O 25 de Abril, 30 (des)an(im)os depois
Quem, de entre os heróis da Madrugada de 25 de Abril, poderia adivinhar naquilo em que se tornaria este país, 30 anos após a madrugada libertadora?
Quem, de entre a população que saiu às ruas naquela quarta-feira histórica, arrebatada pelo fim da longa noite fascista, poderia prever o desânimo que assolaria este país volvidas 3 décadas?
Façamos o balanço realista:
A primeira geração após o 25 de Abril foi absolutamente perdida para Portugal, a todos os níveis.
De quem é a culpa?
A culpa, segundo os analistas internacionais, tem sido apontada exclusivamente aos «governantes incompetentes e corruptos que Portugal tem tido a dirigi-lo desde 1974» (BBC, CNN, Pravda).
Quanto a mim, não só.
A culpa é também do laxismo do povo português, que continua a não cobrar da classe política a gigantesca corrupção de que está generalizadamente impregnada e a confrangedora incompetência que diariamente exibe.
Em qualquer outro país não seria possível a perpetuação de uma condição indigna de país da cauda da europa que entretanto pretende confundir o povo com mega-projectos que envolvem gigantescos assaltos ao Património de todos, enquanto o país agoniza num pantanal de converseta e inacção absolutamente deplorável.
Em Portugal, no entanto, tudo continua a ser possível.
1- Dez novos estádios de futebol do mais moderno no mundo, poderiam alguma vez ser construídos no país que descaradamente ostenta a maior taxa de analfabetismo, de abandono escolar, de SIDA e doenças contagiosas, de acidentes rodoviários, de alcoolismo, e aquele que tem a pior Saúde e a pior Justiça?
2- Submarinos e helicópteros de biliões de euros poderiam ser comprados enquanto não houvesse verba para lanchas rápidas, as únicas que podem interceptar os arrastões ilegais e as milhares de toneladas de droga que passam todos os dias nas nossas costas à frente do nariz das autoridades?
3- Alguma vez seria possível a um governo fazer exactamente o contrário do prometido em campanha eleitoral, em total e escarnecedor desprezo pelos milhões de cidadãos que nele acreditaram?
Alguma destas loucuras poderia ter sido levada a efeito sem que um povo esclarecido se revoltasse de imediato contra esse insulto à sua inteligência?
A legitimidade da indignação
Saramago defende a via da indignação pelo voto em branco, uma vez que esta bafienta classe política se auto-protege e se auto-perpetua no poder. Ninguém "sobe" dentro de um Partido convencional se não for suficientemente "esperto" (corruptor) e não concentrar em si suficientes "apoios" (tráfico de influências).
Mas se o voto em branco é protesto, ele não gera a solução.
A via inevitável é a da indignação popular pacífica, evidentemente, e não a da luta armada, embora todos os indicadores de decepção do povo português apontem para níveis perigosos de desestabilização social cujas consequências estamos longe de conseguir prever.
Se antigamente Portugal era pertença de 6 famílias, hoje é-o de outras 6 (algumas as mesmas) e a única coisa que verdadeiramente se ganhou foi a liberdade de expressão que me permite escrever isto.
Mas entretanto perderam-se 30 anos em que o país andou a passo de tartaruga cansada, enquanto os vizinhos correram como lebres, nunca parando - ao contrário da fábula - para descansar.
Só quem nunca saiu daqui é que não pasma com a esmagadora pequenez em mentalidade e procedimentos que nos opõe aos demais países europeus.
A desilusão político-económica popular
Achamos todos que já basta de corrupção, de compadrio e de incompetência por parte da classe que nos governou durante estes últimos 30 anos. Há, portanto, que obviamente demitir estes políticos o mais depressa possível, mas tal só se consegue com a indignação popular.
E acredito que ela venha aí. Porque o povo não consegue, hoje, aguentar a pressão bancária da qual se vitimou ao longo dos últimos anos.
Não há dinheiro para nada de supérfluo há vários meses e agora já nem para muito do que é absolutamente essencial.
Esta Páscoa, comercialmente, foi a mais triste de todas as de que há memória.
As pessoas não consomem; não têm dinheiro nenhum. Por isso andam acabrunhadas, tristes, deprimidas e desiludidas com a vida. Isso não traz nada de bom ao País.
As injustiças na Justiça - completamente descredibilizada aos olhos do povo - e o desleixo na Saúde - transformada em Serviço de Cunhas e Conhecimentos, SA - contribui para a desmoralização do português médio, que não tem posses para recorrer a Clínicas e Advogados de luxo.
O Ensino não funciona na medida em que não prepara os jovens absolutamente para nada a não ser para prosseguir estudos. Que, quase sempre, não são prosseguidos.
As escolas estão transformadas em fábricas de burocracia para quem lá trabalha e em armazéns de crianças que por ali deambulam sem projectos, sem crença no seu futuro, sem nada que as direccione e as anime para a vida.
