"Os holandeses" compraram o Hotel de Gouveia e estão a comprar o que resta da Estalagem de Seia ao sr Luis Camelo. Até aqui, está correcto.
Se os americanos compram ilhas nas Maldivas; os franceses, praias no Brasil; os espanhóis, montes no Alentejo; os lisboetas, casas nas aldeias; é mais que coerente que os holandeses comprem estalagens quase devolutas em Seia ou noutro canto qualquer.
E no que concerne ao turismo da região e na nossa cidade em particular, tal negócio só pode ser considerado como bastante positivo, dado o estado de letargia a que aquela unidade hoteleira chegou.
O que é mais preocupante é que ainda ninguém sabe quem são "os holandeses". Não serão 50 milhões deles, presume-se.
"Os holandeses" é uma expressão idiota do tipo "os americanos" que prevêm o tempo que fará nas próximas décadas ou "os portugueses" da TVI que expulsam um cromo qualquer nortenho da casa de Vale do Pinheiro.
Portanto "os holandeses", com sede num qualquer paraíso fiscal, são invariavelmente representados por alguém em Portugal, sócio ou não, testa-de-ferro ou não, desde que a sua presença seja o suficiente para ofuscar quem está por detrás do negócio.
Mas o que me intriga mais ainda nem são os holandeses.
É que há menos de 2 meses foi feita uma outra oferta por um empreendimento turístico em Seia da ordem dos 550 mil contos, dinheiro na mesa, e o comprador não era nenhum holandês.
Trata-se de um habitante de Sta Marinha, que há apenas 10 anos atrás era um vulgar cidadão, da classe média-baixa, e porventura até algo abaixo da mediania do modus-vivendi senense.
E eu tenho cá a minha ideia que será mais plausível que uma proposta destas, dada a coincidência temporal, não tenha vindo de terras tão longínquas como as dos Países Baixos.
Provavelmente, e isso veio claramente a lume no recente caso do Totta, há aqui em Seia gente com muitos milhões no bolso - e que declara, evidentemente, o ordenado mínimo - que pode muito bem investir onde quiser.
De onde lhes vieram esses milhões? Não se sabe.
As Finanças parece também não estarem muito preocupadas com isso. Perseguem implacavelmente o cidadão que não pagou 200 contos e parece passarem ao lado de tudo o que for da ordem das dezenas e das centenas de milhares. Veja-se o caso do Benfica, da Lanalgo, da UGT, da Partex. Só nestes 4 exemplos, segundo autores como a procuradora Maria José Morgado (que ainda ninguém desmentiu), deixaram de entrar dezenas de milhões de contos nos cofres do Estado.
Foi tudo arquivado, pelo Arquivador-Mor da Nação.
Arquivem-se então definitivamente todas as inspecções aos negócios acima do meio milhão de contos para que haja, ao menos, coerência.
Nos EUA, Espanha, Inglaterra ou em qualquer outro país civilizado, se alguém viesse publicamente dizer que construiu uma obra de centenas de milhares de contos sem recurso à banca, ou que perdeu 400 mil contos numa falsa operação off-shore, teria às costas, no mesmo dia, uma rigorosa inspecção do IRS.
Em Portugal, assobia-se e olha-se para o lado.
E depois obrigam-se os desgraçados dos funcionários por conta de outrem - os únicos que o Estado ainda controla - a repor os milhões que faltam nos cofres, resultado destas imensas operações de colarinho branco.
O Estado, enquanto assim proceder, está a cometer um crime ainda mais grave do que aqueles pequenos empresários que fogem ao fisco, muitas vezes para poderem pagar os ordenados e subsídios aos seus funcionários e, por isso, não tem nenhuma autoridade moral para cobrar impostos aos cidadãos mais humildes e desprotegidos.
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