11.13.2004

As imagens da semana

Aqui vai um relance sobre algumas imagens televisivas que me merecem comentários. Não há critérios jornalísticos envolvidos. São apenas algumas das coisas que mais me chamaram a atenção num país que não se encontra e num mundo completamente desorientado.

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Começamos com mais esta fífia de Bush: Não vamos fazer um exército de voluntários! Queria dizer precisamente o contrário. A gafe é o menos importante. O mecanismo desenvolvido pelo Senhor da Guerra para dar a volta à situação é que é preocupante: com a maior calma do mundo, e depois de lhe terem "soprado" que a frase era ao contrário, o WarLord apoia-se no púlpito e diz exactamente o oposto com um sorrriso de contentamento genuíno. O povo, atrás de si, delira! Quer dizer: tanto faz! O povo é estúpido como uma porta, e por isso, está tudo OK.
Quem o afirma peremptóriamente é este comentador da TV americana: «Os americanos são um povo muito inculto e não sabem o que se passa no mundo. Só 10% têm passaporte e quando saem do país vão para o Canadá, que não é muito diferente. Por isso não têm ideia do que se passa no planeta. Sabem apenas o que a TV lhes dá.»

Mário Soares, do alto da sua não dependência do mundo politiqueiro lá vai cascando em Bush e apoiando Kerry. E vai dizendo muitas das coisas mais acertadas da sua vida.
Pena foi que o não tivesse posto em prática enquanto teve o poder para mudar o rumo deste país. Como comentarista, num país de analfabetos, tem tanta utilidade como o prof Martelo. Ou eu.
Quem tem cabeça para pensar não precisa da sua ajuda e quem a não tem também não percebe o que diz.
Estamos, portanto, perante um fenómeno de inutilidade prática que só encontra alguma justificação no arquivamento histórico dos seus pensamentos para memória futura.
Por cá, ao presidente Cenourinha saíu a sorte grande: Um prémio de 90 mil euros que se apressou a informar não compartilhar com ninguém «que os tempos estão difíceis». Vai mesmo ficar com o pastel todo e está o problema resolvido. Era curioso que se lhe perguntasse por alma de quem ganhou ele aquele prémio de «contributo para a unificação da Europa». Eu não descortino o que terá feito Sampaio nesse domínio. E, se fez alguma coisinha pela Europa, terá sido nas férias ou durante o tempo de trabalho como Presidente da República Portuguesa? É que se foi este o caso, então não se percebe como recebe um prémio particular pelo desempenho de cargo público já remunerado pelos nossos impostos...
Mas estamos em Portugal, ninguém pensa nisto, de maneira que está tudo bem. Seguimos para Bingo.
No Norte, as coisas continuam complicadas para o major Valentão.
Conseguiram tirar-lhe o tapete e agora, qual Vale e Azevedo em desgraça, cai-lhe tudo em cima.
Por mais que fale e estrebuche ninguém acreditará nele. Se tiver sorte e os amigos de sempre lhe não forem falhando, pode ser que se consiga livrar desta com uma travessia no deserto de 3 ou 4 anos. De qualquer modo tem as botas arrumadas. Não por causa da Justiça, nem pelo fisco, claro. Mas pela falta de credibilidade notória da qual nunca mais se livrará. Porque - tenhamos bem presente - o verdadeiro mal em Portugal não é o ser-se criminoso; mas sim o escândalo da transparência do crime para a praça pública. E toda a gente sabe que todos os negócios envolvendo o futebol são sempre mais do tipo anti-cristalino...

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No futebol - o único assunto da semana, tirando o da malograda pequena Joana desaparecida - aí temos os multi-milionários analfabetos aos gritos uns com os outros. Desde os dirigentes aos líderes das claques venha o diabo e escolha. É difícil elaborar uma escala de estupidez com o mínimo de rigor, quando entramos no âmbito futeboleiro-profissional e quanto mais alto o cargo ocupado, pior. É caso para perguntar que estranho fenómeno labora por detrás da nomeação de semelhantes alimárias para os mais altos cargos associativos, que deveriam revestir-se de sérias representatividade, elevação e categoria quanto mais não fosse pelo historial das colectividades que representam.
Pergunto: Será que, para que os clubes consigam sucesso desportivo, hoje em dia, os seus presidentes têm que estar perfeitamente identificados com o nível cultural dos adeptos?
Se for essa a condição, está tudo explicado.
David Borges chama aos dirigentes «trauliteiros» e diz que o futebol é, neste momento, um nojo. Que quem estragou tudo foi a falta de cultura dos dirigentes, aproveitada por alguns jornais. Diz que os adeptos são perfeitamente mentecaptos e querem é sangue. E diz isto na Sic Notícias sem receio rigorosamente nenhum de represálias ou de ferir suceptibilidades.
As pessoas, quando têm inteligência e sorte, chegam a status em que não precisam de amordaçar as suas consciências. Geralmente é mais tarde na vida - como Soares. David Borges disse tudo o que não podia ser dito num país de obscurantismo cultivado e caciquismo activo. E não lhe aconteceu nada. Bem Haja!
E bem haja também a Júlia Pinheiro por nos trazer a perspectiva contrária à de David Borges. Por nos recordar que vivemos num país de mentecaptos que conversam com burros, com galinhas, patos e "pirus".
Obrigado, Júlia, por nos mostrares a riqueza da tua verdadeira personalidade. Tu e o Pavarotti têm contribuído - nem imaginas quanto - para o desanuviamento da cabeça de muitos preocupados da vida, que têm a desventura de não ter nascido atrasadinhos mentais. Pessoalmente tenho que te agradecer pelas genuínas gargalhadas que tenho soltado de cada vez que te vejo falar empenhadamente com o burro.
Depois imagino o teu marido e os teus filhos a verem aquilo.
E aí fico mais triste.
Porque sou forçado a concluir que a prostituição de rua é, dentro do leque das opções possíveis de sobrevivência a uma mulher madura não profissionalmente qualificada, cada vez mais uma profissão de respeito. As prostitutas apenas alugam o corpo - que é apenas um objecto sem grande valor comercial e é apenas uma parte desprezível da Pessoa enquanto ser inteligente - durante minutos. Tal como o fazem as operárias numa fábrica, e as funcionárias num escritório.

Mas tu alugas o teu cérebro - e o teu cérebro, Júlia, é que és tu! Percebes? - Não és a tuas pernas nem o teu rabo. Não és também a sirene vocal com que vieste equipada ao mundo. Ninguém fala com os teus seios, intestinos ou verrugas.
Quando se fala contigo, Júlia, fala-se com o teu cérebro, mulher!
E a ti mandam-te falar com o cérebro do burro, durante todo o tempo do programa. E tu aceitas...!
És mais uma peça ridícula na máquina devoradora de inteligência que é a TVI. Na sua abnegação imoral de engrossar o rebanho de alienados para essa causa execrável e criminosa: a da estupidificação sistemática do povo já de si mais estúpido da Europa.
Bem hajas, também, por nos dares essa perspectiva.
E boa sorte para as tuas conversas com o burro.
Com um bocado de argúcia ainda consegues fazer-te uma sua "amiga colorida", como agora se diz.

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