As 5 leis fundamentais da estupidez humana.

Aqui estão excertos de um pequeno livro que deveria fazer parte do conhecimento de todos, já que nos levaria a compreender muitas coisas à primeira vista inexplicáveis, com que nos deparamos todos os dias. 

Entre elas explica-se porque os políticos optam, preferencialmente, pelo caminho corrupto e explica também a razão pela qual as pessoas os elegem. 

Tudo tem a ver com as leis fundamentais da estupidez humana. Por Carlo M. Cipolla (1922-2000), historiador de economia, professor na Universidade de Berkeley e na Escola Normal Superior de Pisa. 
Um esforço construtivo para investigar, conhecer e possivelmente, neutralizar uma das mais poderosas e obscuras forças que impedem o crescimento do bem-estar e da felicidade humana. 


RESUMO 

Para estabelecer as leis fundamentais da estupidez, é preciso, definir quem é o estúpido. 
Para isso, ajudará a comparação com outros tipos de gente.

Diz o autor que, quando temos um indivíduo que faz algo que nos causa uma perda, mas lhe traz um ganho a ele, estamos a lidar com um bandido.
Se alguém realiza uma acção que lhe causa uma perda a ele e um ganho a nós, temos um ingénuo. Quando alguém age de tal maneira que todos os interessados são beneficiados, estamos em presença de uma pessoa inteligente
Quando alguém faz algo que provoca maiores perdas aos outros que o seu próprio ganho, estamos perante um bandido estúpido

A capacidade devastadora do estúpido está ligada, evidentemente, à posição de poder que ocupa. "Entre os burocratas, os generais, os políticos e os chefes de Estado, é fácil encontrar exemplos impressionantes de indivíduos fundamentalmente estúpidos, cuja capacidade de prejudicar é ou se tornou muito mais temível devido à posição de poder que ocupam ou ocupavam. 

E também se não deve esquecer os altos dignitários da Igreja.
Os estúpidos não são os incultos, já que pessoas que não tiveram oportunidade de estudar são simplesmente ignorantes, mas podem ser pessoas perfeitamente sensatas (embora sempre propensas a cair no risco de resvalar na idiotice ou na estupidez). 

Carlo Maria Cipolla é absolutamente categórico: estúpidos podem ser encontrados nos meios universitários, e até mesmo entre os prémios Nobel


Introdução 

As actividades humanas encontram-se, por unânime consenso, em um estado deplorável. Esta, no entanto, não é uma novidade. Olhando para trás até onde podemos, elas sempre estiveram em um estado deplorável. 
O pesado fardo de desgraças e misérias que os seres humanos devem suportar, seja como indivíduos, seja como membros da sociedade organizada, é substancialmente o resultado do modo extremamente improvável – e ouso dizer estúpido – pelo qual a vida foi organizada desde os seus inícios. 

Desde Darwin, sabemos que partilhamos a nossa origem com as outras espécies do reino animal, e todas as espécies, sabe-se, da lombriga ao elefante, devem suportar a sua dose quotidiana de atribulações, temores, frustrações, penas e adversidades. 
Os seres humanos, todavia, têm o privilégio de terem de se sujeitar a um peso adicional, a uma dose extra de atribulações quotidianas, causadas por um grupo de pessoas que pertencem ao mesmo género humano. 

Este grupo é muito mais poderoso que a Máfia ou que o Complexo industrial-militar ou que a Internacional Comunista. É um grupo não organizado, que não faz parte de nenhuma hierarquia, que não tem chefe, nem presidente, nem estatuto, mas que consegue ainda assim operar em perfeita sintonia como se fosse guiado por uma mão invisível, de tal modo que as atividades de qualquer membro contribuem potencialmente para reforçar e amplificar as atividades de todos os demais. 
A natureza, o caráter e o comportamento dos membros deste grupo são o argumento das páginas que seguem. 

É necessário salientar neste ponto que este ensaio não é fruto de cinismo nem um exercício de derrotismo social – não mais do que o é um livro de microbiologia. As seguintes páginas são, de facto, o resultado de um esforço construtivo para investigar, conhecer e portanto, possivelmente, neutralizar uma das mais poderosas e obscuras forças que impedem o crescimento do bem-estar e da felicidade humana. 


1º Capítulo – 1ª Lei Fundamental 

A 1ª Lei Fundamental da estupidez humana afirma sem ambiguidade que: 

1ª - Sempre - e inevitavelmente - cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação¹. 

