A propósito da sua entrevista de hoje a um jornali diario, venho responder-lhe, tecendo algumas considerações que reputo de irrevogável pertinência.
Em primeiro lugar, enquanto filho de alguém que, por não ter telefonado previamente a nenhum médico conhecido (e tinha lá vários), foi alegre e eficazmente enviado desta para melhor, nos HUC, cumpre-me informá-lo que as agências funerárias do Interior são, neste momento, o negócio mais próspero destes territórios.
Como vê - e ao contrário do que diz - nem tudo é mau para todos e, por muito que lhe custe, com os leves incómodos de uns, vivem muito melhor os outros; e opostamente ao Sr Bastonário, há muito quem agradeça a sua súbita prosperidade ao nosso actual governo.
Mas aprofundemos o tema: de onde vem esta tão significativa retoma, inesperada por todos excepto pelo genial ministro Portas que há muito tinha antecipado esta grande reforma no panorama empresarial do Interior? Da inteligente e solidária decisão tomada por cada vez mais idosos que, nas suas aldeias despovoadas do interior, estão a decidir simplesmente deixar-se finar, silenciosa e pacatamente, sem incomodarem ninguém - tal como exigem as regras da boa educação.
Mas como há gente invejosa em todo o lado, é claro que os maledicentes do costume já se puseram em bicos de pés. Uns a criticar e outros a lançar a dúvida sobre tão Nobre gesto.
Há quem diga que os velhinhos batem a bota por falta de dinheiro para o táxi que os transportaria ao Hospital mais próximo. Muitas vezes a 30 kms de distância. 60 ida e volta. Mas é falso.
Hospitais do Interior - ou deverei chamar-lhes antes ULS? - que, por sua vez, também alegadamente, fazem diagnósticos que são invariavelmente contrariados (quando ainda há tempo para isso) nos Hospital Centrais seguintes. Outra falsidade.
Diz-se ainda que alguns idosos se queixam de não terem dinheiro para as deslocações, quanto mais para taxas moderadoras e tratamentos!... Nada mais demagógico.
Comecemos por aqui: para já, nem todos alegam isso. Os idosos comatosos e os mudos, por exemplo, não alegam tal.
Os outros, cá para mim, ou estão a esbanjar as reformas e as acções no Casino ou pior: nas casas de alterne. A verdade é que se queixam que andam sempre tesos e não se vislumbra, para isso, outra razão.
Dizem, as más línguas, que assistimos neste momento ao MAIOR GENOCÍDIO CONSENTIDO desde a Tuberculose nos anos 30/40. Outra falácia.
Lá porque o INEM se engana nas moradas em todos os casos que aparecem nas TVs e os Bombeiros nunca têm motoristas quando são chamados, isso não justifica que estejam a morrer mais idosos do que antes.
Quer dizer: estão de facto a morrer mais 3 mil por mês do que antes, mas isso tem sido bem explicado pelo sr director geral: deve-se ao frio que tem subitamente aparecido no Inverno e ao calor que inexplicavelmente nos tem visitado no verão. Ora, para piorar a situação, o inverno e o verão têm vindo a alternar-se desde 2011 - mas ainda no tempo do governo do eng Sócrates - o que justifica estas 3 mil baixas mensais. É sempre bom recordar os factos: este governo não pode ser acusado da alternância entre o Verão e Inverno. Trata-se de uma situação claramente herdada do governo anterior.
Portanto, só gente muito mazinha e mal intencionada poderá alguma vez estabelecer uma relação causa-efeito entre a falta de tratamento de um idoso doente e uma hipotética morte passadas umas semanas. Trata-se, como todos sabemos - e as estatíticas nunca mentem - de simples coincidências.
Assim sendo, vai perdoar-me mas quero dizer-lhe que é pouco simpático da sua parte que o sr Bastonário venha lançar alertas, como o que hoje se pode ler na 1ª página do mencionado jornali, dizendo que os hospitais estão a condenar à morte os pobrezinhos e patati patatá.
Ó sr Bastonário: mesmo que isso fosse verdade - e não haverá nunca quem o prove neste país, como bem saberá - uma pessoa de Bem NUNCA o diria. É politicamente incorrecto e muito deselegante da sua parte. Que diabo: o sr é um Bastonário! Uma Alta Figura do Estado. Não pode vir a público dizer essas coisas! Para Bastonário desbocado já não nos chegou o Marinho Pinto?
