Na próxima semana irá prestar depoimento no Tribunal de Seia um condutor abstémio há 20 anos que foi fiscalizado e acusou um nível de alcoolémia significativo.
Como é que isto é possível?
Há muito que se ouvem histórias aqui em Seia sobre condutores que, no decurso de uma fiscalização e apesar de jurarem a pés juntos que não beberam ou que beberam muito pouco, a verdade é que nos "balões" aparecem valores altíssimos.
O cúmulo é o caso de condutores abstémios há vários anos que acusaram álcool... e não foi pouco!
O que é que se passa em Seia, afinal?
Das duas uma: ou os aparelhos a uso estão mal calibrados ou têm excesso de uso.
Os aparelhos têm que ser calibrados anualmente e muitas vezes essas datas não são cumpridas, como já se verificou em processos que chegaram aos Tribunais por todo o país.
Mas mesmo que estejam dentro do prazo de validade anual entre aferições - e tal como acontece com todos os equipamentos electrónicos que se destinam a aferir valores rigorosos - essa aferição é feita por intermédio de conversores analógico-digitais que têm um determinado número de utilizações previstas / ano. Se realizarem o dobro ou o triplo das fiscalizações para as quais o aparelho foi desenhado, o CMOS que recolhe o ar expirado pode degradar-se muito rapidamente, tal como acontece com as máquinas fotográficas, de filmar, ou outros aparelhos que usem conversores analógico-digitais idênticos.
Vamos lá a saber: como funcionam os "balões"?
No Caso dos detectores de corpos cetónicos (vulgo "balões") usados pela GNR, os aparelhos não detectam álcool mas sim CETONA que resulta do efeito da queima da gordura pelo fígado.
A concentração de corpos cetónicos no ar expirado é que é a única variável medida e não qualquer concentração de álcool no sangue que não poderia ser medida por métodos não invasivos.
Esses corpos cetónicos são o resultado da queima de acúcares e gorduras pelo fígado como consequência da ingestão de álcool mas também de vários outros factores como a ingestão de medicamentos (nomeadamente antidepressivos), dietas ou jejuns prolongados.
Por isso é comum ouvir-se dizer que um determinado condutor "acusou" álcool logo de manhã e naturalmente garantia não ter ingerido qualquer bebida alcoólica nessa manhã.
O comentário brejeiro salta logo: "pois não! Ainda foi o de ontem!"
O comentário brejeiro salta logo: "pois não! Ainda foi o de ontem!"
Mas isso também não é assim.
O corpo humano de um adulto metaboliza em média apenas o equivalente a 0,1g/ litro de sangue por hora, pelo que não adianta a ninguém tentar ganhar tempo durante uma fiscalização.
Mas se o condutor, depois de uma tarde de copos, vai para casa, o que resta da noite e o sono (8-10 horas) é suficiente para fazer baixar de 0,8 a 1,0 g/l.
Mas se o condutor, depois de uma tarde de copos, vai para casa, o que resta da noite e o sono (8-10 horas) é suficiente para fazer baixar de 0,8 a 1,0 g/l.
Se de manhã ainda acusa mais de 0,5 g/l, o condutor teria que se ter deitado com uma valente carraspana! E naturalmente não estaria em condições de conduzir logo na manhã seguinte.
Portanto trata-se de um mito que importa desmistificar.
Então se não bebeu porque é que "acusa"?
Sem falar na possível ingestão de medicamentos "fortes" como anti-depressivos ou "aspiradores de gorduras" tão em moda hoje em dia e que podem confundir em muito os valores lidos, basta que o condutor não tenha jantado no dia anterior nem tomado o pequeno almoço nessa manhã e já vai de certeza acusar corpos cetónicos no ar expirado, que o balão "confunde" com a ingestão de álcool. E não é.
De facto, pessoas em dietas prolongadas ou rigorosas, como a dieta de Atkins, ou em jejum prolongado também apresentam corpos cetónicos no hálito em virtude da ausência de hidratos de carbono provocados pela dieta. Em consequência dessa dieta ou jejum drástico, o organismo também queima gordura.
O ar exarado dos pulmões contém esse sub-produto da queima da gordura pelo fígado (cetona) e os "balões" da GNR o que fazem é apenas quantificar a concentração desses corpos cetónicos no ar expirado.