À primeira vista esta afirmação pode parecer trivial, ou óbvia, ou até mesquinha, ou mesmo todas as três coisas juntas. No entanto, um exame mais atento revela plenamente a sua realista veracidade. Considere-se o que segue. Por mais alta que seja a estimativa quantitativa que alguém faça da estupidez humana, resta-se repetidamente e recorrentemente espantado pelo fato de que: 
- (a) pessoas que julgávamos no passado como racionais e inteligentes revelam-se depois, subitamente, inequívoca e irremediavelmente, estúpidas; - 
(b) dia após dia, com uma incessante monotonia, vêmo-nos dificultados e obstruídos em nossas próprias atividades por indivíduos teimosamente estúpidos, que aparecem repentina e inesperadamente nos lugares e nos momentos menos oportunos. em relação ao total da população: qualquer estimativa numérica resultaria em uma subestimação. 
Por isto, nas páginas seguintes denotar-se-á a quota de pessoas estúpidas no conjunto de uma população com o símbolo *s. (*s = nrº de estúpidos por população) 

2º Capítulo – A 2ª Lei Fundamental 

As tendências culturais predominantes hoje nos países ocidentais favorecem uma visão igualitária da Humanidade. Prefere-se pensar no Homem como o produto de massa de uma linha de montagem perfeitamente organizada. A genética e a sociologia, sobretudo, esforçam-se para provar, com uma muralha impressionante de dados científicos e formulações, que todos os homens são por natureza iguais e que, se alguns são mais iguais que os outros, isto é atribuível à educação e ao ambiente social, e não à Mãe Natureza. 
Trata-se de uma opinião generalizada de que pessoalmente não partilho. 

É a minha firme convicção, sustentada por anos de observações e experimentos, que os homens não são iguais, que alguns são estúpidos e outros não, e que a diferença é determinada não por forças ou factores culturais, mas por características biogenéticas da inescrutável Mãe Natureza.  
Alguém é estúpido da mesma forma que um outro é ruivo; alguém pertence ao grupo dos estúpidos como um outro pertence a um grupo sanguíneo. Em suma, alguém nasce estúpido por vontade indecifrável e indiscutível da Divina Providência. Mesmo convencido que uma fração *s de seres humanos seja estúpida e que o seja por vontade da Providência, não sou um reacionário que tenta reintroduzir furtivamente discriminações de classe ou de raça. 
Creio fixamente que a estupidez seja uma prerrogativa indiscriminada de todo e qualquer grupo humano, e que tal prerrogativa esteja uniformemente distribuída segundo uma proporção constante. 

Este fato é cientificamente expresso pela Segunda Lei Fundamental, que diz que: 

 2ª - A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica desta mesma pessoa. 

A este propósito, a Natureza parece realmente ter-se superado a si mesma. É de fato conhecido que a Natureza, ainda que misteriosamente, age de forma a manter constante a frequência relativa de certos fenómenos naturais. 
Por exemplo, quer os homens proliferem no Pólo Norte ou no Equador, quer os casais que se unem sejam bem-nutridos ou subdesenvolvidos, quer sejam negros, vermelhos, brancos ou amarelos, a relação macho-fêmea entre os recém-nascidos é constante, com uma ligeira prevalência de machos. 
Não sabemos como a natureza faz para obter este extraordinário resultado, mas sabemos que para obtê-lo ela deve operar com grandes números. 
O fato extraordinário acerca da frequência da estupidez é que a Natureza consiga fazer com que tal frequência seja sempre e em qualquer parte constante e portanto igual à probabilidade *s, independentemente das dimensões do grupo, tanto que se encontra o mesmo percentual de pessoas estúpidas seja tomando-se grupos muito amplos ou grupos muito reduzidos. Nenhum outro tipo de fenómeno sujeito a observações oferece uma prova tão singular do poder da Natureza. 

A prova de que a educação e o ambiente social não tem nada a ver com a probabilidade *s foi fornecida por uma série de experimentos conduzidos em muitas universidades do mundo. Podemos subdividir a população de uma universidade em quatro grandes categorias: os zeladores, os funcionários, os estudantes e o corpo docente. Todas as vezes em que se analisaram os zeladores, descobriu-se que uma fração *s deles era de estúpidos. 
Dado que o valor de *s era mais alto do que se esperava (Primeira Lei), pensou-se inicialmente, pagando tributo à moda corrente, que o fato fosse devido à pobreza das famílias das quais os zeladores geralmente provêm, e à sua escassa instrução. Mas analisando os grupos mais elevados, notou-se que a mesma percentagem prevalecia também entre os funcionários e os estudantes. Ainda mais impressionantes foram os resultados obtidos entre o corpo docente. 

