A barragem de Girabolhos será a machadada final na neve e o princípio do envenenamento da nossa água e do nosso ar.
Felizmente para Seia as acessibilidades tão exigidas por gente de vistas curtas nunca se implementaram. Senão, o nosso despovoamento seria o dobro. Já cá não estava ninguém como aconteceu com Mangualde, Celorico e Fornos. Assim que servidas por auto-estradas, morreram em 10 anos.
Mas agora uma nova e maior ameaça paira sobre a nossa região: uma ameaça mortal contra a Qualidade do nosso ar e da nossa água está a ser implementada por essa mesma gente de vistas curtas e ordenados compridos: a loucura pela construção rápida da barragem de Girabolhos.
Está hoje provado que a construção de barragens é um dos maiores crimes ambientais que se abate sobre toda a região circundante. Dependendo da dimensão do lago artificial que se cria, assim se produz dimensão do crime ambiental.
E este crime é, muito resumidamente, manifestado em vários âmbitos:
1 - Envenenamento do ar. O encharcamento de zonas florestais provoca a morte de plantas e animais que se decomporão no fundo do lago, libertando um dos gases mais prejudiciais à vida do planeta: o metano. O metano envenenará permanentemente o ar acima da água e espalhar-se-á por uma vasta região. Para além de ser 50 vezes mais perigoso que o dióxido de carbono no que se refere ao efeito de estufa, o metano é um gás que envenena toda a vida animal, incluindo a nossa.
2 - Fim da neve e início dos nevoeiros venenosos e de fortes geadas nocturnas. O aumento de humidade venenosa (metano) aumentará as temperaturas da região circundante impedindo, por exemplo, a queda de neve mas, paradoxalmente, de inverno, contribuindo para grandes geadas nocturnas que dizimarão muitas das culturas.
3 - Para a fauna piscícola é a verdadeira bomba atómica. A proliferação de predadores no mesmo espaço confinado com as presas mais frágeis, provocará a rápida extinção destas. Estudos internacionais apontam para a extinção de 90% das espécies em apenas 3 anos após os enchimentos.
4 - A perda de qualidade da água que se torna ácida e cria condições para reacções químicas que geram compostos com efeitos nocivos para o organismo tais como ácido sulfídrico, metano e metil-mercúrio.
5 - O brutal impacto biológico. Enquanto barreira física à migração de peixes e outros organismos. o fecho da barragem altera também radicalmente o equilíbrio biológico abaixo (a jusante) do obstáculo. Em Portugal não há estudos nenhuns sobre isto mas, no Brasil, onde eles se fizeram em grande quantidade e profundidade, as conclusões são verdadeiramente arrasadoras. A jusante da barragem e durante largos quilómetros a Vida animal extingue-se pura e simplesmente.
6 - A redução brutal de caudal a jusante. Justamente a causa do ponto anterior. Provocando a dizimação de todas as espécies abaixo até voltar a haver alguma água - por contribuição de ribeiras a jusante. Mas estamos a falar de dezenas de quilómetros até um pequeno rio se voltar a formar.
A água ficará retida até ao enchimento da barragem e mesmo depois de cheia o vazamento não é contínuo mas intermitente, acabando com as condições para a continuação da vida a jusante (abaixo da barragem). Semanas de caudal zero serão alternadas com as grandes descargas que varrerão tudo à sua passagem. A vida animal não tem condições para sobreviver num ambiente que de repente se torna apocalíptico para a maioria das espécies. Ou morrem por falta de oxigénio e de água durante meses ou morrem pelos arrastamentos pontuais das descargas brutais.
Muitos outras transformações radicais se operam com a implementação de barragens, que seria extenso particularizar aqui, mas das quais destaco: a retenção de sedimentos, alterações no ciclo hidrológico (mesmo depois da normalização), a qualidade da água no lago, a qualidade da água no rio e as alterações climáticas que um grande lago artificial subitamente impõe na região.
Esta loucura cega de conseguir empregos (maioritariamente de estrangeiros desenraizados e em situação de desepero com o consequente aumento de criminalidade) durante a construção; e a hipotética oportunidade para o turismo (que nunca se conseguiu implementar na principal porta de entrada Norte para a Serra da Estrela) está a fazer com que os decisores de vistas curtas dêem a machadada final nos únicos benefícios que tínhamos ainda nesta região: o ar, a água e a neve.
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