5.20.2002

Portugal Loro Sae

Aarons de Carvalho, Jorge Coelho, e Marques Mendes – eis os três gigantes Homens Políticos que, paulatina e orgulhosamente, conseguiram reduzir a RTP, e tudo onde tocaram, à sua expressão mais simples.

O primeiro, em pânico, desmarca-se agora acusando o seu chefe e tutor (António Guterres) de nada ter ligado à Televisão.

Os segundos e terceiros, calados como ratos, esperam que a crise passe.

O povo discute, entretido e entretanto, o Conselho de Opinião e a lesão do Figo.
Deve ter poderes? – o primeiro
Vai estar a 100%? – o segundo

Ora está tão claro como a água do Trancão que:
O Conselho de Opinião (porque, pelos vistos também há conselhos que nunca emitem opinião nenhuma) deve ter os mesmos poderes dos Conselhos de Opinião da TAP e da CP falidas.
Ou seja: zero.

Por seu turno, o Governo que dirige o destino da Nação (porque também houve governos que nunca o dirigiram) deve ter as mesmas responsabilidades de todos os anteriores, pela delapidação do património da RTP, e pela nomeação das Administrações que a destruiram ao longo de 12 longos anos.
Ou seja, zero.

Os trabalhadores e os contribuintes (porque a maior parte também foge ao fisco o quanto pode) devem continuar a pagar os milhões todos que forem necessários para que os governantes e os conselheiros possam continuar a transferi-los para as empresas dos amigos.
Ou seja, como sempre.

Marques Mendes deve continuar a rir-se porque conseguiu, sozinho, provocar um prejuízo de 63 milhões de contos à RTP ao oferecer os emissores ao amigo Murteira Nabo que os alugou, à mesma RTP, anualmente, ao preço da compra - por especial favor - altruismo ímpar que todos os portugueses deveriam, se fossem reconhecidos, agradecer.

Jorge Coelho, o grande impulsionador da sócia-lista e o equivalente beirão do padrinho D. Corleone, deve continuar em impávido low-profile. Dá ideia que não é nada com ele, que nunca tutelou a RTP nem nomeou nenhum conselho de administração que contratasse nenhum Rangel, e, no fundo, até temos que lhe dar razão.
Pois se nada lhe aconteceu na sequência da catástrofe de Entre-os-Rios, porque é que iria acontecer agora?

O Ministério Público, por sua vez, deve continuar a fazer jus à justiça que temos, continuando a não processar ninguém e os Juízes a não mandarem prender preventivamente estes grandes vultos da nossa política que, firmes e hirtos à espera que a crise passe, confiam, como sempre, na memória, digo, na "vaga ideia" nacional.

Figo deve continuar a filmar os anúncios para todas as marcas que existem e, nas horas vagas, a jogar futebol.

Em Seia, Serra da estrela, deve continuar a ser proibido adoecer ao domingo.
É o dia de folga do laboratório do Hospital e por isso, de cada vez que for necessária uma mera análise à urina, que demora 15 segundos, lá vai mais uma ambulância e dois bombeiros para Coimbra, passar o dia.
Pagam os mesmos.

Os portugueses devem continuar a compreender as prioridades dos governantes e governantas, e hão-de reconhecer que depois de tanta centena de milhões de contos dos seus impostos investida na TAP, RTP, CP e agora nos novos estádios e suas acessibilidades, é evidente que não pode haver nem mais uma migalha esbanjada na Saúde, Educação e Segurança Social. É que ele, efectivamente, não estica…

Em suma: Para que se continue a cumprir Portugal Loro Sae é fundamental que o povo, na sua infinita sabedoria, continue a preferir o futebol à saúde, e Fátima à escola.

20/05/2002
João Tilly