Seja considerando uma universidade grande ou uma pequena, um instituto famoso ou um obscuro, descobriu-se que a mesma fração *s de professores era composta de estúpidos. Foi tal a surpresa com os resultados obtidos que resolveu estender-se a pesquisa a um grupo particularmente seleccionado, a uma verdadeira e própria “elite”, isto é, aos ganhadores do Prêmio Nobel. O resultado confirmou os poderes superiores da Natureza: uma fração *s dos Prêmios Nobel é constituída por estúpidos. 

Este resultado é difícil de aceitar e digerir, mas várias evidências experimentais nos provaram a sua fundamental validade. A Segunda Lei Fundamental é uma lei de ferro e não admite excepção. O Movimento de Libertação da Mulher confirma a Segunda Lei, já que esta lei demonstra que os indivíduos estúpidos são proporcionalmente tão numerosos entre os homens quanto entre as mulheres. As populações dos países do Terceiro Mundo consolar-se-ão com a Segunda Lei, já que ela demonstra que, no final de contas, as populações ditas “desenvolvidas” não são assim tão desenvolvidas. 

Quer a Segunda Lei Fundamental agrade ou não, mesmo assim as suas implicações são diabolicamente inelutáveis: ela diz de fato que, quer frequentando círculos elegantes, quer refugiando-se entre os cortadores de cabeça da Polinésia, quer enclausurando-se em um mosteiro ou quer decidindo transcorrer o resto da vida na companhia de mulheres belas e luxuriosas, o fato permanece de que deveremos sempre enfrentar a mesma quantidade de gente estúpida – percentual que (de acordo com a Primeira Lei) superará sempre as mais negras previsões. 


3º Capítulo – Um intervalo técnico 

Neste ponto é necessário esclarecer o conceito de estupidez humana e definir a dramatis persona. 
Os indivíduos são caracterizados por diferentes graus de propensão a sociabilizar. Há indivíduos para os quais qualquer contato com outros indivíduos é uma dolorosa necessidade. Eles devem literalmente suportar as pessoas e as pessoas devem suportá-los. No outro extremo do espectro estão os indivíduos que não podem absolutamente viver sozinhos e estão até mesmo dispostos a gastar seu tempo na companhia de pessoas que desdenham, para não ficarem sozinhos. 
Entre esses dois extremos, existe uma grande variedade de condições, se bem que a grande maioria das pessoas esteja mais próxima do tipo que não pode suportar a solidão e não do tipo que não tem propensão a contatos humanos. 

Aristóteles reconheceu este fato quando escreveu que “o homem é um animal social”, e a validade da sua afirmação é demonstrada pelo fato de que nós nos movimentamos em grupos sociais, que há mais pessoas casadas do que solteiras, que tanta riqueza e tempo sejam desperdiçados em exasperantes e maçadores cocktail parties e que à palavra solidão venha normalmente associada uma conotação negativa. 
Quer se pertença ao tipo eremita ou ao tipo mundano, deve-se de qualquer modo lidar com gente, ainda que, com diversa intensidade. De vez em quando, até os eremitas encontram pessoas. Além do que, põe-se sempre em relação com os seres humanos também evitando-os. Aquilo que eu poderia ter feito por um indivíduo ou por um grupo, e que não fiz, representa um “custo-oportunidade” (isto é, um ganho perdido, ou uma perda) para aquela particular pessoa ou grupo. 

A moral da história é que cada um de nós tem uma conta corrente com cada um dos demais. De qualquer ação, ou não ação, cada um de nós leva um ganho ou uma perda, e ao mesmo tempo determina um ganho ou uma perda a algum outro.
Os ganhos e perdas podem ser oportunamente ilustrados em um gráfico, e a figura 1 mostra o gráfico base utilizável para este escopo. Figura 1 

O gráfico refere-se a um indivíduo que chamaremos de Tício. O eixo X mede o ganho obtido por Tício em sua ação. O eixo Y mede o ganho que outra pessoa, ou grupo de pessoas, experimenta em virtude da ação de Tício. 
O ganho pode ser positivo, nulo ou negativo; um ganho negativo equivale a uma perda. 
O eixo X mede os ganhos positivos de Tício à direita do ponto O, enquanto as perdas de Tício são indicadas à esquerda do ponto O. 
O eixo Y, respectivamente sobre e sob o ponto O, mede os ganhos e perdas da pessoa, ou grupo de pessoas, com que Tício tem relação. 

