10.11.2012

OBRIGATÓRIO LER:
"Balões" da GNR avariados? Em Seia até os abstémios acusam álcool!

Na próxima semana irá prestar depoimento no Tribunal de Seia um condutor abstémio há 20 anos que foi fiscalizado e acusou um nível de alcoolémia significativo.


Como é que isto é possível?

Há muito que se ouvem histórias aqui em Seia sobre condutores que, no decurso de uma fiscalização e apesar de jurarem a pés juntos que não beberam ou que beberam muito pouco, a verdade é que nos "balões" aparecem valores altíssimos.
O cúmulo é o caso de condutores abstémios há vários anos que acusaram álcool... e não foi pouco!

O que é que se passa em Seia, afinal?


Das duas uma: ou os aparelhos a uso estão mal calibrados ou têm excesso de uso. 

Os aparelhos têm que ser calibrados anualmente e muitas vezes essas datas não são cumpridas, como já se verificou em processos que chegaram aos Tribunais por todo o país.
Mas mesmo que estejam dentro do prazo de validade anual entre aferições - e tal como acontece com  todos os equipamentos electrónicos que se destinam a aferir valores rigorosos - essa aferição é feita por intermédio de conversores analógico-digitais que têm um determinado número de utilizações previstas / ano. Se realizarem o dobro ou o triplo das fiscalizações para as quais o aparelho foi desenhado, o CMOS que recolhe o ar expirado pode degradar-se muito rapidamente, tal como acontece com as máquinas fotográficas, de filmar, ou outros aparelhos que usem conversores analógico-digitais idênticos.

Vamos lá a saber: como funcionam os "balões"?


No Caso dos detectores de corpos cetónicos (vulgo "balões") usados pela GNR, os aparelhos não detectam álcool mas sim CETONA que resulta do efeito da queima da gordura pelo fígado. 
A concentração de corpos cetónicos no ar expirado é que é a única variável medida e não qualquer concentração de álcool no sangue que não poderia ser medida por métodos não invasivos.

Esses corpos cetónicos são o resultado da queima de acúcares e gorduras pelo fígado como consequência da ingestão de álcool mas também de vários outros factores como a ingestão de medicamentos (nomeadamente antidepressivos), dietas ou jejuns prolongados.

Por isso é comum ouvir-se dizer que um determinado condutor "acusou" álcool logo de manhã e naturalmente garantia não ter ingerido qualquer bebida alcoólica nessa manhã.
O comentário brejeiro salta logo: "pois não! Ainda foi o de ontem!"
Mas isso também não é assim.

O corpo humano de um adulto metaboliza em média apenas o equivalente a 0,1g/ litro de sangue por hora, pelo que não adianta a ninguém tentar ganhar tempo durante uma fiscalização.
Mas se o condutor, depois de uma tarde de copos, vai para casa, o que resta da noite e o sono (8-10 horas) é suficiente para fazer baixar de 0,8 a 1,0 g/l.
Se de manhã ainda acusa mais de 0,5 g/l, o condutor teria que se ter deitado com uma valente carraspana! E naturalmente não estaria em condições de conduzir logo na manhã seguinte.
Portanto trata-se de um mito que importa desmistificar.

Então se não bebeu porque é que "acusa"?


Sem falar na possível ingestão de medicamentos "fortes" como anti-depressivos ou "aspiradores de gorduras" tão em moda hoje em dia  e que podem confundir em muito os valores lidos, basta que o condutor não tenha jantado no dia anterior nem tomado o pequeno almoço nessa manhã e já vai de certeza acusar corpos cetónicos no ar expirado, que o balão "confunde" com a ingestão de álcool.  E não é.

