Municipal para uma população de 3000 munícipes. Depois há o efeito Mêda. As pessoas têm boas estradas e vão-se embora. 

3 - Extintas as Câmaras Municipais será a machadada final no pouco emprego que ainda exista. É claro que não se justifica que em pequenas vilas e ex-cidades trabalhem centenas de pessoas nas Câmaras Municipais. É absurdo, mas era emprego. Daqui a 10 anos não existirão metade ou até mais das Câmaras Municipais de hoje. Seia, Gouveia e Oliveira terão apenas uma Câmara. Nelas e Mangualde também. Celorico e Fornos também. Sem gente não se justificam as Câmaras Municipais. 

4 - Passadas mais 2 a 3 décadas (5 ao todo) fundir-se-ão todas essas associações de municípios em 2 ou 3 em todo o distrito da Guarda. Nessa altura viverão por aqui pouco mais que a população da cidade da Guarda de hoje. O distrito terá 40 mil pessoas ao todo. Seia terá 6 mil. Gouveia 3. Mêda, Foz Coa, Figueira CR, Fornos, Trancoso, Celorico, Sabugal terão populações residuais. Sobretudo idosos e estrangeiros que virão para aqui descansar. 

5 - a única indústria será o turismo. Espero que não seja o turismo mexicano em que as pessoas se vestem de pastores para pedir um euro por fotografia aos turistas. 

6 - As terras verdadeiramente nunca se despovoarão a 100%. Mas a sua importância enquanto urbe será zero nos prazos calculados. Teremos dezenas de cidades semelhentes às aldeias de hoje. Casas fechadas, não se verá ninguém nas ruas nem sequer automóveis. 

É uma fatalidade? 
Se não se começar a trabalhar a sério numa oferta turística variada e aliciante, sim. 

O meu projecto para Seia é este: 

http://joaotilly.blogspot.pt/2013/05/resumo-do-projecto-interactivo-de.html