6.09.2013

Seia - terra de guitarristas

Seia está a tornar-se definitivamente terra de guitarristas.
Depois de um período de 30 anos em que praticamente nada aconteceu no panorama pop / rock, Seia vê surgir um grupo de jovens que podem ser considerados guitarristas em qualquer parte do mundo.

 

A 1ª MMMS veio confirmar o que já se tinha verificado na 1ª Gala de Talentos inserida na BTS 2012.
Está a afirmar-se um grupo de músicos, especialmente guitarristas, alguns deles surpreendentemente muito jovens mas que podem já fazer parte de praticamente qualquer banda de média ou grande dimensão no país.

E surpreendentemente, porque desde os anos 80 não se viam guitarristas - ou outros músicos - acima da média, por aqui. O último grande guitarrista que pisou estas paragens terá sido o moçambicano Mário (Melgas) trágica e precocemente desaparecido em finais da década.

Durante todo este tempo em Seia não houve praticamente nada excepto uma tentativa pop - os Longa Metragem - que não vingou. Recordo por exemplo o "barco de papel" que poderia ter ido longe com um bom produtor. O meu irmão produziu em 2002 essa canção (porque é duma canção que se trata) e que de imediato ganhou uma outra dimensão. Tenho-a em meu poder mas não estou autorizado a publicá-la.

Curi não desistiu e viria a constituir os Curimakers, um grupo funk que faz o seu percurso dentro dessa área que, em Portugal, não tem investidores. Sobre esse assunto ele já lá tem a minha opinião e as razões pelas quais eu não acredito que o projecto - tal como se tem apresentado - vingue. Mas esse é outro assunto. O assunto da filosofia do produto e do caminho que se segue.

E também do público e dos média e das play-lists e das políticas editoriais e da "indústria" da música que em Portugal não há.

Mas voltemos à história: nos inicios dos anos 80, a anterior geração de músicos jovens tinha-se retirado de cena. O super baterista Gilinho; o talentoso e poli valente Zé Augusto; eu próprio que, com o meu irmão e o João Nogueira gravámos um LP na Metro-som - e até hoje o único financiado por uma editora - que não teve prensagem nem divulgação capaz. Cada um de nós foi à sua vida embora alguns se tivessem mantido na àrea da música profissionalmente.

E de repente, quando já ninguém o esperava, começam a aparecer grupos, em 2009 e 2010. Jovens que se reuniam nas caves e nas casas de alguns deles. Para insipientemente começarem a tentar tocar coisas pesadas. Deep Purple, Guns&Roses, Led Zeppelin. E assim se terá iniciado este novo movimento de grupos e, acima de tudo, de guitarristas.

Caso Raro
Ontem, os que se deslocaram ao CineTeatro puderam ouvir um promissor guitarrista de 15 anos, já com alguns apontamentos muito "pro"- Tiago Oliveira, inserido no Grupo Caso Raro. Ressalvando uma ou outra fragilidade, fruto da sua tenra idade, Tiago pode tornar-se um caso sério na guitarra. Domina já bastante bem a pedaleira e o overdrive (distorção) e brindou-nos com 3 ou 4 momentos muito acima da média.


Sara Gouveia e João B. Ferreira
Eclipss
Acoustic Mith
Antes, tínhamos ouvido um tema ao piano de Tó Zé Novais - "Passeio". Um tema de forte componente jazzística, começando por lembrar Brubek mas evoluindo depois para uma atmosfera Pat Metheniana, mais evoluída, ao seu estilo, com uma qualidade bastante boa.
David Fidalgo

E um dueto constituído por João Bernardes Ferreira - guitarra e piano (este em play-back) e Sara Gouveia - voz - num tema experimentalista e algo "duro" para ser ouvido apenas uma vez. Não tenho fotos porque estava cá atrás na zona do controle de som.
Os jovens (14 - 16 anos) entrosaram-se perfeitamente. Sara é possuidora de uma voz cheia de smooth em registos intimistas mas a que não falta corpo e potência quando é preciso. João é um guitarrista em iniciação com forte influência clean - jazzistica, bem longe do satrianismo dos demais guitarristas, como veremos.

Os Eclipss carregam para o palco duas peças de artilharia pesada: o baterista Danny Dias e o guitarrista Rui Miguel Silva. Simplesmente não há nada comparável em bandas amadoras em toda a região. Se estes 2 músicos não saltarem rapidamente para bandas de "peso" será porque não querem.
Estes 2 músicos não têm nada a ver com a gama normal dos músicos amadores da região. Com enfoque no guitarrista Rui Miguel ao qual reconheci uma evolução notável relativamente à sua performance de há um ano. Os restantes elementos cumprem bem mas estes 2 jogam evidentemente noutro campeonato. Falta-lhes apenas a "mercadoria" que é o mais difícil: produto que entre no ouvido... mas esse é o maior problema da Indústria. A última - "Rei por um dia" -  constituiria já uma base de trabalho para um produtor que se interessasse pela banda.

David Fidalgo trouxe-nos um projecto - Acoustic Mith - constituído por 3 guitarristas um baixista e um baterista ausente. Guitarras electro-acústicas. Não se percebeu porquê já que o tipo de intervenção e de registo foram tipicamente heavy.
David e Cláudio Varão (vencedor da gala de talentos 2012) são mais 2 super-guitarristas embora neste trecho não o tenham mostrado. Não seria essa a intenção.

Todos os participantes
A seguir David dá um arzinho da sua graça com o tema "Nas Núvens" com playback de orquestra.
Sobre este momento apenas 3 palavras: David Satriani Fidalgo.

A bem dizer, tanto os guitarristas David Fidalgo, Cláudio Varão e Rui Miguel - como ontem também o jovem Tiago Oliveira - se movem bem neste Satrianismo guitarrístico.

Quanto a David, eu sei que tem também outras praias; falta saber como se comportam os heavy metalists guitarristas de Seia (e VN Tazem) noutras áreas das 6 cordas que estão já a ser exploradas por João Bernardo Ferreira.

Para já o caminho está a ser percorrido e estão todos de parabéns.





2 comentários:

Damarofi disse...

Este novo projecto, Acoustic Myth, não vai ficar pelo "heavy", e ja estão a ser gravados outros temas que não o heavy!
Para mim a sua opinião é construtiva, embora muitos digam o contrario! Quero deixar os meus à parabéns a Sara Gouveia e João B. Ferreira, que para mim foi o momento mais alto da noite!!!
Obrigado

João Tilly disse...

Só quem não souber ler poderá considerar que a minha crítica não é construtiva. Mas há tantos que não sabem ler nem querem aprender... tantos...