Os impostos, esmagadores para um país pobre como o nosso, são pagos pelos funcionários por conta de outrem e pelas pequenas empresas, que mesmo assim fogem o que podem, para evitarem a falência. A Alta-Finança praticamente não os paga. Precisamente os que mais deviam, porque mais subsídios e benesses recebem do Estado anualmente.
Um futuro mais negro que o presente
Com a entrada dos novos países para a Europa das Nações seremos, rapidamente, ultrapassados por mais 10 países que nos “roubarão” os poucos recursos que ainda nos permitem conservar e os biliões em subsídios que continuámos a receber (e a nossa classe política tão eficazmente tem desbaratado) durante quase duas décadas.
De modo que, se o presente é cinzento, o futuro não se pode perspectivar com maior negrume para as gerações vindouras.
O que é urgente
É tarde, mas é urgente que se comece a cumprir Abril, para se evitar o cataclismo social muito mais sangrento, que se avizinha.
É muito tarde, mas é urgente o emergir de uma nova classe de pensadores políticos livres e portanto apartidários, totalmente descomprometidos com o materialismo e absolutamente desinteressados do poder pelo poder, que coloque Portugal à frente dos seu bolso, da sua família e da sua carreira pessoal.
É já muito tarde, mas é urgente acabar de vez com o cancro da corrupção que nos asfixia.
Um pontapé nas “jogadas” do Portuguesismo retrógrado
O primeiro passo para a saída deste pantanal político é a moralização da sociedade.
Não há saída para um Portugal corrupto sobrevivendo de economia paralela e de biscates. Portugal não é o Brasil. Não tem sequer a cultura da economia de bairro. Torna-se imperioso começarmos a reivindicar injustiças, apontar irregularidades, denunciar prevaricações, trazer à luz as pequenas e grandes “jogadas” que todos conhecemos, para que elas naturalmente se extingam. É o que eu denomino de mecanismo de auto-correcção social.
Que cada um denuncie uma “jogada” quando a vir. E este país começará, muito rapidamente, a auto-corrigir os seus vícios e iniquidades congénitas.
O passo seguinte já o expus: a substituição urgente desta classe polítqueira profissional por uma nova nata de cidadãos, livres de partidarites e de clubites, cuja sensatez e livre arbítrio substituam a lógica das negociatas e a submissão à Alta-Finança planetária.
Porque, apesar do atraso de mais estes 30 anos, a somar ao que já trazíamos da Europa em 74, acredito que ainda é possível cumprir Abril e salvar Portugal.
Quem, de entre os heróis da Madrugada de 25 de Abril, poderia adivinhar naquilo em que se tornaria este país, 30 anos após a madrugada libertadora?
Quem, de entre a população que saiu às ruas naquela quarta-feira histórica, arrebatada pelo fim da longa noite fascista, poderia prever o desânimo que assolaria este país volvidas 3 décadas?
Façamos o balanço realista:
A primeira geração após o 25 de Abril foi absolutamente perdida para Portugal, a todos os níveis.
De quem é a culpa?
A culpa, segundo os analistas internacionais, tem sido apontada exclusivamente aos «governantes incompetentes e corruptos que Portugal tem tido a dirigi-lo desde 1974» (BBC, CNN, Pravda).
Quanto a mim, não só.
A culpa é também do laxismo do povo português, que continua a não cobrar da classe política a gigantesca corrupção de que está generalizadamente impregnada e a confrangedora incompetência que diariamente exibe.
Em qualquer outro país não seria possível a perpetuação de uma condição indigna de país da cauda da europa que entretanto pretende confundir o povo com mega-projectos que envolvem gigantescos assaltos ao Património de todos, enquanto o país agoniza num pantanal de converseta e inacção absolutamente deplorável.
Em Portugal, no entanto, tudo continua a ser possível.
1- Dez novos estádios de futebol do mais moderno no mundo, poderiam alguma vez ser construídos no país que descaradamente ostenta a maior taxa de analfabetismo, de abandono escolar, de SIDA e doenças contagiosas, de acidentes rodoviários, de alcoolismo, e aquele que tem a pior Saúde e a pior Justiça?
2- Submarinos e helicópteros de biliões de euros poderiam ser comprados enquanto não houvesse verba para lanchas rápidas, as únicas que podem interceptar os arrastões ilegais e as milhares de toneladas de droga que passam todos os dias nas nossas costas à frente do nariz das autoridades?
3- Alguma vez seria possível a um governo fazer exactamente o contrário do prometido em campanha eleitoral, em total e escarnecedor desprezo pelos milhões de cidadãos que nele acreditaram?
Alguma destas loucuras poderia ter sido levada a efeito sem que um povo esclarecido se revoltasse de imediato contra esse insulto à sua inteligência?
A legitimidade da indignação
Saramago defende a via da indignação pelo voto em branco, uma vez que esta bafienta classe política se auto-protege e se auto-perpetua no poder. Ninguém "sobe" dentro de um Partido convencional se não for suficientemente "esperto" (corruptor) e não concentrar em si suficientes "apoios" (tráfico de influências).
