6.25.2012



19 anos depois de Michael Jackson, em Alvalade, vi ontem a estrondosa máquina da tour MDNA, em Coimbra. A zona do estádio onde fiquei foi sensivelmente a mesma. De frente para o palco e, portanto, no topo oposto.

MJ Dangerous Tour vi com a minha filha mais velha e MDNA com a mais nova.


Ontem presenciei o espectáculo audiovisual mais estonteante e inimaginável que me foi dado ver.
E um som de uma qualidade inaudita. Debaixo da pala do estádio havia algum batimento e preponderancia de médios agudos (cerca dos 3.000hz) mas ao ar livre o som era equilibradíssimo.
Uma produção musical inacreditável.

E tudo isto numa nova filosofia de espectáculo.
Este é um espectáculo a 9 Dimensões: SOM (2D), multimedia (3D) uma cantora e dezenas de bailarinos e um palco físico a 3D (3D) e.... o TEMPO em que tudo se conjuga (1D)

A ISTO não se pode chamar espectáculo. ISTO ultrapassa completamente o conceito que existia como espectáculo.
Mesmo o mais extraordinário. E aqui estou à vontade para o dizer porque já vi o MÁXIMO que aconteceu neste planeta em termos de espectacularidade de concertos.
Quem poderia concorrer com ISTO teria sido Michael Jackson. Por isso o seu espectáculo se chamaria This is it!
É ISTO!

Ora ISTO é, de facto, uma EXPERIÊNCIA audiovisual completamente NOVA.
Nenhuma daquelas 40 mil (?) almas tinha visto nada parecido nem imaginava que tal pudesse existir.
Mas aquelas 40 mil (?) almas também não foram lá ver nem ouvir coisa nenhuma. Foram para dançar o like a virgin e o material girl. Correu-lhes mal. Os hits apareceram fundidos em medley com 10 segundos, no maximo, cada um e numa envolvência de produção musical inimaginável e... apenas em separadores!
O povo nem deu conta da maior parte deles. Porque quando identificava algum, a Casa vinha abaixo. Mas não se trata de debitar hits, nesta Tour. Trata-se de tudo menos disso.

A filosofia foi a oposta: dar ao público aquilo que ele não imaginaria que iria receber.

A abertura do evento foi aterradora. Uma gigantesca catedral multimedia "iluminava-se" e transformava-se em dezenas de símbolos de cariz religioso impossíveis de descrever.
E ao longo de todo o evento, não houve 5 segundos em que algo se mantivesse estático. Os 3 paineis gigantes de leds que constituiam todo o fundo deslizante do palco até ao tecto multiplicavam-se sincronizados com a informação audio. Não lhe chamo música porque a música é apenas uma componente. Tudo foi pós-produção audio. Os efeitos especiais audio - sempre presentes e sobrepondo-se à música - transportavam o espectador para uma outra dimensão muito para além da que a música pode transmitir. Poderiamos falar em 3D audio e nesse caso aumentaríamos o nr de dimensões do espectáculo para 10.

ISTO - esta galáxia de milhares de máquinas e sistemas digitais e mecânicos incríveis e sincronizados de imagem e audio a trabalhar em tempos paralelos, a que chamam Madonna - não pode ser ouvido, apenas.
Comprar um disco é um milésimo do conteúdo que os seus produtores e a actriz têm para mostrar.

Este espectáculo não está tipificado ainda.
Não tem nome.
Deve já haver 70.000 tipos a trabalhar num doutoramento com base nISTO.
Portanto eu tenho a mesma legitimidade para inventar um nome global para ISTO:
E passarei a chamar a isto - TLE
TLE - THIS Level Event.

E organizo, para mim, a seguinte hierarquia de espectáculos POP:

Nivel 1 - concerto de música. ex: Stevie Wonder, Genesis, Peter Gabriel, Police, Sting, Whitesnake, Supertramp, Djavan, Elis, MPB, grupos mediáticos actuais: grandes músicos e zero ou pouca palhaçada.

