10.26.2006

Vou ensinar os filhos dos que me insultam

Quem bem está a começar este dia! - dizia eu.
E se o bacharel, hoje, não aumentasse nenhum imposto, nem inventasse nenhuma portagem, nem taxas moderadoras para acesso ao oxigénio e se, por ser dia 19, não retirasse a última "côdea" da boca dos pobres, como dizia o grande e saudoso Professor Ferreira?
«- Um Homem fala alto e mija direito!»
«- Um Homem refila sempre quando tem razão!»
e, à sexta feira à tarde:
«- Vamos embora, por esses campos fora!»

Era um Grande Professor.
E comunista, em 1966.
E delegado Escolar.
Cortava resmas de folhas de 35 linhas da delegação escolar e fazia cadernos, com agulha e linha, para os colegas mais pobres, que os não podiam comprar.
Arranjava canetas (de aparo, de carregar nos tinteiros embutidos à frente nas carteiras), para todos.
Não admitia que os filhinhos de papás trouxessem borrachas cheirosas, cadernos coloridos ou lápis cheios de bonecos, porque isso constituía um insulto para com os colegas pobres.
Ali, naquela sala, éramos todos iguais.
Tudo saltava por cima das carteiras e alinhava em ordem ao canto da parede, para ser o primeiro a mostrar-lhe o problema resolvido.
Naquela Escola Primária vivíamos, todos os dias, em Democracia e em Liberdade, 8 anos antes de elas aparecerem em Portugal.
Bem hajas, professor!
Nunca te chegarei aos calcanhares, mas tento imitar-te todos os dias.


E agora, vamos lá para a Escolinha!
Hoje já não há greve.
Há aulas para dar e crianças àvidas de aprender (há sim senhor! 5 ou 6, mas ainda há!...) às quais tem que se revelar mais um pouco da Luz do Conhecimento.
E pais ansiosos por descarregarem os filhos nas escolas pejadinhas de "péssimos" professores...

É só rir, este País.
Quando reivindicamos Justiça e lutamos para que não nos roubem descaradamente, somos apelidados de "péssimos profissionais", como dizia ontem na miserabilenta tvi aquela parelha de pivots imbecis e o comenteiro noveleiro Sousa Tavares.
Logo a seguir, de manhã, os mesmos que não conseguem dizer pior dos professores, correm às Escolas para entregarem a esses péssimos profissionais o que de mais precioso têm: os filhos!
Está aqui a escapar-me alguma coisa, não?
Não!
É grunhice colectiva, mesmo!
É um bypass intelectual generalizado que provoca a ligação directa do intestino grosso ao cérebro.

Até logo.
Vou ensinar os filhos dos que me insultam.

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