10.07.2012

E se a barragem da Lagoa Comprida colapsasse? PARTE III


3º - 5 Possibilidades de colapso

Na foto acima estão esquematicamente representadas as 5 hipóteses de colapso natural. Como veremos adiante, mesmo em caso de ataque terrorista os efeitos do colapso artificial reduzir-se-ão, em poucos segundos, a uma situação equivalente a combinações matemáticas destes 5 percursos.

Na sequência de desmoronamento natural (tremor de terra) ou artificial (atentado) nesta 3ª secção da barragem (Oeste) basicamente 3 tipos de cenários seriam de esperar.

COLAPSO TIPO 1
Se o desmoronamento se limita à àrea 1, trata-se do caso mais simpático. A altura da água nessa região é reduzida pelo que seria provável que a força provocada na área desmoronada pudesse ficar confinada a essa área. Teríamos um vazamento de pouco mais de 1 milhão de metros cúbicos e provavelmente a água, ao ultrapassar a zona desmoronada não teria força suficiente para arrastar o resto do paredão oeste consigo. E porquê?
Porque a juzante o terreno tem um desnível pouco acentuado, 4 a 5 metros, pelo que a energia potencial gravítica da água não é muito elevada. O que aconteceria provavelmente é que a barragem vazaria a baixa velocidade inundando toda a área à frente da barragem e escoar-se-ia calmamente pelo que à frente denominarei o "Funil Fatal".
Mas como a diferença de altitude não é relevante, provavelmente - e quanto mais à direita se verificasse o rombo (situação 1) menos perigo  existiria - o resto da construção não seria muito solicitada ao cisalhamento (corte) da água, pelo que muito provavelmente a situação 1 não se revestiria de grande perigo para as populações a juzante, que já veremos quais são.
Para já, adiantaremos que a água se escoaria naturalmente pelo vale do Alva ganhando progressivamente velocidade mas perdendo, com a distância, grande parte do caudal que ficaria retido pelos obstáculos naturais.

O mecanismo e o movimento de descida da água

Basicamente é tudo um problema de velocidade da água na descida. E da sua quantidade, naturalmente.
Mas retenhamos, para já, este conceito: a água que vem atrás "EMPURRA" a que está à frente, e acaba por lhe passar por cima, já que esta, em contacto com o solo se "atrasa". E esta água veloz usa a camada inferior como lubrificante no seu movimento. Imagine-se, pois, as velocidades que este agente demolidor de 1 milhão de toneladas pode atingir. Fácil é chegar aos 200 kms/hora se a queda for íngreme como acontece no Funil Fatal.
Teremos portanto basicamente 2 velocidades na descida.neste movimento "enrolado". Felizmente, ao servir-se da camada inferior como pista sem atrito, a água da camada superior ultrapassa-a e entra em contacto com o solo, abrandando drasticamente a sua velocidade.
Nesse momento é submergida pela camada que vem atrás e a empurra.

As 3 variáveis no movimento de descida

Portanto tudo depende de três grandes variáveis: diferença de potencial gravítico (altitudes inicial e final), caudal em cada momento (probabilidade de ultrapassar obstáculos ou ser detida por eles) e velocidade de descida na forma de Quantidade de Movimento. 
É esta Quantidade de Movimento -  que é o produto da Massa (da água) em deslocação pela (X) a Velocidade da água em cada momento - que determina se não morre ninguém ou se vai morrer toda a gente, sem ninguém ter tempo de abrir a porta de casa para poder fugir.

Voltando ao cenário 1 
Se colapsar apenas a zona 1 não haverá grande problema. O Funil Fatal de ataque à descida e o vale do Alva encarregar-se-ão de ir dispersando a água (atrasando uma parte dela relativamente a outra, pelo que não se prevê nada mais que uma bela cheia na Sra do Desterro - provavelmente algumas das capelas e o próprio Museu da Electricidade desapareceriam, seguidamente a ponte de Vila Cova ficaria de certeza submersa durante uns minutos, seguindo-se Sandomil, Penalva de Alva e restantes aldeias e vilas ao longo do Rio mas cada vez com menos intensidade.
Em princípio, se estivermos a falar de um rombo localizado na zona 1 com perda total de 1 metro de água - o tal milhão de litros - com toda a dissipação ao longo do trajecto só haveria perigo na Sra do Desterro e em Vila Cova mesmo, passados poucos segundos, como calcularei em seguida. Registar-se-ia uma subida de águas que, atendendo a uma largura do rio de cerca de 30 metros na zona urbana de Sandomil e que essa zona terá cerca de 300 metros de comprimento, e estimando que esse milhão de litros demoraria 2 minutos a passar (provavelmente demoraria até mais) a altura da água poderia chegar ao metro de altura (92 cms).  Mas destes cálculos falaremos adiante nos cenários menos simpáticos.

Portanto: Cenário 1 (o simpático) - rombo no paredão Oeste com perda de 1 milhão de litros (1 metro em altura) varreria a sra do Desterro, submergindo completamente as margens do rio e submergiria os fundos de Vila Cova levando provavelmente a fábrica situada mais abaixo junto do rio. Depois prosseguiria mais calmamante o seu caminho até Sandomil onde os seus efeitos já não se fariam notar. 



O pior está para vir... ninguém imagina o que esta beleza pode fazer se a parede rompe... (continua amanhã)
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