2.26.2004

Seia em Análise: GNR - Mega operação gera mega coincidência


Na quarta-feira passada lá fomos referenciados nos noticiários da SIC e da TVI novamente.
Este ano vou mesmo compilar as notícias sobre Seia no que se refere à criminalidade e ao seu combate nos telejornais nacionais. Tenho a certeza que não há outra cidade do interior nem sequer bairro problemático no país que se lhe possa comparar em mediatismo.
O ano passado, em Abril, já tínhamos aparecido em 11 serviços noticiosos televisivos nacionais. Depois desisti de contar.
Este ano, em Fevereiro, vamos já com quase o dobro, mas também devido ao macabro caso da Teixeira. Da Cova da Moira, por exemplo, ainda não se ouviu falar.

Quando o Jornal Porta da Estrela chama a atenção para a criminalidade e para o consumo crescente do tráfico de droga na nossa cidade, os responsáveis pelas forças de segurança apressam-se a desdramatizar.
- «Que não senhor. Não há essa dimensão. Essas notícias são exageradas».
Volvido menos de um mês, inicia-se um julgamento sobre tráfico de droga com cerca de 60 (sessenta) intervenientes, a esmagadora maioria jovens da nossa cidade.
Menos de 15 dias após a nossa notícia sobre esse fenómeno evidente, são efectuadas rusgas em bares em Seia e em S. Romão, em que – no caso de Seia – os jovens são retirados do interior de um bar para uma varanda antes de serem revistados.
Por coincidência estava naquele momento a ser transmitido no canal Hollywood um documentário sobre o clássico: “Gone with the wind” (E tudo o vento levou).
Esta quarta-feira, uma mega-operação da GNR com mais de 100 homens envolvidos, apenas dirigida aos ciganos – vá-se lá saber porquê - foi desenvolvida em Vila Chã, Seia e S. Romão.
Nos acampamentos praticamente nada foi encontrado. Na feira, sim. Cerca de 20 mil euros de material contrafeito a serem livremente comercializados no centro da cidade e à frente de toda a gente.
Droga? nada. “Chefes”, nos acampamentos? Nem um.
Como habitualmente, e por mais uma coincidência, nenhum dos patriarcas das famílias foi encontrado.
Todos sabemos das amizades, consolidadas durante anos e anos de convívio são e fraterno, entre elementos das Forças da Ordem e alguns chefes de Famílias étnicas, frequentemente vistos em locais de diversão nocturna em Celorico e em Fuentes de Oñoro. Também sabemos que as únicas rusgas que produziram resultados verdadeiramente substanciais em Seia foram aquelas em que a própria GNR local só foi avisada quando a PJ da Guarda tinha já os acampamentos completamente cercados.
Nessa altura recolheram-se provas que conduziram à prisão de vários indivíduos.
A primeira reacção da população civil, na quarta-feira passada, foi a de tentar saber se “os chefões” se encontravam nos acampamentos, numa clara alusão aos esperados “avisos” de que as operações iriam ter lugar.
Sem pretender imiscuir-me no delinear da estratégia policial, e apelando apenas à clara evidência dos factos, ocorre-me perguntar: não seria preferível continuar a adoptar-se o método que deu resultados – o da não comunicação ao posto local das operações a levar a efeito – para diminuir a possibilidade de fugas de informação?
É que me parece que, desta forma, estas montanhas nem sequer parem ratos: escondem-nos.

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