Os "balões" detectam a presença desses corpos cetónicos nos seus conversores CMOS analógico-digitais (idênticos aos que usam as máquinas fotográficas digitais para medir a luminosidade ou os microfones digitais para processar o som) e convertem essas concentrações - através de um algoritmo previamente programado na memória interna do microprocessador neles existente (EPROM) - num equivalente expectável de concentração de álcool no sangue.
Poucas coisas se imagina menos fiáveis do que este sistema. Basta uma alteração no algoritmo de conversão - que qualquer programador saberá inserir inclusivé através do próprio teclado - para que os valores que apareçam no visor indiquem o que se quiser.
Mas parece que ainda não há outro sistema melhor. Pelo menos foi este o sistema que a GNR e a PSP compraram.
EXCESSO DE USO por excesso de zelo
Mas nem é preciso imaginar-se uma situação tão sofisticada. Basta que o CMOS do aparelho tenha tido um uso mais intensivo do que aquele para o qual foi produzido para que os valores que nos aparecem no visor se tornem pouco fiáveis e até mesmo aberrantes.
Numa aproximação que parece mais humorística do que real, digamos que a partir de uma certa frequência de utilização, o CMOS do balão começa a ser pouco fiável porque começa a confundir a cetona que está a receber naquele momento com os resíduos que naturalmente reteve das milhares de colheitas (sopros) que já fez. E com os quais foi milhares de vezes bombardeado.
É como se estivéssemos a soprar em cima do sopro residual dos outros.
O CMOS ganha "vício" como acontece com uma máquina fotográfica que tire muitas fotos ao sol. Ao fim de um determinado nr de exposições e por mais que se desligue a máquina e volte a ligar, um "sol" ficará sempre presente em qualquer foto que tiremos a seguir.
Dizemos que o CMOS queimou. O mesmo acontece com qualquer tipo de conversor analógico-digital que tenha um uso muito acima do previsto e para o qual foi desenhado.
O mesmo também acontece, temporariamente, com a nossa retina quando fixamos um objecto muito brilhante. Nem precisa de ser o sol. Basta uma luz forte à noite. Fechamos os olhos e a luz fica lá durante vários minutos. Felizmente não para sempre porque nós temos o BOM SENSO de não olhar fixamente nem durante muito tempo para esses objectos. Ou seja: nós involuntariamente fechamos os olhos e POUPAMOS a nossa retina.
Acontece que a GNR de Seia não poupa a "retina" dos balões!
Acontece que em Seia, como todos sabemos, não há um só dia em que a GNR não faça operações stop e não mande soprar os condutores. Desde, pelo menos, 2001.
O que se questiona é: qual é a fiabilidade de um aparelho que sofre uso contínuo?
Mas mais: é frequente ouvir-se dizer que o detector quantitativo (para a realização da contra-prova, por exemplo) que deveria estar num determinado posto da GNR está avariado ou em manutenção.
Pergunta-se: avariam assim tantas vezes estes aparelhos?
E a resposta é: CLARO que SIM!
Avariam devido ao excesso de uso.
A partir de um determinado uso, mesmo dentro da validade da manutenção, a depuração inicial do aparelho deixa de fazer o reset do sistema. Então a conversão deixa de ser fiável e podem aparecer números totalmente disparatados.
Na próxima semana irá prestar depoimento no Tribunal de Seia um condutor abstémio há 20 anos que foi fiscalizado e acusou um nível de alcoolémia significativo.
De muitos mais casos há notícia pública e eu aqui apelo a que o leitor que tenha conhecimento de casos destes, em que condutores garantem que não beberam ou que beberam quantidades insignificantes (1-2 cervejas) e "acusaram" uma taxa de alcoolemia significativa, os traga ao debate público.
Se não quiserem publicá-los por medo de represálias da GNR - há imensos casos destes, vá-se lá saber porquê! - enviem o vosso caso para o meu email e eu garanto confidencialidade.
Ainda mais agora que o governo quer reduzir a taxa de alcoolemia permitida para 0,2 g/l.
Se os aparelhos não estiverem bem calibrados, uma simples mini já será o suficiente para contra-ordenação quando, para uma constituição de um homem adulto normal, seriam precisas 5 minis para lá chegar.
Todos temos que fazer alguma coisa para que esta situação irregular seja corrigida. Há dezenas de condutores que garantem que não beberam e pagaram multas e ficaram inibidos de conduzir durante meses.
O leitor pode ser o próximo.
É imperioso e da mais elementar justiça acabar com estes erros grosseiros.
