4.10.2013

o Neo-Liberalismo afoga Portugal



Paul Krugman diz que a Troika é sádica porque nada indica que os juros portugueses tenham alguma ligação com a sua austeridade.

 Mas a mim parece-me que isto nem é sadismo: é simplesmente a sofreguidão de se sacar tudo quanto há e o mais rapidamente possível, enquanto ainda houver. 
Porque o que não se sorver hoje poderá já não ser possível de ser sorvido amanhã. Pode já não haver o que sugar. 

A selvajaria capitalisto-liberal é isto mesmo. Sacar, sacar e sacar mais ainda. 
E assegurarmo-nos de que quando abandonarmos o moribundo ele já não terá mais pinga de sangue que alguém, depois de nós, possa ainda vir a sugar. 
Chama-se a isto resgate e "ajuda" internacional. Os requintes de malvadez ainda não pagam imposto.

Mas "ajuda" a Portugal, apenas. Porque aos outros - ao Chipre, à Grécia, à Irlanda - oferecem-se condições completamente diferentes. 
A Grécia vai no seu segundo resgate, foram-lhe já perdoados 75% do primeiro e não cumpre absolutamente nada do que foi acordado com a Troika. Ainda não nacionalizou uma única empresa. Todas as famílias continuam a ter direito a 14 ordenados mínimos (de 750 euros). 

Em Portugal há meio milhão de pessoas que, ao fim do mês, não recebem um único cêntimo de lado nenhum. Como é que o governo imagina que esta gente está a sobreviver? De economia paralela ou de roubar. Há mais aluma hipótese? 

O inacreditável é comparar os juros que o Chipre está a pagar - mesmo depois daquela sua tentativa de traição à europa - e os que nós estamos a pagar. Nós, os cordeirinhos. Os alunos obedientes. Os mansos. A verdade é que pagamos quase o dobro deles. 
Este ano pouparíamos 700 Milhões se pagássemos os mesmos juros que o Chipre, disse Seguro. Ninguém o desmentiu. 

Isto só acontece porque neste país ninguém se revolta nem ninguém se indigna a sério. Só no facebook. E nem sequer nenhum dos 400 mil comentadores televisivos menciona ao menos esta simples verdade: estamos a ser chulados. 

Não querem renegociar a dívida, porquê? Têm prazer em ver-nos a ser descaradamente roubados, se comparados com os nossos companheiros de infortúnio? 
Mas isso, para além de miserável, é um crime de lesa-pátria. Ou não?

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