De facto, pessoas em dietas prolongadas ou rigorosas, como a dieta de Atkins, ou em jejum prolongado também apresentam corpos cetónicos no hálito em virtude da ausência de hidratos de carbono provocados pela dieta. Em consequência dessa dieta ou jejum drástico, o organismo também queima gordura.
O ar exarado dos pulmões contém esse sub-produto da queima da gordura pelo fígado (cetona) e os "balões" da GNR o que fazem é apenas quantificar a concentração desses corpos cetónicos no ar expirado
Os "balões" detectam a presença desses corpos cetónicos nos seus conversores CMOS analógico-digitais (idênticos aos que usam as máquinas fotográficas digitais para medir a luminosidade ou os microfones digitais para processar o som) e convertem essas concentrações - através de um algoritmo previamente programado na memória interna do microprocessador neles existente (EPROM) - num equivalente expectável de concentração de álcool no sangue.

Poucas coisas se imagina menos fiáveis do que este sistema. Basta uma alteração no algoritmo de conversão - que qualquer programador saberá inserir inclusivé através do próprio teclado - para que os valores que apareçam no visor indiquem o que se quiser. 
Mas parece que ainda não há outro sistema melhor. Pelo menos foi este o sistema que a GNR e a PSP compraram.

EXCESSO DE USO por excesso de zelo


Mas nem é preciso imaginar-se uma situação tão sofisticada. Basta que o CMOS do aparelho tenha tido um uso mais intensivo do que aquele para o qual foi produzido para que os valores que nos aparecem no visor se tornem pouco fiáveis e até mesmo aberrantes.
Numa aproximação que parece mais humorística do que real, digamos que a partir de uma certa frequência de utilização, o CMOS do balão começa a ser pouco fiável porque começa a confundir a cetona que está a receber naquele momento com os resíduos que naturalmente reteve das milhares de colheitas (sopros) que já fez. E com os quais foi milhares de vezes bombardeado.
É como se estivéssemos a soprar em cima do sopro residual dos outros.

O CMOS ganha "vício" como acontece com uma máquina fotográfica que tire muitas fotos ao sol. Ao fim de um determinado nr de exposições e por mais que se desligue a máquina e volte a ligar, um "sol" ficará sempre presente em qualquer foto que tiremos a seguir. 
Dizemos que o CMOS queimou. O mesmo acontece com qualquer tipo de conversor analógico-digital que tenha um uso muito acima do previsto e para o qual foi desenhado. 
O mesmo também acontece, temporariamente, com a nossa retina quando fixamos um objecto muito brilhante. Nem precisa de ser o sol. Basta uma luz forte à noite. Fechamos os olhos e a luz fica lá durante vários minutos. Felizmente não para sempre porque nós temos o BOM SENSO de não olhar fixamente nem durante muito tempo para esses objectos. Ou seja: nós involuntariamente fechamos os olhos e POUPAMOS a nossa retina. 
Acontece que a GNR de Seia não poupa a "retina" dos balões!

Acontece que em Seia, como todos sabemos, não há um só dia em que a GNR não faça operações stop e não mande soprar os condutores. Desde, pelo menos, 2001.
O que se questiona é: qual é a fiabilidade de um aparelho que sofre uso contínuo?

Mas mais: é frequente ouvir-se dizer que o detector quantitativo (para a realização da contra-prova, por exemplo) que deveria estar num determinado posto da GNR está avariado ou em manutenção. 

Pergunta-se: avariam assim tantas vezes estes aparelhos? 
E a resposta é: CLARO que SIM! 
Avariam devido ao excesso de uso
A partir de um determinado uso, mesmo dentro da validade da manutenção, a depuração inicial do aparelho deixa de fazer o reset do sistema. Então a conversão deixa de ser fiável e podem aparecer números totalmente disparatados.

Na próxima semana irá prestar depoimento no Tribunal de Seia um condutor abstémio há 20 anos que foi fiscalizado e acusou um nível de alcoolémia significativo.

De muitos mais casos há notícia pública e eu aqui apelo a que o leitor que tenha conhecimento de casos destes, em que condutores garantem que não beberam ou que beberam quantidades insignificantes (1-2 cervejas) e "acusaram" uma taxa de alcoolemia significativa, os traga ao debate público.
Se não quiserem publicá-los por medo de represálias da GNR - há imensos casos destes, vá-se lá saber porquê! - enviem o vosso caso para o meu email e eu garanto confidencialidade.


