2.26.2004

800.000 analfabetos? Upa. upa!


A propósito de um estudo sobre a morfologia do cérebro dos analfabetos (que, pelos visto é diferente dos "normais") da autoria do prof Alexandre Castro Caldas, trabalho esse que lhe valeu um prémio internacional em 99, apresentou a SIC uma peça em que se dizia que 800.000 portugueses são analfabetos.
É verdade. Há 800.000 analfabetos puros se não for o dobro.
Agora: há mais do triplo de analfabetos funcionais primários (lêm palavras soltas que não entendem) e há mais do sextuplo de analfabetos funcionais secundários (conseguem ler frases mas sem compreender o seu sentido).
Mesmo nas escolas hoje em dia se verifica que grande parte dos alunos que completam a escolaridade mínima obrigatória (9º ano) não conseguem interpretar correctamente o que lêem. E o Estado reconhece-lhes o nível académico mínimo.
Só podemos estar a brincar com o Ensino, mas mais grave: com o País.
É certo que em cada turma de 20 alunos aparecem sempre 2 ou 3 a quem é humanamente impossível ensinar seja o que for. Logo aqui estamos a falar de 10 a 15% de insucesso. Este assunto já foi abordado em posts anteriores sobre o Ensino.
Neste momento, é sabido que cerca de metade dos portugueses ou não lê ou lê mas não entende, o que vai dar rigorosamente no mesmo.
E estamos a falar de frases de sentido único, que encerrem em si uma única ideia básica.
Se estendermos a a

Á luz desta realidade evidente para todos quantos trabalham no ensino - porque contactam com alunos e com os respectivos encarregados de educação - ou em secretarias de atendimento ao público em que se preencham documentos e interpretem textos básicos (requerimentos, declarações, minutas) apetece perguntar:
- o que se tem feito aos milhões que têm anualmente ido para o ensino, já que estamos no top 20 dos gastadores mundiais com a Educação e no fim da tabela em aproveitamento escolar na Europa (e no topo em analfabetismo)?
- Se aqueles 800.000 analfabetos adultos se juntassem num partido único (PS ou PSD) conferir-lhe-iam ou não a maioria absoluta?
- Deve um político hábil passar uma manhã numa feira aos beijos às peixeiras ou é preferivel entregar-lhes documentação sobre as suas propostas explicando-lhes o seu manifesto eleitoral?

O problema dos analfabetismos primário e funcional só começa a ser resolvido quando quem manda na Educação perceber que «tanto custa ensinar bem, como ensinar mal. Mas, passados uns anos, ensinar mal fica extraordinariamente mais caro». José Hermano Saraiva.
- Para os deficientes (15% da população estudantil em cada turma) tem que haver escolas próprias e aulas ministradas por professores especializados cujos objectivos nada têm a ver com os dos professores que ensinam alunos normais.
Para os alunos normais tem que haver maior rigor no ensino e mais exigência por parte dos professores. O aluno "é obrigado a andar" ao ritmo que o professor estipula para ele e não o contrário. Nós, os professores, é que temos que puxar pelo aluno. Alguns ficam pelo caminho. Como em tudo, na vida. Mas os restantes, fazemos deles Bons alunos que não se envergonhem a eles nem a nós, no futuro.
Assim se combate o insucesso no ensino: "puxar" ao máximo pelos médios, desafiar em alta os bons e esquecer os maus. Ensinar o máximo a quem quer aprender! Conseguiremos subir as estatísticas e, mais importante do que isso: em vez de ensinarmos não mais que rudimentos a 20 porque só assim conseguimos com que os 3 piores acompanhem, ensinaremos tudo o que está no programa (e a té mais) a 17.nálise ao campo da literatura, bem: nem um décimo dos portugueses consegue ler uma prosa mais rebuscada ou entender um soneto.
Nem sequer um período mais longo como o próximo.

Sem comentários: