9.25.2002

Portas sem helicópteros e helicópteros sem portas

(publicado no Expresso Online - leitor com opinião)

Até dói reconhecer que, neste país, quem cumprir a lei é, no mínimo, tótó.
O Ministro de Estado vem à televisão com toda a naturalidade do mundo informar que cometeu apenas um singelo crime fiscal: o de pagar por baixo da mesa, fugindo e fazendo fugir os seus credores a todos os impostos devidos.
Até aqui tudo normal para um ministro de um país do hemisfério sul.

Mas num heróico instinto de fuga para a frente mais se queixa, com a voz embargada pela actuação, que tudo isto lhe está a acontecer porque teve a coragem de anular o concurso dos helicópteros...

O ministro, imaginando que Portugal é uma quinta dos Sacadura Cabral, está consciente que pode lançar as maiores suspeições sobre tudo e todos, sem ter que o justificar nem identificar os virtuais criminosos.
Se o Ministro fosse um arrumador de carros ou um indigente, ninguém por certo o condenaria.
Mas apesar do que parece, ele ainda é um Ministro de Estado…
E se há interesses instalados nas Forças Armadas que ficaram melindrados com a não-vinda (para já) dos 10 helicópteros, também não será menos imprópria a seguinte especulação, fruto apenas da minha etérea imaginação:

Quem comprou os Helicópteros? Ele, não.
Quem recebeu as luvas (se preferirem chamemos-lhes comissões) na hora da adjudicação?
E 3% de 210 milhões quanto dá?
E já agora, quem iria pagar efectivamente a encomenda?
Será que os fornecedores se disporiam a gratificar novamente o cliente, só porque mudou o tesoureiro?

Penso que será do agrado de todos esta solução mais-que-batida em toda a parte do terceiro mundo quando toca a negócios de milhões e que é a seguinte: o fornecedor nunca entrega nada da encomenda, de comum acordo com o cliente, que por sua vez faz actuar as cláusulas indemnizatórias, com suspensão imediata do negócio.
Informa-se a população de que o negócio acabou e as razões pelas quais se interrompeu: Incumprimento de prazo de entrega. O povo respira de alívio, pensando que o ministro até lhe poupou uns tostões.

Entretanto passam-se 6 meses e o ministro fará saber em conferência de imprensa, com toda a pompa e circunstância, que depois de extenuantes e penosas negociações ocorridas durante largos meses na República Dominicana e nas Seichelles, o fornecedor aceitou compensar o Estado em 2 ou 3 milhões de contos pelo atraso verificado, e que nestas novas condições o Estado adquirirá finalmente os rotativos poupando, de facto, esse dinheiro.

Palmas! Ovações! Eférriás!
O ministro sai como um herói, o negócio concretiza-se na mesma e vai-se a ver... afinal não se verifica a tal diferença no preço total, que curiosamente passa até a ser algo superior porque entretanto se detectou que são necessárias algumas peças sobressalentes (hélices, portas, rodas, etc) não previstas aquando do negócio dos socialistas...

Lá se vai o "cacau" todo previsto no negócio inicial e mais algum.

Os fornecedores, agradecidos ao novo e magnânimo ministro, oferecem-lhe uma torradeira eléctrica como lembrança, porque de varinha mágica o ministro já está servido.

joao.tilly@netvisao.pt


25/9/2002


9.23.2002

Um MINUTO de silêncio...

Passado um ano sobre esse acto terrível, fizemos um minuto de silêncio pelos 3.000 americanos assassinados cobardemente por terroristas em 11 de Setembro de 2001.
Agora, pela mesma ordem de razões, devemos fazer:

VINTE E TRÊS MINUTOS de silêncio em homenagem aos 70.000 civis japoneses chacinados no bombardeamento a Hiroshima.

TREZE MINUTOS de silêncio em homenagem aos 40.000 civis japoneses pulverizados no bombardeamento a Nagasaki.

TRINTA E TRÊS MINUTOS de silêncio pelos 100.000 civis cambodjanos que morreram nos bombardeamentos ordenados por Nixon por sugestão de Kissinger.

QUATRO HORAS E VINTE E OITO MINUTOS de silêncio para homenagear os 750.000 civis norte vietnamitas que morreram nos bombardeamentos sistemáticos consecutivos à sua Pátria.

QUARENTA E TRÊS MINUTOS de silêncio pelos 130.000 civis iraquianos mortos em 1991 por ordem de Bush pai, por sugestão da Erron, hoje falida.

UMA HORA E QUARENTA MINUTOS de silêncio pelos 300.000 civis palestinos massacrados por Israel, à revelia de dezenas (todas até hoje) de deliberações da ONU, com armamento e apoio americanos.

UMA HORA E DEZ MINUTOS de silêncio pelos 200.000 Iranianos e Curdos mortos pelo Iraque com armas e dinheiro dados a Hussein pelos mesmos AMERICANOS que mais tarde se tornariam seus inimigos..

CINQUENTA MINUTOS de silêncio pelos russos e os 150.000 afegãos mortos às mãos dos Taliban, também com armas e dinheiro dos EUA.

CINQUENTA MINUTOS de silêncio pelos 150.000 mortos pelas tropas americanas na Invasão ao Panamá.

E mais CINQUENTA MINUTOS de silêncio pelos 150.000 inocentes nos bombardeamentos americanos ao Kosovo.

Fazendo isso, ficaríamos em silêncio ONZE HORAS e QUARENTA MINUTOS, deixando de fora dezenas de "missões" militares americanas oficiais e camufladas desde a Arabia Saudita a Cuba.
Portanto, UM MINUTO por TRÊS MIL americanos.
ONZE HORAS E QUARENTA MINUTOS por DOIS MILHÕES E QUARENTA MIL PESSOAS.

Nota final: Apesar de este presidente Bush ostentar um QI que, da última vez que foi medido, se situava 40 pontos abaixo do normal para um cidadão americano (segundo a revista Newsweek), ultrapassando na História Americana recente somente o pai que se situava apenas 20 pontos abaixo do normal, numa coisa ambos têm toda a razão: há que erradicar o terrorismo no mundo.