12.01.2004

Joana está para a PJ assim como a Casa Pia está para os Tribunais

Fiquei espantado com o programa da manhã da SiC cujo final foi dedicado ao caso Joana.
Pensei que já ninguem se lembrasse dela, agora que a Judiciária finalmente percebeu que, desde que não lho indiquem realmente, nunca conseguirá descobrir o corpo e portanto deixou de «amandar postas de pescada» para a comunicação social.
Afinal ainda há quem se lembre de mais esta exibição nacional da incontinência e incompetência da polícia que nos orgulhamos de ter.
Enquanto pensava que era "trigo limpo", a Judiciária, talvez evidenciando resquícios de procedimentos comuns antes de 1974, não se poupou a enviar notas informativas para tudo quanto eram televisões. Numa segunda fase, quando começou a perceber que afinal a coisa não era assim tão fácil, optou por fugir para a frente, tentando desviar as atenções que fez recair sobre si, alvitrando hipóteses cada vez mais inverosímeis e taralhoucas para empatar a comunicação social e evitar cair de imediato no ridículo, esperando, portanto, que o tempo apagasse mais este monumental flop, sempre sem perceber que estava a dar sucessivos tiros no pé.
Por fim, fez o que devia ter feito no início: calou-se muito bem caladinha e espera agora que a crise passe. Entretanto sempre se apanham uns "coelhos" correios da droga - que são enviados de propósito para serem apanhados para que o grosso dos carregamentos passe ao lado - e vai-se distraindo o povão, apostando na sua diminuta memória, esperando que este continue a manter uma imagem da PJ portuguesa de uma excelência e qualidade que, de facto, não tem.
Aprendi com sir Arthur Conan Doyle que nem todos os crimes têm solução. Dizer que não há crimes perfeitos é a maior mentira do planeta.
Mas também ele, o percursor da polícia científica, ensinou que um bom investigador tem que ser essencialmente recatado e nunca exuberante. Ainda menos quando não está na plena posse de todas as respostas para todas as questões.
O mínimo que se pode concluir é que nem todos os investigadores da PJ portuguesa o leram. Porque em Portugal, pelos vistos, nem é necessária grande excelência por parte do criminoso para que não seja descoberto. Basta quase que não se denuncie. Mas isto é assunto para outra crónica.
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Coitadas das milhares de Joanas por esse país fora... e coitados de nós que acabamos por vir a saber do duplamente infeliz desfecho desses casos.
Que feliz me deixam aqueles milhares de casos dos quais as televisões nunca chegam a saber....

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