Para tornar as coisas claras, tomemos um exemplo hipotético, referindo-nos à figura 1. 
Tício realiza uma ação que atinge Caio. Se Tício com a sua ação consegue um ganho e Caio, pela mesma ação, sofre uma perda, a ação será registrada no gráfico por um símbolo que aparecerá em qualquer ponto da área B. Os ganhos e perdas podem ser registados em dólares ou francos ou liras, caso se queira, mas devem-se incluir também as recompensas e as satisfações psicológicas e emotivas, e os stresses psicológicos e emotivos. 
Estes são bens (ou males) imateriais, e portanto bastante difíceis de mensurar com parâmetros objetivos. A análise do tipo custo-benefício pode ajudar a resolver o problema, ainda que não completamente, mas  não quero aborrecer o leitor com detalhes técnicos: uma margem de imprecisão pode prejudicar as medidas, mas não a essência do argumento. 
Um ponto contudo deve ficar claro. Ao considerar a ação de Tício e ao avaliar os benefícios ou perdas que Tício leva, deve-se levar em conta o sistema de valores de Tício; mas para determinar o ganho ou a perda de Caio, é absolutamente indispensável referir-se ao sistema de valores de Caio e não àquele de Tício. 
Frequentemente ignora-se esta norma de fair play, e muitos problemas derivam exactamente do fato de que não se respeitar este princípio de civil comportamento. 

Vamos recorrer mais uma vez a um exemplo banal. Tício dá uma pancada na cabeça de Caio e obtém satisfação. Tício pode talvez alegar que Caio ficou feliz por ter recebido uma pancada na cabeça. Mas é altamente provável que Caio não partilhe a mesma opinião. Ao invés, Caio poderia considerar a pancada na sua cabeça um desagradabilíssimo acidente. Se a pancada na cabeça de Caio foi um ganho ou uma perda para Caio, cabe a Caio dizê-lo, e não a Tício. 


4º Capítulo – A Terceira (e áurea) Lei Fundamental 

A Terceira Lei Fundamental pressupõe, ainda que não o enuncie completamente, que os seres humanos pertencem a uma de quatro categorias fundamentais: os ingénuos, os inteligentes, os bandidos e os estúpidos. 

O leitor arguto compreenderá facilmente que estas quatro categorias correspondem às quatro áreas H, I, B, S do gráfico base (ver fig. 1 [na postagem anterior]). 

Se Tício realiza uma ação e sofre uma perda, enquanto ao mesmo tempo oferece uma vantagem a Caio, o símbolo de Tício cairá no campo H: Tício agiu como ingénuo. 
Se Tício realiza uma ação com a qual obtém uma vantagem, e ao mesmo tempo oferece uma vantagem também a Caio, o símbolo de Tício cairá na área I: Tício agiu inteligentemente. 
Se Tício realiza uma ação com a qual ganha uma vantagem, causando uma perda a Caio, o ponto de Tício cairá na área B: Tício agiu como bandido. 
A estupidez corresponde à área S e a todas as posições no eixo Y abaixo do ponto O. 

A Terceira Lei Fundamental esclarece que: 

3º - Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a uma outra pessoa ou grupo de pessoas, sem, ao mesmo tempo, obter qualquer vantagem para si ou até mesmo sofrendo uma perda. 


Diante da Terceira Lei Fundamental, as pessoas sensatas reagem instintivamente com cepticismo e incredulidade. O fato é que as pessoas sensatas têm dificuldades em conceber e a compreender um comportamento irracional. Mas deixemos de lado a teoria e observemos ao invés disso o que nos acontece na prática, na vida de todos os dias. 

Todos nos recordamos de casos nos quais tivemos desafortunadamente de lidar com um indivíduo que buscava para si um ganho, causando-nos uma perda: deparamo-nos com um bandido.
Podemos recordar ainda casos nos quais um indivíduo realizou uma ação cujo resultado foi-lhe uma perda e para nós um ganho: lidamos com um ingénuo¹. 
Podemos recordar também casos nos quais um indivíduo realizou uma ação com a qual ambas as partes levaram vantagens: tratava-se de uma pessoa inteligente. 

Tais casos ocorrem continuamente. Mas refletindo bem, é preciso admitir que estes casos não representam a totalidade de eventos que caracterizam a nossa vida de todos os dias. A nossa vida é também pontuada por eventos em que sofremos perdas de dinheiro, tempo, energia, apetite, tranquilidade e bom-humor, por culpa das improváveis ações de alguma absurda criatura que aparece nos momentos mais impensáveis e inconvenientes para nos provocar danos, frustrações e dificuldades, sem ter absolutamente nada a ganhar com aquilo que realiza. 

