12.14.2003

Postais ao ministro estão antecipados

Estarão a ser enviados, a partir de Seia, milhares de postais de boas-festas ao ministro da Saúde exigindo um novo hospital. Na mesma semana em que um novo Conselho de Administração foi nomeado para gerir os seus destinos. Não deixando de constituir uma (pretensa) forma de pressão respeitável, como qualquer outra, pessoalmente desconfio sempre de iniciativas pseudo-mediáticas como esta.

Em primeiro lugar porque se trata de uma missiva à qual se pretende dar um cunho pessoal mas que é, de facto, completamente organizada. Os munícipes não tiveram - nunca teriam - por si próprios esta iniciativa, pelo que a sua carga emocional esmorece à partida. O ministro bem sabe quem mandou imprimir os postais, de modo que receber 15.000 ou 10, é indiferente. Estamos apenas a enganar-nos a nós próprios, se pensamos que esse lobbying (estratégia de pressão) surte algum efeito. Depois, e talvez o mais importante, porque este tipo de iniciativas gera imediatamente anti-corpos de sinal contrário, já que ela é apenas e exclusivamente dirigida a ESTE governo e a ESTE ministro, como se o problema do hospital fosse da sua exclusiva responsabilidade. Nesse aspecto é, até, injusta. O problema do hospital arrasta-se há mais de uma década, foi despoleado ainda no tempo do governo de Cavaco Silva e durante o mandado de Leonor Beleza. Foi depois Arlindo de Carvalho, o ministro que a substituiu, pelos motivos que todos conhecemos, quem aprovou e despachou os melhoramentos (novas obras e novas valências) para o novo Hospital (ex-Hospital da Misericórdia) em 1990. Aquando da consequente passagem a Hospital distrital de classe 1, foram-lhe conferidas essas novas valências e especialidades. Foram simultaneamente aprovadas obras de expansão para o edifício novo que acabaram por não se efectuar por motivos não totalmente esclarecidos, mas aos quais não serão totalmente alheios a derrota do PSD nas eleições seguintes e a relutância dos responsáveis locais, que exigiam a construção de um novo hospital, rejeitando liminarmente a remodelação do existente.
A verdade é que, mais de 10 anos volvidos não temos uma coisa nem outra. O governo PS que lhe sucedeu teve seis anos e meio para construir um novo hospital, ou pelo menos para remodelar este. Se nada se fez desde o tempo de Arlindo de Carvalho a culpa é, também, de todos aqueles que lhe sucederam: Maria de Belém e Manuela Arcanjo, incluí­das. É imperativo que se continue a lutar pelo novo Hospital, mas que se não caia no facilitismo primário de deitar cegamente as culpas para cima dos outros, porque os "outros", demasiadas vezes em Portugal, "somos nós". E é igualmente útil não esquecer que a História, amiúde distorcida e desvalorizada por conveniencias conjunturais, acaba sempre por sintonizar-se na verdade dos factos, com uma velocidade que não permite a manutenção da falácia por mais do que uma geração.
Pensem os senenses nisto, e talvez concordem que os postais, atendendo ao historial de todo este processo, se revestiriam de muito maior sagacidade e surtiriam efeito de superior dimensão se fossem enviados na próxima quadra festiva, daqui a 2 meses...

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