Nivel 2 - espectáculo. Música e fortíssima componente visual. ex. Pink Floyd, U2 - 360, Supertramp anos 78-80 e Kylie Minogue - Afrodite 2012.

Nível 3 - TLE - Michael Jackson "This is it project" e MDNA.
Presentemente existe apenas esta galáxia de sistemas a que chamam Madonna.

7 comentários:

Pedro disse...

Experiência inédita é assistir a um concerto outdoor de Jean Michel Jarre, em que vários quarteirões duma cidade são o palco, com fogos de artifício, lasers, holofotes, projectores, painéis gigantes de leds, Câmaras remotas voadoras, (estes 2 no Mónaco), marionetes gigantes, etc, etc

João Tilly disse...

Sim, mas em Jean Michel Jarre - com o devido respeito pelo músico - não estamos a falar de música. Estamos a falar de espectáculo cénico com cariz circense.
Fazer de conta que se toca em "teclados" com teclas de 1 palmo de largura não é sério...
Mas é também uma experiência visual inédita. Se ele produzisse música com um mínimo de qualidade audível poderia ser colocado ao nível TLE.
Assim, é apenas circo gigante.
Mas esta é uma opção como qualquer outra e o músico - porque ele é um músico a sério - optou por esta via visual conscientemente.
Tem o seu público.

Cagido disse...

Caro João Tilly, a crise não passa por si, pelo que vejo. Foi Rock in Rio Lisboa, agora Madonna.
Já não posso dizer o mesmo, fui ver André Sardet e Aurea na Feira da Vinha e do Vinho, aqui em Anadia, por 2.50€ cada bilhete. No próximo fim de semana temos Herman José e Carminho ao mesmo preço.
Ah! Hoje é dia de Quim Barreiros.
Já agora este ano realiza-se a FIAGRIS ou não? Ainda não vi nada referido nesse sentido, é que também tenho familiares diretos em Seia e Santiago, podia ser que ainda fosse até aí.

Pedro disse...

Há que ver que com tanta coisa a ocorrer ao mesmo tempo, muita pode correr mal -e correu em Londres '88 onde a chuva lhe estragou metade dos instrumentos, se não fosse algum playback, adeus concerto... mas mesmo entre os fãs dele o playback não é consensual, daí ele o ter abandonado hoje em dia, e daí algumas fífias proporcionadas pelos sintetizadores, no caso dos que têm quase 40 anos, logo já com 'personalidade própria'. O teclado que dá luz já não o usa há uns 15 anos.
E duvido que a Madonna nunca tenha feito playback, não que lhe tire crédito, tem músicas boas e é acima de tudo uma sobrevivente.

Jarre não é só 'a música do Space Shuttle' pela qual ficou mais conhecido, foi tb o 1º músico ocidental a tocar na China de Mao, e mais tarde a quebrar recordes com milhões a assistirem ao vivo.
Tem um álbum conceptual, Zoolook, feito com sampling e processamento de vozes em mais de 30 línguas em que estas são os próprios instrumentos, não é para qualquer um, parece caos ouvido da 1ª vez, mas não é.
Depois há as fases mais kraftwerkianas, ou mais progrock, mais electro-jazzísticas, etc.

Circo, só de for o Cirque du soleil :)

Cumprimentos

João Tilly disse...

Cagido: este ano não há Fiagris. Há a BTS - Bolsa de turismo de Seia de 27 a 29 de Julho. Uma feira vocacionada para promover o turismo na região. os bilhetes foram baratinhos. Stevie foi-me oferecido pelos meus filhos e Madonna custou 45 euros. Mas valia 10 x mais.

João Tilly disse...

Pedro: admito que não tenho seguido a carreira do Jarre. Desde Oxygene nunca mais ouvi nada. Fiquei com a ideia da palhaçada. Mas, enfim, posso estar enganado. Vou tentar perceber o que tem feito ultimamente. Obrigado

Pedro disse...

De nada :)
Também fez coisas más na década de '00, mas tem outras como Waiting For Cousteau, uma faixa de 45 min de puro Ambient aclamada pelos críticos e que dá coça a qualquer Brian Eno. Ele tem de tudo.

Cumprimentos