E qual o impacto para a economia local desta lei seca?
Ruinoso para restaurantes, bares e discotecas. Que aliás em Seia nunca singraram exactamente pelo cerco de que sempre foram alvo.
E ruinoso para o turismo de uma forma geral.
É muito comentado o caso caricato de um casal do Norte que veio casar aqui a Seia e ficaram os 2 noivos sem carta!
Foi a prenda de casamento da GNR que se colocou à saída da quinta e - como é de esperar - conseguiu dezenas de contra-ordenações.
O estado agradece o dinheiro assim obtido.
A economia local é arruinada.
Imagine-se a publicidade que estas centenas de pessoas vão fazer para as suas terras e junto dos seus círculos de amigos sobre este inacreditável CERCO que há mais de uma década a GNR tem mantido a Seia!...
Os jovens são forçados a ir para Oliveira e Viseu para se divertirem aos fins de semana à noite. Porquê? Porque nessas cidades impera o bom senso e ninguém os aborda sistematicamente à saída dos bares e casas nocturnas. Ninguém os manda soprar no balão.
Muitos acidentes e algumas mortes já ocorreram nessas viagens de regresso. Essas mortes deviam, em minha opinião, ser contabilizadas como "Mortes por excesso de zelo". Se não existisse esse cerco colossal que se verifica há mais de uma década a Seia, os jovens senenses que morreram nesses acidentes poderiam ter sido salvos. Poderiam ter ficado por Seia.
E estariam vivos.
Esta é uma estúpida subversão do princípio da segurança rodoviária.
É duro dizê-lo mas alguém tem que o fazer.
Mas porque é que só em Seia existe este cerco diário?
Porque é que há residentes em Lisboa, Porto, Coimbra... que só sopram à chegada a Seia? Passam por Coimbra, Viseu, Porto, Nelas, Oliveira e vêm soprar à rotunda do Pingo Doce?
A resposta está, em grande parte, no excerto do Diário da República que publico no fim deste texto:
O Tenente Coronel aqui nomeado era Alferes antes de chegar a Seia.
Em 6 anos foi promovido a Capitão e Major. E agora é já Tenente Coronel embora aqui na atribuição desta medalha ainda figure como Major. Não sei porquê.
Vários louvores e medalhas por serviços distintos prestados. Muitas promoções. Basta consultar o seu nome na net e contabilizar o nr de entradas em que se referem as suas várias promoções.
Essa brilhante carreira foi conseguida à custa de ter transformado Seia na Campeã da Criminalidade em 2 dos 5 anos em que cá esteve. Tivemos inclusive honras televisivas por esse grande Feito!
Mas então ... quais foram os milhares de crimes resolvidos sob o comando deste brilhante militar?
Roubos? Assaltos? Homicídios? Vandalismo?
Não. Apenas crimes por condução sob o efeito do álcool.
Como eu escrevi num jornal local na altura:
"Quem estende uma rede a toda a largura do rio, 24 horas por dia, tem que fatalmente apanhar muito mais peixe do que quem pesca, esporadicamente, à linha."
Todas as segundas feiras o tribunal enchia com 10, 20 e 30 pessoas que tinham sido fiscalizadas no fim de semana.
3 comentários:
quem acusa no teste do balão tem sempre o DIREITO de pedir um exame sanguineo.. pelo que embora concorde que em Seia se usa e abusa do balão... quem sabe disso pode e deve pedir que lhe seja retirado sangue para analise .. para assim provar a sua inocencia
Isso é na teoria.
E quem - como eu - se recusar a ser picado? A Declaração Universal dos Direitos do Homem não é para respeitar em Seia? A obrigatoriedade de recolha de sangue só existe em 2 situações: acidente com feridos e impossibilidade de contraprova num aparelho identico àquele em que se fez o teste. Sabe onde se encontra esse aparelho? Em Paranhos ou em Gouveia. E a GNR pretende cobrar por esse serviço. A um amigo meu da Covilhã pediram 300 euros. No facebook há já outros comentários em que se denuncia o mesmo. Na prática esta exigência de pagamento de importância exorbitantes - deslocação da viatura e imobilização de 2 praças - da GNR que agora parece ter pegado é ilegal e inconstitucional. Todos temos direito a exigir a contra-prova GRATUITA!
A contra prova de sangue é mesmo a melhor.
Mesmo com pavor a agulhas, caso para dizer: que se lixe.
nao quero é a multa nem ficar sem carta.