Ninguém sabe, compreende ou pode explicar por que essa absurda criatura faz o que faz. De fato, não há explicação – ou melhor – a explicação é uma só: a pessoa em questão é estúpida. ¹ 

Note-se a definição precisa “um indivíduo realizou uma acção”. O fato de ter sido ele a iniciar a acção é decisivo para estabelecer que ele é um ingénuo. Se tivesse sido eu a empreender a acção que determinou o meu ganho e a sua perda, a conclusão seria diferente: neste caso, eu teria sido um bandido. (N. do A.) 


5º capítulo – Distribuição de frequências 

A maior parte das pessoas não age coerentemente. Em algumas circunstâncias uma pessoa age inteligentemente e em outras aquela mesma pessoa comporta-se como ingénua. A única importante excepção à regra é representada pelas pessoas estúpidas, que normalmente mostram uma máxima propensão a uma plena coerência em todos os campos de actividade.  

Deste fato não segue que se pode assinalar no gráfico apenas as posições dos indivíduos estúpidos. Podemos calcular para toda pessoa a sua posição no plano da figura 1 [na parte 3] com base na média ponderada. Uma pessoa inteligente pode às vezes comportar-se como ingénua, como pode às vezes assumir um comportamento banditesco. Mas, como a pessoa em questão é fundamentalmente inteligente, a maior parte das suas ações terá a característica da inteligência e a sua média ponderada colocar-se-á no quadrante I do gráfico n° 1. 

O fato de ser possível colocar no gráfico os indivíduos, em vez das suas acções, permite digressões sobre a frequência dos bandidos e dos estúpidos. O perfeito bandido é aquele que, com as suas acções, causa a outros perdas equivalentes aos seus ganhos. 

O mais primitivo tipo de banditismo é o roubo. Uma pessoa que rouba 10.000 liras sem causar-nos danos adicionais é um bandido perfeito: perdemos 10.000 liras, ele ganha 10.000. 
No gráfico, os bandidos perfeitos aparecerão sobre a linha diagonal de 45 graus que divide a área B em duas subáreas perfeitamente simétricas (linha OM da figura 2). Figura 2 



Todavia, os bandidos perfeitos são relativamente poucos. A linha OM divide a área B nas duas subáreas Bi e Bs, e a grande maioria dos bandidos coloca-se em algum ponto destas duas subáreas. 
Os bandidos que ocupam a área Bi são aqueles que procuram para si mesmos ganhos maiores que as perdas que causam aos outros. Todos os bandidos que ocupam uma posição na área Bi são desonestos com um elevado grau de inteligência, e quanto mais a sua posição se aproxima da parte direita do eixo X, mais características tais bandidos compartilham com a pessoa inteligente. 
Infelizmente, os indivíduos que ocupam a área Bi não são muito numerosos. A maior parte dos bandidos coloca-se efetivamente na área Bs. 
Os bandidos que se introduzem nesta área são indivíduos cujas ações lhes trazem vantagens inferiores às perdas causadas aos outros. Se alguém te faz cair e quebrar uma perna para roubar 10.000 liras, ou te causa danos ao carro no valor de meio milhão de liras para roubar o rádio, com a qual obterá no máximo 30.000 liras, se alguém te dá um tiro de revólver e te mata só para passar uma noite em companhia da tua mulher em Monte Carlo, podemos estar certos de que não se trata de um bandido “perfeito”. Sempre utilizando os seus parâmetros para mensurar os seus ganhos (mas usando os nossos parâmetros para mensurar as nossas perdas), ele cairá na área Bs, muito próximo ao limite da estupidez pura. 

A distribuição de frequências das pessoas estúpidas é totalmente diferente da dos bandidos e dos ingénuos. Enquanto estes últimos estão na maior parte espalhados pelo espaço da respectiva área, os estúpidos estão na maior parte concentrados ao longo do eixo Y abaixo do ponto O. A razão disso é que a grande maioria das pessoas estúpidas são fundamentalmente e firmemente estúpidas – por outras palavras, eles insistem com perseverança em causar danos ou perdas a outras pessoas sem obter nenhum ganho para si, seja este positivo ou negativo. 

Há, no entanto, pessoas que, com suas inverossímeis ações, não apenas causam danos a outras pessoas, mas também a si mesmos. Estes formam um género de superestúpidos que, com base no nosso sistema de cálculo, aparecerão em qualquer ponto da área S à esquerda do eixo Y. 