E os seus alertas, aliás, não vão produzir efeito prático algum, pois todos sabemos que tudo está bem como está. A superior Visão estratégica do sr ministro da Saúde é inabalável e incontornável: o que é preciso, na Saúde é:
- em primeiro lugar, cortar
- em segundo lugar, cortar o que não se cortou no procedimento anterior
- e então, por fim - mas apenas por fim - cortar o que falta.
Ora: se a passagem desta para melhor antes de tempo de umas centenazitas de milhares de idosos pobres EVENTUALMENTE ajudar a concretizar esta Doutrina, torna-se muito difícil, para quem tenha um mínimo de bom senso, não lhe dar as boas vindas.
É que, deste modo - e genialmente, faça-se justiça a P. Macedo - consegue atingir-se 3 objectivos:
1) Poupa-se nos subsídios aos medicamentos todos os dias;
2) poupa-se nas reformas todos os meses e
3) poupa-se no número de idosos, melhorando significativamente as negras estatísticas demográficas de forma rápida e eficiente.
É verdade que existem ainda alguns idosos que continuam irritantemente a recusar-se experimentar uma outra Vida: aquela que a Igreja nos ensina que existe após esta, que para tantos é tão enfadonha...
São justamente estes os que se recusam a sair da sua zona de conforto. Numa lamentável falta de curiosidade e de espírito de Aventura que só um péssimo feitio, próprio de gente muito insensível, como estes 2 milhões de idosos pobres, consegue ter. Por isso ficaram sempre pobres. Nunca arriscaram outras vivências.
Pois esta é altura de o fazerem. Não vale a pena pensarem em emigar, que já não têm idade para isso. Mas podem ficar ainda mais longe da vista. Aproveitando a conjuntura favorável a essa nova Experiência Única e adquirindo esta solidária Consciência de que estão a ser um pesado fardo para a já tão sacrificada Classe Política carregar.
Classe Política, a nossa, de quem todos temos um tão grande e profundo orgulho, e que tanto se esforça para distribuir por TODOS OS PORTUGUESES banqueiros os parcos recursos que a populaça ingratamente gera! E por isso é obrigada a pedir emprestado, de chapéu na mão, aos nossos vizinhos alemães sempre que, por exemplo, se vê obrigada a renovar in-extremiis a sua pobre e envergonhante frota automóvel apenas pela terceira vez em 3 longos e intermináveis anos de esforço e sacrifício pela Causa Pública.
Portanto, sr Bastonário: não venha com essas histórias dos pobrezinhos que são deixados sem assistência médica e mais não sei quê, porque olhe: não é por aí que incomoda o nosso grande ministro Paulo InMacedo. Porque ele é, felizmente, tudo IN: INcontornável, INcomodável e INabalável. Só não é INbecil.
E isso a que chama "genocídio" são apenas alguns pequenos precalços que a todos acontecem. Nada comparáveis, por exemplo, a um super-mega azar de ter um furo na estrada para Saint Tropez! Está a ver? Isso é que são problemas! Fica a fila parada toda a tarde com aquela gente péssima a buzinar-nos aos ouvidos!
Quer comparar ISTO à natural passagem de meia dúzia de velhinhos para outra Vida, que será
sempre melhor que esta?
É que ainda por cima não sei se já reparou que eles iriam morrer na mesma, mais tarde ou mais cedo. Por acaso já tinha pensado nisto?
Então, se eles passam a vida a queixar-se dos ossos e das cruzes e da ciática, para quê arrastar tanto sofrimento neste "vale de lágrimas"? O Estado português foi dos primeiros a abolir a tortura, valha-nos Deus!
Por último - e não querendo parecer economicista, como alguns maldosos chamam ao nosso grande INministro - já reparou que o que se poupa em medicamentos e nas reformas, em 10 anos, com APENAS 4 idosos, dá para comprar um Mercedes topo de gama NOVINHO em folha?
Então fique-se com esta, sr Bastonário. E, para a próxima, pense bem antes de dar entrevistas inconvenientes.
1 comentário:
Meu Caro, Sem palavras. Uma vez mais um brilhante texto, que mereceia ser lido na abertura de um telejornal.
PB
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