Mas se o voto em branco é protesto, ele não gera a solução.
A via inevitável é a da indignação popular pacífica, evidentemente, e não a da luta armada, embora todos os indicadores de decepção do povo português apontem para níveis perigosos de desestabilização social cujas consequências estamos longe de conseguir prever.
Se antigamente Portugal era pertença de 6 famílias, hoje é-o de outras 6 (algumas as mesmas) e a única coisa que verdadeiramente se ganhou foi a liberdade de expressão que me permite escrever isto.
Mas entretanto perderam-se 30 anos em que o país andou a passo de tartaruga cansada, enquanto os vizinhos correram como lebres, nunca parando - ao contrário da fábula - para descansar.
Só quem nunca saiu daqui é que não pasma com a esmagadora pequenez em mentalidade e procedimentos que nos opõe aos demais países europeus.
A desilusão político-económica popular
Achamos todos que já basta de corrupção, de compadrio e de incompetência por parte da classe que nos governou durante estes últimos 30 anos. Há, portanto, que obviamente demitir estes políticos o mais depressa possível, mas tal só se consegue com a indignação popular.
E acredito que ela venha aí. Porque o povo não consegue, hoje, aguentar a pressão bancária da qual se vitimou ao longo dos últimos anos.
Não há dinheiro para nada de supérfluo há vários meses e agora já nem para muito do que é absolutamente essencial.
Esta Páscoa, comercialmente, foi a mais triste de todas as de que há memória.
As pessoas não consomem; não têm dinheiro nenhum. Por isso andam acabrunhadas, tristes, deprimidas e desiludidas com a vida. Isso não traz nada de bom ao País.
As injustiças na Justiça - completamente descredibilizada aos olhos do povo - e o desleixo na Saúde - transformada em Serviço de Cunhas e Conhecimentos, SA - contribui para a desmoralização do português médio, que não tem posses para recorrer a Clínicas e Advogados de luxo.
O Ensino não funciona na medida em que não prepara os jovens absolutamente para nada a não ser para prosseguir estudos. Que, quase sempre, não são prosseguidos.
As escolas estão transformadas em fábricas de burocracia para quem lá trabalha e em armazéns de crianças que por ali deambulam sem projectos, sem crença no seu futuro, sem nada que as direccione e as anime para a vida.
Os impostos, esmagadores para um país pobre como o nosso, são pagos pelos funcionários por conta de outrem e pelas pequenas empresas, que mesmo assim fogem o que podem, para evitarem a falência. A Alta-Finança praticamente não os paga. Precisamente os que mais deviam, porque mais subsídios e benesses recebem do Estado anualmente.
Um futuro mais negro que o presente
Com a entrada dos novos países para a Europa das Nações seremos, rapidamente, ultrapassados por mais 10 países que nos “roubarão” os poucos recursos que ainda nos permitem conservar e os biliões em subsídios que continuámos a receber (e a nossa classe política tão eficazmente tem desbaratado) durante quase duas décadas.
De modo que, se o presente é cinzento, o futuro não se pode perspectivar com maior negrume para as gerações vindouras.
O que é urgente
É tarde, mas é urgente que se comece a cumprir Abril, para se evitar o cataclismo social muito mais sangrento, que se avizinha.
É muito tarde, mas é urgente o emergir de uma nova classe de pensadores políticos livres e portanto apartidários, totalmente descomprometidos com o materialismo e absolutamente desinteressados do poder pelo poder, que coloque Portugal à frente dos seu bolso, da sua família e da sua carreira pessoal.
É já muito tarde, mas é urgente acabar de vez com o cancro da corrupção que nos asfixia.
Um pontapé nas “jogadas” do Portuguesismo retrógrado
O primeiro passo para a saída deste pantanal político é a moralização da sociedade.
Não há saída para um Portugal corrupto sobrevivendo de economia paralela e de biscates. Portugal não é o Brasil. Não tem sequer a cultura da economia de bairro. Torna-se imperioso começarmos a reivindicar injustiças, apontar irregularidades, denunciar prevaricações, trazer à luz as pequenas e grandes “jogadas” que todos conhecemos, para que elas naturalmente se extingam. É o que eu denomino de mecanismo de auto-correcção social.
Que cada um denuncie uma “jogada” quando a vir. E este país começará, muito rapidamente, a auto-corrigir os seus vícios e iniquidades congénitas.
O passo seguinte já o expus: a substituição urgente desta classe polítqueira profissional por uma nova nata de cidadãos, livres de partidarites e de clubites, cuja sensatez e livre arbítrio substituam a lógica das negociatas e a submissão à Alta-Finança planetária.
Porque, apesar do atraso de mais estes 30 anos, a somar ao que já trazíamos da Europa em 74, acredito que ainda é possível cumprir Abril e salvar Portugal.
Por: Joao Tilly
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