10.11.2005

Cada terra tem o que merece

Ao contrário do que se passou em todo o país, onde o PSD conquistou quase tudo, aqui a coisa virou-se exactamente ao contrário.
E, apesar de não ter tido hipóteses de implementar nem 5% do projecto de pré-campanha e campanha inicialmente traçado, interpreto a derrota clara de hoje como um óbvio falhanço da minha estratégia.
Ao PSD e a Nuno Vaz peço que me perdoem.
Fiz o que pude dentro dos condicionalismos e da elevação da qual não abdicámos.
Não sei movimentar-me no bas-fond da sociedade.
Não sou capaz de meter medo aos velhinhos nem ameaçá-los que o «outro lhes corta as reformas e os expulsa dos lares», como aconteceu um pouco por todo o lado.
Mas é isso que, em todo o concelho, dá votos.
Nesta eleição - aquela que já começa a ser chamada «a eleição dos coxos» -gente que mal se podia arrastar compareceu nas assembleias de votos por todo o lado.
Não por alegria, que a saúde há muito lho não permite, mas por medo de morrer à fome, sem reformas e abandonados num qualquer canto.


Contra isto, não há projectos nem ideias nem verdades que resistam.
Nunca esperámos que tal acontecesse. Fomos ingénuos a ponto de acreditar que a campanha eleitoral era um palco de debate de ideias.
Foi um palco de um filme de terror perpetrado contra os velhinhos que responderam em massa e por "obrigação" temendo pelas suas vidas.


Mais uma que se aprende.


Continuo a considerar que Nuno Vaz era o melhor candidato de que o PSD podia dispor neste momento. Não foi por causa dele que se perdeu.
A qualquer outro aconteceria o mesmo.
A desproporção dos números e a mobilização gigantesca que se gerou justamente para combater Nuno Vaz estão aí para o provar.


Mas estou convicto que a História de Seia, passada esta época de violenta desinformação e obscurantismo, se encarregará de o registar.





Aqui vai o resto do desabafo para quem quiser entrar um pouco mais neste tema:
Sempre acreditei que os senenses eram sensíveis à Verdade, como o são em quase todo o país. Esse foi o meu erro.
Em Seia, tal como em Felgueiras, por exemplo, a estratégia que funciona é a do obscurantismo, e não a da lógica ou a da verdade.
E essa estratégia não a domino eu. Nem a quero dominar.
Prefiro perder nas urnas e continuar a pertencer a uma grande minoria que usa a cabeça para mais alguma coisa que não seja apenas o pentear-se.
Prefiro manter-me manifestamente Minoritário.
E intelectualmente autónomo.

Mas lamento imenso que Seia não se digne dar uma única oportunidade ao PSD.
O Partido que ganhou em todo o país, e no distrito da Guarda, por esmagadora maioria.
A população do Distrito da Guarda, da Madeira, dos Açores, das maiores cidades do país aprenderam a dar valor ao dinamismo e à criatividade.
Mas Seia continua a não querer experimentar coisas novas.
O caciquismo de Seia prefere manter o rumo - que a tem levado à desertificação, à perda das Indústrias e do Turismo. E aos rios de esgoto a céu aberto por todo o lado.


Numa mobilização histórica, desta vez só o cão e o gato não vieram votar.
Muitos a arrastarem-se sem fazerem a mínima ideia de onde estavam, carregados literalmente para as urnas, na fase final das suas vidas vegetativas.
Uma indignidade e um horror que só a quem a ele assistiu durante todo o dia de hoje pode avaliar.
Daqui a 4 anos, dezenas destes velhinhos moribundos terão já falecido.
Mas haverá outros mais, muitos mais, cada vez mais velhinhos com AVCs a chorar por não poderem sequer falar, e a serem conduzidos por quem os dominar na altura, para as secções de voto.
Resta-me a consolação de imaginar que àqueles que hoje arrastam os velhinhos para as cabines, e por eles votam, daqui a 30 anos também alguém lhes fará o mesmo.


É que o sistema obscurantista é ciclico e auto-alimenta-se sempre dos antigos predadores.


Ao PSD e a Nuno Vaz peço que perdoem a minha (errada) estratégia na abordagem destas eleições.
Deviamos ter descido ao nível dos esgotos a céu aberto. Do arranque das tarjas, das ameaças, do pintar as suas caras de preto, tal como nos fizeram a nós.
Era, provavelmente, a estratégia apropriada para o tipo de eleitorado a que nos dirigíamos.

Mas eu não seria capaz de o fazer.

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