Ainda mais agora que o governo quer reduzir a taxa de alcoolemia permitida para 0,2 g/l.
Se os aparelhos não estiverem bem calibrados, uma simples mini já será o suficiente para contra-ordenação quando, para uma constituição de um homem adulto normal, seriam precisas 5 minis para lá chegar.

Todos temos que fazer alguma coisa para que esta situação irregular seja corrigida. Há dezenas de condutores que garantem que não beberam e pagaram multas e ficaram inibidos de conduzir durante meses.
O leitor pode ser o próximo.
É imperioso e da mais elementar justiça acabar com estes erros grosseiros.


E qual o impacto para a economia local desta lei seca?
Ruinoso para restaurantes, bares e discotecas. Que aliás em Seia nunca singraram exactamente pelo cerco de que sempre foram alvo.

E ruinoso para o turismo de uma forma geral. 
É muito comentado o caso caricato de um casal do Norte que veio casar aqui a Seia e ficaram os 2 noivos sem carta! 
Foi a prenda de casamento da GNR que se colocou à saída da quinta e - como é de esperar - conseguiu dezenas de contra-ordenações.
O estado agradece o dinheiro assim obtido.
A economia local é arruinada. 
Imagine-se a publicidade que estas centenas de pessoas vão fazer para as suas terras e junto dos seus círculos de amigos sobre este inacreditável CERCO que há mais de uma década a GNR tem mantido a Seia!...

Os jovens são forçados a ir para Oliveira e Viseu para se divertirem aos fins de semana à noite. Porquê? Porque nessas cidades impera o bom senso e ninguém os aborda sistematicamente à saída dos bares e casas nocturnas. Ninguém os manda soprar no balão. 
Muitos acidentes  e algumas mortes já ocorreram nessas viagens de regresso. Essas mortes deviam, em minha opinião, ser contabilizadas como "Mortes por excesso de zelo". Se não existisse esse cerco colossal que se verifica há mais de uma década a Seia, os jovens senenses que morreram nesses acidentes poderiam ter sido salvos. Poderiam ter ficado por Seia. 
E estariam vivos.  
Esta é uma estúpida subversão do princípio da segurança rodoviária.





É duro dizê-lo mas alguém tem que o fazer.

Mas porque é que só em Seia existe este cerco diário?

Porque é que há residentes em Lisboa, Porto, Coimbra... que só sopram à chegada a Seia? Passam por Coimbra, Viseu, Porto, Nelas, Oliveira e vêm soprar à rotunda do Pingo Doce?

A resposta está, em grande parte, no excerto do Diário da República que publico no fim deste texto: 
O Tenente Coronel aqui nomeado era Alferes antes de chegar a Seia.
Em 6 anos foi promovido a Capitão e Major. E agora é já Tenente Coronel embora aqui na atribuição desta medalha ainda figure como Major. Não sei porquê.
Vários louvores e medalhas por serviços distintos prestados. Muitas promoções. Basta consultar o seu nome na net e contabilizar o nr de entradas em que se referem as suas várias promoções.
Essa brilhante carreira foi conseguida à custa de ter transformado Seia na Campeã da Criminalidade em 2 dos 5 anos em que cá esteve. Tivemos inclusive honras televisivas por esse grande Feito!

Mas então ... quais foram os milhares de crimes resolvidos sob o comando deste brilhante militar? 
Roubos? Assaltos? Homicídios? Vandalismo?
Não. Apenas crimes por condução sob o efeito do álcool. 

Como eu escrevi num jornal local na altura: 
"Quem estende uma rede a toda a largura do rio, 24 horas por dia, tem que fatalmente apanhar muito mais peixe do que quem pesca, esporadicamente, à linha."
Todas as segundas feiras o tribunal enchia com 10, 20 e 30 pessoas que tinham sido fiscalizadas no fim de semana.


Espero que a partir deste caso absurdo da detenção do condutor abstémio, a GNR seja forçada a fazer manutenção aos seus aparelhos mais periodicamente.