6º Capítulo – Estupidez e poder 

Como todas as criaturas humanas, também os estúpidos influenciam outras pessoas com intensidades muito variadas. Alguns estúpidos causam normalmente apenas perdas limitadas, enquanto alguns conseguem causar danos impressionantes não só a um ou dois indivíduos, mas a inteiras comunidades ou sociedades. 
O potencial de uma pessoa estúpida criar danos, depende de dois factores principais. Antes de tudo, depende do factor genético. Alguns indivíduos herdam notáveis doses do gene da estupidez e, graças a tal hereditariedade, pertencem, desde o nascimento, à elite do seu grupo. 
O segundo factor que determina o potencial de uma pessoa estúpida deriva da posição de poder e de autoridade que ela ocupa na sociedade. Entre burocratas, generais, políticos, chefes de estado e homens da igreja, encontra-se a áurea proporção *s de indivíduos fundamentalmente estúpidos, cuja capacidade de prejudicar o próximo foi (ou é) perigosamente acrescida pela posição de poder que ocuparam (ou ocupam). 

A pergunta que frequentemente colocam as pessoas sensatas, é de que modo e como pessoas estúpidas conseguem chegar a posições de poder e de autoridade. Classe e casta (seja laica ou eclesiástica) foram as instituições sociais que permitiram um fluxo constante de pessoas estúpidas a posições de poder na maior parte das sociedades pré-industriais. 
No mundo industrial moderno, classe e casta vão perdendo cada vez mais destaque. Mas, no lugar de classe e casta, existem partidos políticos, burocracia e democracia. 

Num sistema democrático, as eleições gerais são um instrumento de grande eficácia para assegurar a manutenção da fracção *s entre os poderosos. 
Recordemos que, com base na Segunda Lei, a fracção *s de pessoas que votam são estúpidas, e as eleições oferecem-lhes uma magnífica oportunidade para prejudicar todos os outros, sem obter nenhum ganho com suas acções. 
Eles atingem esse objectivo, contribuindo para a manutenção do nível *s de estúpidos entre as pessoa no poder. 

7º capítulo – O poder da estupidez 

Não é difícil compreender como o poder político ou económico ou burocrático amplifica o potencial nocivo de uma pessoa estúpida. Mas devemos ainda explicar e entender o que rende essencialmente perigosa uma pessoa estúpida; em outras palavras, em que consiste o poder da estupidez.

Essencialmente, os estúpidos são perigosos e funestos porque as pessoas sensatas acham difícil imaginar e entender um comportamento estúpido. Uma pessoa inteligente pode entender a lógica de um bandido. As acções do bandido seguem um modelo de racionalidade: racionalidade perversa, caso queiram, mas sempre racionalidade. O bandido quer “algo mais” na sua conta. Dado que não é inteligente o bastante para inventar métodos para obter “algo mais” para si buscando ao mesmo tempo “algo mais” também para os outros, ele obterá o seu “algo mais” causando “algo menos” ao seu próximo. 

Tudo isso não é justo, mas é racional e, se é racional, pode ser previsto. Pode-se, em resumo, prever as acções de um bandido, as suas imundas manobras e as suas deploráveis aspirações e amiúde podem-se preparar as defesas oportunas. 

Com uma pessoa estúpida tudo isso é absolutamente impossível. Como está implícito na Terceira Lei Fundamental, uma criatura estúpida perseguir-te-á sem razão, sem um plano preciso, nos momentos e nos locais mais improváveis e mais impensáveis. 
Não há nenhum método racional para prever se, quando, como e por que uma criatura estúpida levará adiante o seu ataque. Frente a um indivíduo estúpido, estamos completamente à sua mercê. Já que as acções de uma pessoa estúpida não estão de acordo com as regras da racionalidade, segue que: 

- (a) geralmente somos tomados de surpresa pelo ataque; 
- (b) mesmo quando se toma consciência do ataque, não se consegue organizar uma defesa racional, porque o ataque, por si mesmo, é desprovido de qualquer estrutura racional. 

O fato de que a actividade e os movimentos de uma criatura estúpida são absolutamente erráticos e irracionais não apenas torna a defesa problemática, mas torna também extremamente difícil qualquer contra-ataque – é como tentar disparar num objecto capaz dos mais improváveis e inimagináveis movimentos. 

Isso é o que Dickens e Schiller tinham em mente quando um afirmou que “com estupidez e boa digestão, o homem pode enfrentar qualquer coisa”, e o outro que “contra a estupidez até os deuses combatem em vão”. 

