3.04.2013

Parâmetros para o cálculo de número de manifestantes


Parâmetros para o cálculo de manifestantes por JoaoTillyAudioVisuais


PARÂMETROS PARA O CÁLCULO ESTIMADO DO NÚMERO DE MANIFESTANTES - O TERREIRO DO PAÇO

Para calcular uma estimativa fidedigna do nr de manifestantes numa qualquer manif necessitamos controlar vários parâmetros.
Estáticos: a concentração por metro quadrado e a área do recinto.
Dinâmicos: a velocidade média da manif, e a concentração por metro quadrado. Em alternativa, a distância percorrida e o tempo que demorou o percurso. Obteremos assim a velocidade que nos permite calcular o "caudal" da manif.
De alguma forma a multidão assume comportamentos e movimentos muito semelhares à mecânica de fluidos.

Neste pequeno filme há exemplos da "colheita" desses parâmetros. Essa recolha é feita a partir de stills - imagens paradas em que se detecta, com o auxílio de referências da imagem (objectos, proporções, movimentos) a concentração por metro quadrado.
Para uma manifestação normal o número internacionalmente aceite como "normal" é de 1,7 pessoas por metro quadrado. Claro que esse rácio representa uma média.
Na realidade há sempre 3 grandes franjas numa aglomeração de pessoas focadas num local determinado. Seja um concerto, manifestação ou outra assembleia que concentre as atenções num spot - palco.
A primeira franja - a mais próxima do palco - é a que regista a concentração mais forte que pode chegar aos 4 pax/m2 se não demorar muito. 4 pessoas comprimidas (geralmente jovens) em apenas um metro quadrado - e pior se tiverem idade superior a 35 anos - não aguentam mais que 1 hora e meia.
Uma segunda franja posiciona-se por detrás da primeira com uma concentração menor. Curiosamente cerca de metade. Este tipo de espectadores não se sujeita a ser "tijolado" como os primeiros e por isso não se aproxima tanto da primeira franja, distribuindo-se a distâncias do palco que, para uma assembleia de 50 mil, por exemplo (Rock in Rio com Stevie Wonder), ronda os 30 a 50 metros. No SuperBock SuperRock (outro exemplo) no concerto de Peter Gabriel essa franja situou-se muito mais perto do palco do que seria de esperar dada a súbita debandada de jovens que não estava ali para ver uma orquestra clássica.
No Terreiro do Paço é difícil juntar 50 mil, mas quando isso acontece a 2ª franja situa-se mais próxima do palco do que seria de esperar (as fotos do post anterior demonstram-no) o que faz baixar o rácio da concentração.
Uma terceira franja, a dos "mirones", prefere ficar cá atrás. Essa área tem um rácio habitualmente inferior a 1 pax/m2. As pessoas agrupam-se por amigos/conhecidos/cúmplices e afastam-se tacitamente os grupos uns dos outros. Esta é a maior das franjas, compensando rapidamente a concentração da 1ª franja, e fazendo baixar a média final para os tais 1,7 já referidos.
Atrás da 3ª franja surgem as clareiras cuja densidade, não sendo zero, é desprezável.

No caso de Lisboa e do Porto nem são precisos grandes cálculos enquanto as manifestações terminarem no Terreiro do Paço ou na Av dos Aliados. Tanto num caso como noutro é esperá-los aí e a contagem fica extraordinariamente simplificada.

O Terreiro do Paço só encheu completamente uma vez numa greve de professores em 2010. Éramos menos de 80 mil mas os sindicatos falaram em 100 a 120 mil.
E aí não houve dúvidas porque o número de autocarros, que era perfeitamente determinado, complementou a estimativa feita no local.
Por outro lado, a sua área de 44 mil metros quadrados não deixa margem para histórias da carochinha. Retirando 4 mil para a estátua e para o palco, o número redondo de 40 mil multiplicado por 1,7 é fatal para qualquer aleivosia: 68 mil é o número para um total preenchimento do Terreiro do Paço e ruas circundantes. Claro que podemos chegar aos 80 mil, mas mais não. De maneira nenhuma.
Haveria desmaios em catadupas e muita dificuldade em evacuar pessoas no centro do Terreiro. Por isso as próprias pessoas, apercebendo-se do esmagamento eminente, não se deixam encurralar e imediatamente se afastam dos locais de maior pressão, reposicionando o rácio para o valor normal médio de 1,7. Está tudo inventado.

Portanto é assim que isto funciona.
E tanto faz que me falem das pessoas que ainda não chegaram como das outras que já foram embora porque isso não é significativo para a estimativa final. Mais 10 mil menos 10 mil, as pessoas não se atiram ao Rio e portanto as que lá ficarem não podem ultrapassar as 80 mil.
Tomem, portanto, atenção, inventores apalermados de números: O Terreiro do Paço em Lisboa NUNCA poderá comportar numa manif que ultrapasse durante hora e meia, os 80 mil manifestantes.
Pelo menos enquanto tiver aquela geometria.

Quantas pessoas estão aqui?


 
O triplo destas pessoas enchem completamente o Terreiro do Paço. O quádruplo faria com que dezenas ou centenas tivessem síncopes e desmaios. Falamos de uma concentração de 80 mil apenas e, mesmo assim, haveria zonas de concentração de 4pax/m2 o que levaria a imensos casos de desmaios entre crianças e idosos.
Este Terreiro do Paço de 44 mil metros quadrados NUNCA poderá ter mais do que 88 mil pessoas sem que alguém morra no processo. E não seria só uma pessoa nem duas. Imagine o leitor estar numa despensa ou armário de 1m x 1m (menos do que os seus braços estendidos) e compartilhar esse espaço minúsculo com mais 3 pessoas!
Agora imagine essa situação replicada e multiplicada por 20 mil neste espaço monstruoso! Sem fuga para lado nenhum.
Quantos velhinhos desmaiavam? Centenas, para não dizer milhares...
Há que combater esta loucura dos números à balda. E o obscurantismo que eles encerram.