Se for um direito tudo bem.
Posso sempre recusar a soprar ao balao e pedir logo analise ao sangue. Nao sei.
Exemplo que pede:
Fevereiro deste ano.
Sai do Preto e Branco por volta das 2h. Um bocado antes.
Estavam -6ºC.
Antes de ir pra casa, desci à Rotunda D. Afonso Costa para carregar o telemovel.
Estou a passar a Queijaria quando vejo este cenário.
2 Carros do lado dos CTT, um deles a mandar cortar para o Mercado pra parar e outro a mandar parar à frente dos CTT.
Outro carro à frente da C.C.Agricola a mandar parar os que vinham de cima e mais dois carros na zona dos taxis a mandar parar os que vinham de baixo.
5 Carros numa noite gelada.
Fui mandado parar e pediram-me os documentos da viatura e os meus.
Pediu-me o papel da inspecçao. Falhou-lhe a data do carro que tinha sido comprado em 2010. Inspecçao é 4 anos depois.
Apeteceu-me rir.
Depois perguntou se eu tinha bebido.
Disse que sim. Por volta das 22h/23h.
Nao disse o que mas foi Um Martini. Fraco para a quantidade que era e para a comida que eu tinha ingerido.
Impossivel acusar.
Pediu-me para sair do carro. Educadamente pedi para soprar dentro do carro por causa do frio.
Burro eu, nao tinha casaco e com -6ºC.
Mandou-me sair e deslocar-me a outro carro, na zona dos taxis para soprar.
Um detalhe:
Olhei para o autocolante da calibraçao do equipamento (habito de trabalhar num laboratorio).
Pareceu-me ok, nao falei no certificado e da incerteza associada. Afinal de contas.
1,0 g/L pode nao ter uma incerteza significativa...
mas para valores baixos talvez tenha. Quanto mais baixo o valor a detectar, mais dificil se torna. Quimica analitica básica.
E como na quimica analitica e instrumental... ha equipamentos muito bons e detectam facilmente valores baixos. Outros sao uma miséria e é uma desgraça para os detectar.
É assim e ponto final.
Seguindo, sai do carro e la fui soprar ao balao.
Como disse que tinha bebido, o GNR estaria à espera de algo certamente. Entendo.
Soprei e 0,0 g/L.
"Importa-se de soprar novamente. Nao foi com força".
Descansado da vida, voltei a soprar.
0,0 novamente.
Cheio de frio, pedi para ir embora ao qual me pede para soprar noutro balao.
"Este balao pode nao estar a funcionar mt bem".
Ao qual respondi algo do género:
"Pois mas isso nao será problema meu, contudo ja soprei duas vezes, nao iria acusar com o que bebi e estou cheio de frio. Compreendo que me peça para soprar mas se tivesse dito que nao tinha bebido, ja estaria no carro"
Nao foram bem estas palavras mas dá para entender.
"pois mas sabe, sao ordens".
Como nao estava para arranjar problemas como nao Respeitar a autoridade (ja ha casos desses) e ainda fazer alguma queixa minha...~
alem de que nao havia ninguem ao lado pra testemunhar, soprei noutro balao e vim-me embora.
Fiquei completamente irritado com esta situaçao.
Embora perceba que ordens e eles seguem e nao "refilam", a verdade é que é um abuso.
Assim que entrei no carro, meti 4 piscas peguei no telemovel e fiz uma chamada.
Mais concretamente a avisar que a policia e os 5 carros estavam ali.
Mesmo no escuro, um policia reparou que eu estava cm algo na mao e falou a outro.
Rapidamente se meteram nos carros.
dei meia volta à Camara Mun e dps fui atras deles.
Sairam os 5 carros p/ Sao Romao e começaram-se a dispersar para as saídas.
Eu muito poucas vezes vou a Seia, mas incrivel que as semanas passam e passam e as conversas sao sempre as mesmas.
Triste mas verdade.
Gostaria de saber quantos sumários de alcool tem o tribunal de Seia por fim de semana e quantos têm as outras cidades.
Mas bem, isto para dar um exemplo simples de algo que me aconteceu a mim e ainda bem que o outro balao nao acusou, se nao tinha ali uma boa trapalhada para resolver.
Mas se acusa-se como era?
Ainda estou pra saber o que faria.
Mas lá teria de pedir mais outro balao pra despistar ou ia pro hospital.
Alguem pagava e nao era eu.
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