É preciso levar em conta também uma outra circunstância. A pessoa inteligente sabe que é inteligente. O bandido está consciente de ser um bandido. O ingénuo está penosamente repleto do senso da própria ingenuidade. 
Ao contrário de todos estes personagens, o estúpido não sabe que é estúpido. Isto contribui fortemente para dar maior força, incidência e eficácia às suas acções devastadoras. O estúpido não é inibido por aquele sentimento que os anglossaxões chamam de self-consciousness. 
Com o sorriso nos lábios, como se estivesse realizando a coisa mais natural do mundo, o estúpido aparecerá improvisadamente para destroçar os teus planos, destruir a tua paz, complicar-te a vida e o trabalho, fazer-te perder dinheiro, tempo, bom-humor, apetite, produtividade – tudo isso sem malícia, sem remorso, e sem motivo. Estupidamente. 

8º capítulo – A Quarta Lei Fundamental 

Não se deve ficar espantado se as pessoas ingénuas, isto é, aquelas que no nosso sistema caem na área H, em geral não consigam reconhecer a periculosidade das pessoas estúpidas. O fato só representa outra manifestação da sua ingenuidade. O que é verdadeiramente surpreendente é que mesmo as pessoas inteligentes e os bandidos frequentemente não conseguem identificar o poder devastador e destruidor da estupidez. 
É extremamente difícil explicar por que isso ocorre. Pode-se apenas conjecturar que frequentemente tanto os inteligentes quanto os bandidos, quando abordados por indivíduos estúpidos, cometem o erro de se abandonar a sentimentos de auto-complacência e desprezo, ao invés de produzir imediatamente quantidades maiores de adrenalina e preparar as defesas. 
É-se geralmente levado a acreditar que uma pessoa estúpida faça mal somente a si própria, mas isto significa enfrentar a estupidez com a ingenuidade. Às vezes, é-se tentado a associar-se com um indivíduo estúpido com o objectivo de usá-lo para os próprios objectivos. 

Tal manobra só pode ter efeitos desastrosos porque: 
 - (a) é baseada em uma completa incompreensão da natureza essencial da estupidez; e 
- - (b) dá à pessoa estúpida mais espaço para o exercício dos seus talentos. 

 Alguém pode se iludir a manipular uma pessoa estúpida e, até certo ponto, pode-se até conseguir. Mas, por causa do errático comportamento do estúpido, não se pode prever todas as suas acções e reacções, e em breve ver-se-á desarticulado e pulverizado por suas imprevisíveis acções. 

Tudo isso é claramente sintetizado pela Quarta Lei Fundamental, que afirma que: 

4º - "As pessoas não estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não estúpidos esquecem constantemente que, em qualquer momento e lugar, e em qualquer circunstância, tratar e/ou associar-se a indivíduos estúpidos demonstra-se infalivelmente um custosíssimo erro." 


Ao longo de séculos dos séculos, na vida pública e privada, inúmeras pessoas não levaram em conta a Quarta Lei Fundamental e isso causou incalculáveis perdas à humanidade. 


 9º capítulo – Macroanálise e a Quinta Lei Fundamental 

As considerações finais do capítulo precedente conduzem a uma análise do tipo “macro”, na qual, ao invés do bem-estar individual, considera-se o bem-estar da sociedade, definido, neste contexto, como a soma algébrica das condições de bem-estar individual. 
Uma completa compreensão da Quinta Lei Fundamental é essencial para esta análise. É necessário, por outro lado, acrescentar que, das cinco leis fundamentais, a Quinta é certamente a mais conhecida e o seu corolário é citado muito frequentemente. 

Ela afirma que: 

5º - A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigoso que existe.


O corolário da lei é que: - O estúpido é mais perigoso que o bandido.

A formulação da lei e do corolário ainda é do tipo “micro”. Como indicado acima, todavia, a lei e o seu corolário têm implicações de natureza “macro”. 
O ponto essencial a ter em conta é este: o resultado da ação de um perfeito bandido (a pessoa que cai sobre a linha OM da figura 2) representa pura e simplesmente uma transferência de riqueza e/ou bem-estar. Depois da ação de um perfeito bandido, ele terá um “positivo” na sua conta, “positivo” que equivalerá exactamente ao “negativo” que ele terá causado a uma outra pessoa. 
Para a sociedade no seu conjunto a situação não terá melhorado nem piorado. Se todos os membros de uma sociedade fossem bandidos perfeitos, a sociedade permaneceria em condições estagnantes, mas não haveria grandes desastres. 
Tudo se limitaria a uma massiva transferência de riqueza e bem-estar em favor daqueles que realizaram a acção. Se todos os membros da sociedade tivessem de executar a acção em turnos regulares, não apenas a sociedade inteira, mas também os indivíduos particulares, se encontrariam num estado de perfeita estabilidade. 

