Analisemos esta redundância fatal: a perda de gente (no interior) por falta de
emprego implica a perda de emprego (dos que ainda existem) por falta de
gente (clientes, utentes, em cada Terra).
Com efeito, se um jovem não encontra emprego na sua
Terra nem nas limítrofes, forçosamente a abandonará para procurar Vida
noutras Terras. Em princípio nas maiores, onde a oferta de emprego é
maior, porque aí há mais clientes / utentes.
Este fluxo de
sangramento dos jovens - que constitui toda a esperança da manutenção de
Vida nas cidades do futuro imediato - aliado à morte cada vez mais
rápida dos idosos e doentes que se furtam aos tratamentos nas fases
iniciais das doenças por os não poderem pagar, tem como consequência o
rápido esvaziamento do interior.
Que só poderia ser compensado com imigração. A imigração, entretanto, estancou por não haver empregos.
Resta o turismo sazonal e o turismo sénior residente. Mas não há atractividade quer para um quer para outro.
Quem se preocupa com isso, como é o meu caso, acaba por ver os seus
projectos jazerem nas gavetas dos decisores públicos ou privados. Parece
que ninguém percebe que, se nada se fizer, o interior não tem futuro
nenhum. Mas nem sequer um futuro a regredir... Não terá nenhum em 5
décadas.
Em 2 décadas apenas perder-se-ão todos os serviços, de que os CTT são apenas o pioneiro.
Depois serão os bancos, as companhias de seguros, os Tribunais e as
repartições públicas. Fecham os restaurantes, bares e escolas - não há
jovens - e a consequência final é a perda do estatuto municipal, que
terá que ser associado a mais outro município, pelo menos.
Jovens não nascem. Os que nascem vão-se embora para as grandes cidades. Só fica na terra quem não estuda, ou seja: os menos qualificados.
Os idosos, com o roubo nas reformas, as taxas moderadores e o aumento do
custo dos medicamentos e transportes, são apressados à cova mais rápido
do que Gaspar consegue dizer "boa noite".
O cenário é um só: dentro de 2 a 5 décadas o interior fica totalmente despovoado.
1 - deixar a natureza seguir o seu curso e aceitar - que é o que parece
estar a fazer a maioria dos autarcas - e trabalhar para os que
resistem;
2 - lutar para que este processo de despovoamento galopante se inverta.E como lutar?
Apostando na única indústria que entrega os seus produtos no local e
que os vende repetidamente a milhões sem necessidade de fabricar novos: o
turismo.
Pontualmente, novas empresas de índole agrícola poderão contribuir para
uma retenção (familiar) na região. Mas a banca não empresta dinheiro -
dentro de uma década também ela abandonará o interior - e tudo terá que
ser feito de forma artesanal o que leva a que essas empresas não singrem
como deveriam e poderiam.
Só as empresas voltadas para uma vertente turística poderão singrar. Mesmo essas terão que ter gente com grande qualidade a geri-las.
A crise aliada à propaganda da poupança - que se destina apenas a que o cidadão invista na banca - são o garrote rápido do país.
Sem comentários:
Enviar um comentário