Ás vezes, em conversas com amigos, surgem pequenos "cliques" que me fazem ficar absolutamente boquiaberto e a pensar porque é que eu não relacionei isso antes.
Foi o que aconteceu ontem, quando, numa mesa de um bar em que estavam presentes 5 amigos meus, um me disse, a propósito da última mega-rusga, com toda a normalidade do mundo:
«- Ó pá: mas tu achas que aquele show-off todo dos cento e tal polícias se deveu a quê?
- Provavelmente ao facto de, apesar de o comando da GNR negar, a criminalidade ter aumentado ultimamente e os comandos superiores se terem tornado sensíveis a esta problemática. Não te esqueças que está em curso mais um mega-julgamento em que dezenas de jovens estão envolvidos, e os assaltos têm sido praticamente semanais na região. Pelo menos, foi essa a justificação dada à imprensa... respondi.
- Qual quê! Então tu, que te fartas de analisar isto e aquilo, não tens olhos na cara?
- Não estou a perceber... balbuciei
(sorriso geral)
- Então diz lá: de quem era a última loja que foi assaltada 6 dias antes da rusga?
- De «fulana», penso eu...
- Que é casada com quem? - pergunta em tom inquisitório.
- Acho que é com um Juiz... respondi naturalmente.
Fez-se silêncio na mesa. Tudo a olhar estaticamente para mim.
- Será possível? - perguntei indignado. Eu recuso-me a acreditar que as rusgas se façam por encomenda!
Mais silêncio e sorrisos comprometedores.
- É pá! Vamos lá a falar a sério, que com coisas sérias não se brinca! Voltei eu.
- Olha, rapazinho: lembras-te da última grande rusga que aconteceu em Seia, quando foi presa aquela gente toda no acampamento central?
- Claro!
- Em que a GNR só foi avisada quando estava tudo cercado?
- Sim, claro, por acaso até escrevi sobre isso na ultima edição do P.E.
- A gente leu. Por isso te perguntamos: recordas-te do incidente que aconteceu dias antes dessa mega-rusga?
- Recordo-me que houve uma sessão de tiros no acampamento cigano em que dois deles entraram no quarto dos filhos do Dr «fulano» (que morava no prédio em frente) e por pouco não atingiram as crianças.
- E o que é que se soube nessa altura? Que esse Dr foi de propósito fazer queixa formal aos altos comandos da GNR a Lisboa. "Mexeu por lá os seus cordelinhos" e não passou charuto a estes "bacanos" daqui.
- Sim, foi isso que se constou, de facto... aceitei.
- E passada apenas uma semana foi o que se viu. A rusga que cercou o acampamento onde se apanhou droga, armas e traficantes. Verdade ou mentira?
- Verdade - tive que reconhecer.
- Então faz as contas, compara e vê se não se trata da mesma coisa.»
Esta história simples serve para duas conclusões:
1º - Eu devo ser o único que continua a acreditar que se trata de meras coincidências. Caso contrário teríamos que aceitar que a actuação policial se faz a pedido de altas individualidades e isso eu ainda recuso liminarmente. Quero - e tenho que - acreditar que, embora este país esteja no limiar do subdesenvolvimento, apesar de todas as notícias sobre corrupção e compadrios no seio das forças da Ordem, elas ainda obedecerão a directrizes não encomendadas por doutores, ministros ou juízes que tenham sido lesados enquanto cidadãos. Não sei o que me leva a acreditar piamente nisto. Aceito que seja a minha ingenuidade.
2º - Mas não é isso o que o cidadão avisado pensa.
E aqui está o cancro social instalado.
Já ninguém acreditava que as centenas de controles de alcoolemia semanais, à saída dos bares, se façam a fim de prevenir acidentes, o que estaria correcto. É tido, infelizmente, como certo, que o único intuito que subjaz a esta caça diária é o de se obterem cada vez mais recursos para os cofres do estado.
Este senso comum é o resultado linear da actuação repetida ao longo dos últimos anos pela GNR de Seia que, ao que se ouve em toda a parte «não "baixa os braços" na luta contra o álcool, enquanto pouco se vê "levantá-los" na luta contra o crime».
Da mesma forma já pouco se acredita numa actuação "espontânea" de grandes proporções por parte da GNR. Não se crê em mega-operações que não sejam "motivadas" por pressões e pedidos pessoais de gente graúda, muito bem instalada socialmente e que terá sido, por azar, incomodada pela marginalidade.
Assim sendo, se os cidadãos interiorizam já este triste cenário, como pode o Estado exigir do cidadão a ética que ele próprio não faz transparecer?
É bem sabido que à mulher de César não basta ser séria.
A bem da Paz social, as Forças da Ordem além de o serem, têm também - e a cima de tudo - que parecer sérias.
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