12.28.2003

Figurantes portugueses em Angola: a tragédia, o drama, o horror...


O Mega-casamento da filha de Eduardo dos Santos não pode deixar de causar em qualquer cidadão livre uma reacção de revolta de proporções planetárias.
Não pelo rapazinho que escolheu, coitado, nem pelos convidados que se viram obrigados a estar presentes.
Também não pela dívida externa do país que nunca a pagará nem a amortizará sequer - pelo menos a Portugal.
O que impressiona é o facto de todos os hoteis de 5 estrelas, mais os de 4 e os de 3 terem ficado totalmente reservados durante os 15 dias que rodearam o evento, por ordem do presidente, para os seus convidados.
O que indigna é que com o custo de um simples casamento podiam ter-se construído dezenas de escolas e centros de saúde para um dos povos mais sacrificados do continente africano.
Nisso, devo reconhecê-lo, os nossos povos têm a curiosa sina de serem, desgraçadamente, irmãos.
Aqui é a inacreditável futebolice que consome todas as verbas subtraídas dos nossos impostos à Saúde, ao Ensino e à Justiça.
Lá, os casamentos e os luxos desmedidos no dia a dia daquela família Real.
Portugal tornou-se historicamente cúmplice deste Presidente e deste regime ditatorial quando, pela mão de Murteira Nabo, a PT pagou 15 milhões de contos por 50% de uma licença monopolista de exploração da futura rede celular de Angola. 15 milhões por metade de um registo na Conservatória de Luanda que tinha custado... 5 contos.
Com esses milhões, Eduardo dos Santos comprou tecnologia de rasteio de comunicações telefónicas via satélite, que lhe permitiu, entre outras vantagens estratégico-militares, apanhar Savimbi no meio da selva.
Foram os portugueses, com os seus impostos, pela mão da PT, que entregaram Savimbi nas mãos de Eduardo dos Santos. Historicamente correcto? Historicamente errado? O fim da guerra, pelo menos teoricamente, teria sido o primeiro passo para a reconstrução da nação Angolana e até eu, que odeio ditadores, considerei que o sacrifício de Savimbi, se tivesse servido para colocar um ponto final à guerra fratricida, não teria sido um preço exageradamente elevado a pagar (que me perdoe a família por esta gélida afirmação. Nada pessoal, claro).
A verdade é que a oportunidade do fim da guerra não tem sido aproveitada por este senhor ditador presidente.
O país continua irreconhecível, mais subdesenvolvido que nunca. O ensino e a saúde praticamente não existem por todo o país e as únicas manifestações culturais, científicas, sociais que por lá se vêem... é isto.
Um mega casamento de milhões.
Durão não podia faltar, embora a sua missão não fosse exactamente a de renegociar a dívida externa ao nosso país que, a ser paga, de imediato faria rasgar o mais amplo sorriso à taciturna máscara da Ferreira Leite.
Os palhaços de serviço da SIC e da Caras também não.
Quando é que Portugal parará para pensar nas suas continuadas participações, ao mais alto nível, nestas indignas palhaçadas que envergonham, pela conjuntura de que se revestem, toda a Humanidade?