1.12.2007

Cine-Eco: Um Festival que o não é, com um júri que nunca o foi, para um público que não existe.


A pedido de muitas famílias (eu até já me tinha esquecido disto) aqui está na íntegra o artigo que enviei em 8 de Novembro último para o Porta da Estrela e que foi, como se esperava, censurado por esta actual direcção.

O dono do negócio CineEco, Lauro António, decidiu oferecer-nos, na sessão de inauguração desta sua feira anual, mais um momento daqueles que o imortalizaram nas rábulas de Herman José.
Nessa sessão, entre 2 pedidos e "ameaças" de beijos na boca à Lili Caneças, em pleno palco, e uma pergunta directa sobre se a "socialite" tinha ou não namorado - tudo assuntos do maior interesse para a Cine-Eco e para Seia - Lauro A. diz que ela «está ali a fazer o que qualquer pessoa faria».
Não terá sido grande elogio, reconheça-se, e mal se percebe, assim sendo, porque a terá convidado…
Mas, não satisfeito, logo a seguir remata com coroa de glória: «(a Lili) está a fazer o que faria essa pessoa que fez a pergunta (eu, na Assembleia Municipal), se tivesse competência para estar ali.»
Mas então, vejamos: se ela não tem reconhecidamente qualquer competência específica para «estar ali», e se qualquer outra pessoa «podia estar ali no seu lugar» - donde se depreende que a ninguém é exigida a mínima competência para ser júri da Cine-Eco, nas próprias palavras de Lauro A. - porque é que eu (e apenas eu) teria que a ter?
Uma calinada sem «look at a treila».

Mas, sem o saber, Dérmio acaba por ter razão (ou, como se diz em americano, «he raits»).
Eu, de facto, não tenho competência para ser júri da Cine-Eco.
1º - Porque não conseguiria vir à sessão de abertura e pôr-me a andar para Lisboa logo a seguir, sem ver filme nenhum. («bute Lisbon, films no see»)
2º - Porque não teria estômago («gâts») para visionar as obras a concurso num auditório e num cinema às moscas («moscates») e com apenas metade do júri presente.
3º - Porque não consigo digerir aquelas quantidades industriais de queijo da serra bem regado («regate») necessárias para conseguir acompanhar, todas as noites, até altas horas da manhã, aquele grupo de árduos trabalhadores em prol do Festival. Estive lá, há uns anos, duas noites no bar do Hotel e, sinceramente, reconheço que nunca terei fígado capaz de aguentar aquele ritmo de trabalho.
4º - Porque também reconheço não possuir o perfil adequado à escolta de celebridades 24 sobre 24, nem para arrastar “socialites” o dia inteiro pelos cafés de Seia.
5º - E – mas isso é o que menos lhes interessa - porque não consigo detectar NESTA Cine-Eco uma qualquer utilidade que seja para Seia ou para o Concelho. Não lhe vejo criar quaisquer públicos, só lhos vejo perder de ano para ano. Este ano, então, bateram-se todos os recordes de ausências de espectadores. Era curioso apurar, com números reais e não com aqueles fabricados pelos artistas do costume, quantos bilhetes foram EFECTIVAMENTE vendidos em 10 dias. O site da câmara anunciava, o mês passado, que a Cine-Eco mobilizava 10 espectadores anualmente. É justo. Um espectador por dia, tirando as crianças das escolas.
Mas mesmo assim, eu estou farto de os contar e só chego até 8…

Não existe, na Cine-Eco, a mínima sensibilização de públicos para o ambiente e, sendo um certame de cariz ecológico, é por demais ridículo e despropositado que a organização leve as crianças das escolas a ver… o Super-Homem.
E também não se entende como pode um certame destes, realizado em plena Serra da Estrela, ter a malvadez de premiar um documentário que ridiculariza os pastores, explorando comercialmente a sua ignorância e iletracia, e reduzindo-os a meras curiosidades zoológicas, sem perceber o Bem que os Pastores fazem à nossa Terra, tanto a nível ecológico como empresarial.

De facto, caro comerciante de festivais, não é só para ser júri de uma indignidade destas que não tenho competência.
Tal como 99,99% dos senenses, também não tenho competência para ser sequer espectador de tal fraude que, em 12 anos de vida e muitas dezenas de milhares de contos gastos, não incentivou a produção cinéfila local, não levou ninguém a interessar-se pelo Cinema nem pelo Ambiente, não conseguiu qualquer ligação cultural à comunidade.

Depois de mais de 100 mil contos esbanjados, este não-evento falhou até na vertente mediática e promocional da cidade e da região a ponto de - nas palavras do próprio Lauro A. - ter que se ir buscar uma Lili Caneças ao inútil Jet – Set nacional para que alguém (quem? As revistas cor-de-rosa?) falasse na CineEco e em Seia!

A falta de jeito e de profissionalismo para estas coisas é tal que até o funcionário da câmara destacado para ir à televisão (RTP1) promover a Cine-Eco, passou a maior parte do tempo a falar… do Museu do Pão!

ESTA Cine-Eco esvaziou-se e reduziu-se àquilo que, de facto, é: um mero negócio para Lauro António, que tem outros negócios iguais a este por esse país fora, os quais também ninguém conhece nem deles nunca ouviu falar.
Assim ganha a vida e está no seu direito.

Não está é no direito de nos vender gato por lebre.
Um Festival que o não é, com um júri que nunca o foi, para um público que não existe.

Cabe a Eduardo Brito pôr cobro a este não-acontecimento, fechando-lhe a torneira, como o fizeram todas as entidades oficiais ligadas ao Ambiente.
Ou revesti-lo de um profissionalismo que nunca teve e inserir-lhe uma componente didáctico-científica que também não existe, deslocalizando os documentários recebidos em formato DVD / Beta-CAM para o CISE, por exemplo. Onde técnicos especializados dariam, ao vivo, a devida complementaridade científica na sensibilização do público que hoje não há, mas que certamente assim se começará a criar.

Quanto aos “directores e organizadores” locais, se o que os faz correr são apenas as já costumeiras férias de Carnaval no Brasil, a CMS que lhas pague num hotel de 5 estrelas.
Fica tudo satisfeito e pouparemos 58.000 €.
Por ano.

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