8.04.2012

Perceber o que é Portugal


Eu acho um piadão aos 10% de portugueses minimamente lúcidos que ainda existem e por isso se indignam diariamente no facebook  e nos blogues contra o que se passa neste rectângulo.

Agora exigem eleições...
Então para quê?

Com 3 em cada 4 eleitores analfabetos funcionais o que esperam que mude?
Se 9 em cada 10 portugueses não imagina sequer quais são as atribuições da Assembleia da República e muito menos que ESTÁ A VOTAR numa lista de candidatos a deputados (que nem sequer conhece), o que esperam que se altere?
Se 9 em cada 10 poortugueses está realmente a votar apenas no Coelho ou no Seguro, para que querem mais eleições?

Este povo português está 50 anos atrasado em relação aos seus vizinhos que, por sua vez, estão mais 25 anos atrasados em relação aos europeus do norte. Por isso não está - nem nunca esteve - preparado para democracia nenhuma. Talvez daqui a uns 30 ou 50 anos quando a minha geração e a anterior já cá não estiverem. Mas antes não, porque simplesmente não sabe o que está a fazer.

Precisa de Escolaridade, de Conhecimento, de aprender o que é o mundo, primeiro.
Até lá, a direito de voto neste país deveria ser LIMITADO a quem desse provas de ter consciência do que está a fazer quando vota. Se não, é o mesmo que termos 4 milhões de criancinhas de 5 anos a votar e a decidir o futuro de um país que nem imaginam que existe.

A democracia está inquinada quando 90% dos eleitores não sabe sequer para QUE ÓRGÃO de SOBERANIA está a votar. Soberania essa que, aliás, já não existe, em Portugal, uma vez que esta ex-nação soberana capitulou em favor da governança externa da Troika em 2011.

Até lá, até daqui a 30 ou 50 anos, tudo o que este país pode almejar é a ser governado por estrangeiros já que a versão do ditador feroz e da junta militar implacável à anos 60 parece definitivamente arredada.

Mas a verdade é que - pelo menos no interior profundo - essa (década de 60) é a época na qual a maioria do povo se encontra idiosincraticamente enquadrada e de onde intelectualmente nunca saiu.

Isto é politicamente do mais incorrecto que se pode escrever, bem o sei. Mas é a inquestionável realidade.

Aquilo que impede o progresso e o desenvolvimento de Portugal não é a classe política mais corrupta da europa. Não.
O que nos impede de progredirmos somos nós. É a maioria do povo português - resultado de décadas de estupidificação televisiva e futeboleira, deixado analfabeto funcional pelo sistema político e por ele obscurantizado há 100 anos.
Um povo que, hoje, em 2012, é inacreditavelmente ignorante seja qual for o prisma por onde se olhe, resultado lógico de todo esse processo de obscurantização e de alienação permanente e consecutiva ao longo de 10 décadas, apenas com um fortuito intervalo de 2 anos em 1974-1975.
Um povo intelectualmente abafado e mantido sob um pesado manto negro de obscurantismo religioso, no terreno e - pela falta de Escolaridade e de espírito crítico - sujeito há décadas a um processo diário e implacável de estupidificação televisiva noveleiro-futebolística.

Um povo que, como resultado destes 2 longos processos simultâneos, na sua grande maioria ainda resulta intrinsecamente mais corrupto do que a própria classe política de que se queixa e contra a qual os mais lúcidos se indignam.

Por isso não se consegue revoltar contra as variadas e criativas indignidades a que diariamente é sujeito pela classe política corrupta que, ano após ano, imbecilmente elege.
Até porque, no fundo, o povo bem o sabe - como se ouve dizer por todo o lado -  que "se lá estivesse também se abotoava como os que lá estão".

É isto Portugal. Quem não perceber isto não consegue entender por que chegámos a esta vergonhosa capitulação nacional perante os estrangeiros aceite / ignorada por todos.

Foi contra uma indignidade MUITO INFERIOR à que vivemos hoje - o ultimatum inglês - que Alfredo Keil escreveu a Portugueza. Mais tarde, já na República, adoptada como Hino Nacional.


Mas espera lá. Eu estou aqui a escrever para quem?
Em 100 portugueses quantos sabem do que eu estou a falar?

Lá está.
Boas férias.

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