Mas quando os estúpidos se colocam em acção, a música muda completamente. As pessoas estúpidas causam perdas a outras pessoas sem receber vantagens para si mesmos. Segue que a sociedade inteira empobrece. Figura 3 




O sistema de cálculo expresso nos gráficos base mostra que, enquanto todas as ações de indivíduos que caem à direita da linha POM (ver a figura 3) incrementam o bem-estar da sociedade, ainda que em graus diversos, as acções de todas as pessoas que caem à esquerda da mesma linha POM empobrecem a sociedade. 

Por outras palavras, os ingénuos dotados de elementos de inteligência mais elevados com respeito à média da sua categoria (área Hi), assim como os bandidos com dotes de inteligência (área Bi), e sobretudo os inteligentes (área I) contribuem todos, em medidas diferentes, a aumentar o bem-estar da sociedade. Por outro lado, os bandidos com dotes de estupidez (área Bs) e os ingénuos com elementos de estupidez (área Hs) só fazem acrescentar as perdas àquelas já causadas pelas pessoas estúpidas (área S), aumentando assim o seu nefasto poder destruidor. 

Tudo isso sugere algumas reflexões sobre o desempenho da sociedade. 
De acordo com a Segunda Lei Fundamental, a fracção de gente estúpida é uma constante *s, que não é influenciada por tempo, espaço, raça, classe ou qualquer outra variável histórica ou sócio-cultural. 
Seria um grave erro crer que o número de estúpidos seja mais elevado em uma sociedade em declínio que em uma sociedade em ascensão. Ambas sofrem o mesmo percentual de estúpidos. A diferença entre as duas sociedades consiste no fato de que, na sociedade em declínio: 

- (a) aos membros estúpidos da sociedade é permitido, pelos demais membros, tornarem-se mais activos; 
(b) há uma mudança na composição da população de não estúpidos, com um aumento relativo das populações das áreas Hs e Bs. 
Esta hipótese teórica é abundantemente confirmada por uma exaustiva análise de casos históricos. Com efeito, a análise histórica permite-nos reformular as conclusões teóricas de modo mais completo e com detalhes mais realísticos. 

Seja considerando a era clássica, medieval, moderna ou contemporânea, permanecemos assombrados pelo fato de que todo país em ascensão tem a sua inevitável quota de pessoas estúpidas. 
Todavia, um país em ascensão tem também um percentual insolitamente alto de indivíduos inteligentes, que buscam manter a fracção *s sob controle, e que, ao mesmo tempo, procuram ganhos para si mesmos e para os demais membros da comunidade, suficientes para tornar o progresso uma certeza. 

Num país em declínio, o percentual de indivíduos estúpidos é sempre igual a *s; todavia, na população restante nota-se, especialmente entre os indivíduos no poder, uma alarmante proliferação de bandidos com uma alta percentagem de estupidez (subárea Bs do quadrante B na fig. 3) e, entre aqueles que não estão no poder, um igualmente alarmante aumento no número de ingénuos (área H no gráfico base, fig. 1). 

Tal mudança na composição da população de não estúpidos reforça inevitavelmente o poder destruidor da fracção *s de estúpidos e leva o país à ruína. 

Apêndice 

Nas páginas seguintes do livro, o leitor encontrará um certo número de gráficos que poderá utilizar para registar as acções de pessoas ou grupos com os quais tem de lidar constantemente. 
Isto permitirá formular avaliações precisas das pessoas ou grupos em questão e, portanto, adoptar uma linha de acção racional em seus contactos. 

[Em virtude do caráter digital desta tradução, julgou-se necessário fornecer apenas uma cópia do gráfico base. (N. do T.)] ¹ 

Os autores do Velho Testamento estavam cientes da existência da Primeira Lei Fundamental e a parafrasearam ao afirmar que “stultorum infinitum numerus”, mas cometeram um exagero poético. 
O número de pessoas estúpidas não pode ser infinito porque o número de pessoas vivas é finito. (N. do A.) 
Carlo M. Cipolla (1922-2000), historiador de economia, professor na Universidade de Berkeley e na Escola Normal Superior de Pisa. 
Capitulo 1 – A Primeira Lei Fundamental 
Capitulo 2 – A Segunda Lei Fundamental 
Capitulo 3 – Um intervalo técnico 
Capitulo 4 – A Terceira (e áurea) Lei Fundamental 
Capitulo 5 – Distribuição de frequências 
Capitulo 6 – Estupidez e poder 
Capitulo 7 – O poder da estupidez 
Capitulo 8 – A Quarta Lei Fundamental 
Capitulo 9 – Macroanálise e a Quinta Lei Fundamental 

1 comentário:

varandas disse...

Gostei muito deste excerto sobre a estupidez, não está muito longe da realidade.

Varandas